Faleceu Ismael Sánchez Bella, primeiro Reitor da Universidade de Navarra

Professor Catedrático de História do Direito, chegou a Pamplona, vindo da Argentina, com o encargo de S. Josemaria de promover o centro académico de que foi Reitor de 1954 a 1960.

O Professor Ismael Sánchez Bella, primeiro reitor da Universidade de Navarra, faleceu em Pamplona com a idade de 96 anos. Catedrático de História do Direito, chegou à capital de Navarra proveniente da Argentina, em 1952, com o encargo de S. Josemaria, Fundador do Opus Dei, de promover a Universidade de Navarra.

Além de Professor de História do Direito, Ismael Sánchez Bella foi Diretor da Escola de Direito e Reitor do Estudo Geral de Navarra desde 1954 até 1960, ano em que lhe sucedeu José Maria Albareda. Desde o momento, em que a Universidade foi erigida como tal, até 1986, continuou a prestar serviços como Vice-Reitor. Em julho de 1985, foi nomeado presidente da Junta Diretiva da Associação de Amigos da Universidade de Navarra, cargo que desempenhou até fevereiro de 1998.

O Reitor da Universidade de Navarra, Alfonso Sánchez Tabernero, salientou o legado de Ismael Sánchez Bella, que chegara a Pamplona “sem copanhiae sem dinheiro” mas “disposto a tornar realidade um desejo muito caro a S. Josemaria Escrivá: pôr em marcha a Universidade de Navarra”. Nem política nem economicamente a Espanha dos anos 50 era o melhor dos cenários possíveis para uma iniciativa social”, mas este desejo tornou-se realidade graças à “sua rijeza infatigável, a uma viva inteligência prática, à sua audácia esperançosa que teve sempre como lema“.

“Com a morte do seu primeiro Reitor, encerra-se de certo modo a etapa pioneira da nossa história, quando o seu projeto cabia numa pasta apenas. Quem faz parte agora da Universidade sente-se triste, mas muito agradecido ao Prof. Ismael, e disposto a continuar a desenvolver o seu legado“, acrescentou.

Perito em História do Direito

Nascido em 1922 em Tordesilhas (Guadalajara), começou os estudos universitários de Direito na Universidade de Valência 1940-1943). Aí conheceu o Professor Alfonso García Gallo, e a leitura do seu “Tratado de Historia del Derecho Español” influenciou a escolha profissional: a História do Direito. Em 1943 especializou-se na recém-fundada Escola de Estudos Hispano-Americanos de Sevilha na história do direito índio, completando ao mesmo tempo os estudos na Universidade de Sevilha, onde tomou contacto com a instituição que seria para Ismael Sánchez Bella um foco de atração permanente: o Arquivo das Índias.

Em 1940 radicou-se em Madrid como assistente da cadeira de García Gallo, e um ano depois doutorou-se em Direito com uma tese sobre “Organismos administrativos de la Hacienda Indiana”, trabalho que viria a receber o Prémio Nacional de Investigação MenéndezPelayo, e anos depois, já reelaborado como livro, o Prémio Internacional Ricardo Levy (1968).

Em 1949 obteve, por concurso, a cátedra de Direito da Universidade de La Laguna, mas poucos meses depois, em 1950, foi para a Argentina para começar o trabalho do Opus Dei nesse país. Durante os dois anos que aí permaneceu, foi professor de História de Espanha na Universidade do Litoral, Rosário, recém-criada.

Apesar das funções diretivas, conseguiu manter, durante todos esses anos, uma dedicação intensa à investigação e à docência, tornando-se num dos especialistas internacionais no âmbito da história do direito índio.

A sua extensa obra científica pode agrupar-se em três áreas. A primeira é o estudo das fontes do direito índio, isto é, da ordenação jurídica que vigorou na América Latina entre os séculos XVI e XVIII. Neste núcleo merece destaque a descoberta e posterior publicação “Recopilación de las Indias”, de Antonio León Pinelo, depois de doze anos de pesquisa nos mais diversos arquivos da América e de Espanha. Merece ser mencionado, entre muitos outros, o seu trabalho sobre o projeto do Código de Ovando.

O segundo âmbito foi o das instituições índias, em que sobressaem os estudos sobre fazenda índia, as Visitações às Índias, as Audiências como tribunais e órgãos de governo, e as relações Igreja-Estado na América. Todos estes estudos culminaram, de alguma forma, numa obra de conjunto intitulada “Historia del Derecho Indiano”, que publicou com os professores Alberto de la Hera e Carlos Díaz Remanteria, em 1922.

Vinculação a Navarra e ao seu “Fuero”

O terceiro âmbito - o Direito de Navarra -, terra a que dedicou todas as suas energias e pela qual se sentiu profundamente vinculado desde o início. Também aqui se centrou na edição e estudo de uma das fontes mais relevantes, o “Fuero Reducido”, para o qual constituiu em 1984 um grupo de investigação cujo trabalho se viu recompensado com a publicação em 1989, pela primeira vez na história, deste importante texto do séc. XVI.

Entre 1956 e 1963 foi conselheiro nacional de Educação. Foi agraciado, com a Comenda, com placa, da Ordem de Afonso X o Sábio (1962); a Comenda, com placa, da Ordem de África (1964); a Honorífica Ordem Académica de São Francisco das Arcadas (São Paulo) (1966); a Cruz de Honra de San Raimundo de Penhaforte (1968); a Ordem de Andrés Bello (Caracas) (1982); e a Medalha de Ouro da Universidade de Navarra (1990).