JMJ em Portugal? Uma quake new

Artigo do Padre José Rafael Espírito Santo, vigário regional do Opus Dei em Portugal, publicado hoje no Diário de Notícias.

Apesar de ser um segredo já anunciado, ouvir o Papa a apontar para Lisboa as próximas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) é uma espécie de terramoto.

É uma notícia boa, mesmo muito boa. Parabéns ao patriarca de Lisboa por ter arriscado corajosamente. E parabéns às autoridades por terem visão grande e fé no futuro.

Por todo o país, muitas pessoas - os cristãos, também outros crentes e até não crentes, dos mais jovens aos mais velhos - ficaram muito contentes. Eu partilho esse entusiasmo. Acredito que será uma festa de todos e em benefício de todos, sem exclusões. E desejo que todos ajudem nesta festa.

As JMJ são um enigma: como entender que tantos - milhões! - de jovens se sintam atraídos por ouvir um Papa, muito mais velho do que eles, a falar de uma fé que alguns acham que já está fora de prazo?

Talvez um rapaz ou uma rapariga jovem tenham mais sensibilidade para o que é genuíno, maior desejo do que é autêntico, mais disponibilidade para partilhar a vida e a experiência dos outros, um sonho maior de tornar a própria vida um sinal "mais" que deixe marca.

Os jovens fascinam-se por muitas coisas, nem sempre ligadas entre si. No meio dos estudos, da diversão, dos shots, do Instagram, do Fortnite, das selfies, dos piercings, das tatuagens, do voluntariado, da festa, dos concertos, dos youtubers, está sempre presente o desejo de que haja alguém que se alegre com o que os alegra, se entristeça com o que os deixa tristes, os console quando erram, os perdoe quando se arrependem, os anime quando se deprimem, partilhe sonhos e desafios. Alguém que, para além de tudo, lhes possa sempre dizer: "É mesmo bom que tu existas!"

As JMJ são um ótimo lugar para encontrar esse Alguém.

Deus, através da Igreja apesar de tudo, continua a fascinar os jovens. Não um deus qualquer, mas aquele Deus que saiu do anonimato e da distância: falou de diversas maneiras ao longo da história, e, finalmente, tirou o véu todo quando se fez um improvável artesão da Palestina, disse ser Deus, foi morto, e ressuscitou por um poder próprio. E, incrível, vem ao nosso encontro hoje, convida-nos a ser seus Amigos (não virtuais: na vida real do dia-a-dia), e chama cada um pelo seu nome próprio.

Esse é o vento fresco que vem da juventude, e é preciso que sopre nesta nossa Europa céptica e cínica. Fernando Pessoa, pelo heterónimo mais parecido a si mesmo, fez um duro retrato da realidade dura da sua época, que é ainda a nossa época: "Pertenço a uma geração que herdou a descrença na fé cristã e que criou em si uma descrença em todas as outras fés. (...) Ficámos, pois, cada um entregue a si próprio, na desolação de se sentir viver. Um barco parece ser um objecto cujo fim é navegar; mas o seu fim não é navegar, senão chegar a um porto. Nós encontrámo-nos navegando, sem a ideia do porto a que nos deveríamos acolher."

Os jovens querem mais do que um caminho sem destino. O ponto de chegada é claro e o Papa apontou-o nestas jornadas do Panamá fazendo suas estas palavras: "O cristianismo não é um conjunto de verdades para se acreditar, nem de leis para se observar nem de proibições. O cristianismo, visto assim, seria muito repugnante. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto, que deseja e pede o meu amor. O cristianismo é Cristo."

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