Homens e mulheres humildes

"Para cumprir o dever divino, pensai-o bem" - escreve o Beato Álvaro del Portillo ao comentar a cena da Visitação da Virgem a sua prima Santa Isabel " - as nossas limitações não representam um obstáculo, o Senhor conta com elas; basta a humildade, porque Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes ".

Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. (Lucas 1, 39). Ela compreendeu a sua vocação e move-se com confiança nos planos divinos. Visita a sua prima Santa Isabel e ouve dos seus lábios o louvor de sua fé: Feliz de ti que acreditaste (Lc 1,45). A fé da Virgem manifestou-sena perfeita entrega aos desígnios de Deus; e por isso mesmo é proclamada bem-aventurada, feliz. A fidelidade apoia-se sempre na fides, na fé, e só se quebra quando a fé enfraquece.

(...) Recebemos uma chamada de Deus; uma luz que nos levou a ver o que significa para nós a vocação cristã no meio do mundo. Como o apóstolo S. João, estamos em condições de afirmar que conhecemos e cremos no amor que Deus (1 João 4, 16. Cf. João 6, 69; 17, 8). A fidelidade a essa escolha divina exige que vivamos da fé, sem nos determos ou desculpar com lógicas humanas, para que seja realmente possível afirmar de cada uma e dada um: bem-aventurada, bem-aventurado és tu porque acreditaste.

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Santa Isabel tinha saudado a Virgem: Feliz de ti que acreditaste, e a nossa Mãe atribui tudo a Deus: Maria disse, então:«A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome».
(Lc 1, 46-49). A medida da sua fé é sua humildade sem medida. Aprendamos com Nossa Senhora. Se realmente desejamos que o Mestre divino aumente a nossa fé, sejamos humildes. Reconheçamos a nossa pequenez dia a dia, com obras, desaparecendo, calcando até as mais leves rebeliões do eu, e então poderemos ser fiéis. (…)

Para cumprir o dever divino, pensai-o bem, as nossas limitações não representam um obstáculo, o Senhor conta com elas; basta a humildade, porque Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes (1 Pe 5,5). Se, em alguma circunstância, achas que te faltam forças ou qualidades, não esqueças que Deus sabe disso e que te chamou e te criou - te amou e te ama! - assim. Irmãos, pensai no que éreis quando fostes chamados por Deus. - escreve S. Paulo aos coríntios -: Do ponto de vista humano não eram muitos os sábios, os poderosos ou os da alta sociedade. Pelo contrário, Deus escolheu aqueles que os homens tinham por ignorantes para envergonhar os sábios e aqueles que os homens tinham por fracos para envergonhar os fortes. Deus escolheu os que no mundo não têm importância nem valor para deitar abaixo os que parecem importantes. Assim, ninguém se pode orgulhar diante de Deus.(1 Cor 1: 26-29). Fica bem claro o sentido positivo de nossa insignificância: para que ninguém se vanglorie, para que ninguém pense que foi chamado pelas suas virtudes, ou que as obras de Deus avancem apenas ou principalmente com meios humanos.

O Senhor permite que experimentemos a nossa própria fraqueza, a desproporção entre a nossa miséria e a tarefa que nos pede, para que caminhemos sempre como homens e mulheres humildes e ponhamos toda a segurança n´Ele.” (Carta 19-III-1992, n. 16-19, vol. III, n. 306-309)