"Estamos sempre nos braços paternos de Deus"

Homilia de Mons. José Rafael Espírito Santo na missa de funeral do Pe. José Afonso Guedes

Caríssimas irmãs e caríssimos irmãos:

“Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa”: é esta a certeza que nos guia no nosso caminhar terreno. E já aqui na terra, unidos a Deus, experimentamos a recompensa: não há nenhum mal que nos impeça de ser bem-aventurados, começamos a saborear a vida eterna, que Deus Nosso Senhor nos dará em plenitude quando chegarmos à sua presença. É a vida de fé, que este ano queremos fortalecer.

Na sua última audiência, Bento XVI disse: “Estamos no Ano da Fé, que desejei precisamente para reforçar a nossa fé em Deus, num contexto que parece colocá-Lo cada vez mais de lado. Queria convidar todos a renovarem a confiança firme no Senhor, a entregarem-se como crianças nos braços de Deus, seguros de que aqueles braços nos sustentam sempre e nos permitem caminhar todos os dias, mesmo no cansaço. Queria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que entregou o seu Filho por nós e nos mostrou o seu amor sem limites. Queria que cada um sentisse a alegria de ser cristão”. Estas palavras confortam-nos no momento presente. Pois, com os acontecimentos que vivemos este ano, Deus está a, por assim dizer, “obrigar-nos” de um modo veemente a crescer na nossa fé, na certeza de que Deus dos males tira bens, dos grandes males grandes bens, de que nunca nos abandona: estamos sempre nos seus braços paternos.

Experimentámos isto há pouco com a resignação de Bento XVI. Numa primeira impressão parecia que ficávamos desorientados, mas não: é Deus Quem guia a Igreja, Quem assistiu Bento XVI na sua decisão! A barca de Pedro não se afunda. E rezamos com fé e confiança pelo futuro Papa.

Experimentamo-lo também aqui agora quando Deus levou para junto de Si o P. José Afonso Guedes. “Meu Deus: faz-nos tanta falta!”, pensei. Vieram-me então à cabeça e ao coração umas palavras do livro de Isaías que o Prelado do Opus Dei, D. Javier Echevarría, cita na sua carta deste mês, a propósito da resignação de Bento XVI: Os Meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não são os Meus caminhos (...). Tanto quanto os céus estão acima da terra, assim os Meus caminhos são mais altos que os vossos e os Meus planos mais altos que os vossos planos [Is 55, 8-9]. Assim é: não compreendemos muitas vezes os caminhos de Deus e necessitamos de confiar mais, aprender a abandonar-nos nas suas mãos, experimentar o seu amor infinito.

Hoje, temos de agradecer a Deus o dom da vida do Padre José Guedes. Todos recordamos a sua jovialidade, delicadeza, bom humor, a sua disponibilidade e dedicação para o que fosse preciso; todos agradecemos os seus prudentes conselhos, as vezes sem conta em que nos fez experimentar a proximidade de Deus, recorrendo sempre na sua pregação a pequenas histórias e exemplos que nos ajudavam a penetrar mais no mistério do amor de Deus por nós. Via-se como amava o seu sacerdócio e assim viveu fielmente até ao fim.

Podemos ter a certeza de que viveu com plenitude o seu sacerdócio e que Deus lhe dará a recompensa da sua fidelidade. “A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”, ouvíamos há pouco, com palavras de S. Paulo. E isso foi o que ficou plasmado na vida do Padre Guedes, até ao último instante.

O Prelado do Opus Dei, o Padre, escreveu duas cartas nesta ocasião. Graças a Deus experimentamos a realidade de ser uma verdadeira família, que nos apoiamos em todos os momentos: nas alegrias e nas dores. Creio que serão uma boa pauta para nos ajudar nestes momentos. Numa, mal soube da notícia do falecimento repentino do Padre José Guedes, quis escrever-nos para nos acompanhar na nossa grande dor, que era também muito sua, manifestando o seu profundo pesar, porque podia ainda ocupar-se de tantos trabalhos pastorais! Mas o Senhor sabe mais: fiat, adimpleatur… (faça-se, cumpra-se…). Animou-nos a estar, com pena sim, mas com serenidade, já que o Nosso Pai Deus assiste-nos até ao último momento, para acolher-nos na sua Glória. Quis também unir-se às orações durante o velório deste seu filho fiel, e convidou-nos a coloca-lo nas mãos da Santíssima Virgem – a Virgem de Fátima –, que não se separa nunca de nós, nem na hora da nossa morte.

A outra escreveu-a ao receber a carta do director do Centro onde vivia o Padre José Guedes a contar-lhe pormenores sobre os seus últimos dias e as circunstâncias do seu falecimento. Agradeceu muito a carta, que lhe serviu de grande consolo, e aconselhou-nos a não duvidar de que, como dizia o nosso Padre, o Senhor vem ao nosso encontro até ao último momento, e assim foi com este seu filho, que tanto trabalhou para O servir e, com Ele, para atender a tantíssimas almas. Disse além disso, que devemos estar tranquilos, cheios de confiança na Providência do Céu, pois muitos frutos sairão de tudo o que acabámos de viver: uma maior união fraterna, com a Comunhão dos Santos que nos sustém; uma maior força apostólica, já que do Céu nos ajudam; e um desejo de aproveitar profundamente a vida corrente.

Deus sempre nos acompanha: Deus acompanhou o Padre José Guedes ao longo de toda a sua vida e durante esta última doença; também nos acompanha agora ao experimentar a sua falta.

Deus pede-nos que cresçamos na nossa fé. Dos males tira bens, dos grandes males grandes bens e prepara-nos para os receber. Não tenhamos a mínima dúvida. Rezemos para Deus dê já a grande recompensa do Céu ao Padre José Guedes; compete-nos a nós aproveitar os grandes bens que Deus nos dá aqui na terra, sendo fiéis e correspondendo plenamente ao que Deus nos pede.

Recorramos à Nossa Mãe do Céu, - o Padre José Guedes tinha uma grande devoção ao escapulário do Carmo, e essa devoção não foi certamente ineficaz – peçamos a Nossa Senhora que quanto antes leve este seu filho à Glória do Céu, que nos acompanhe na nossa dor serena para que se transforme em alegria e nos conceda também a nós a fidelidade.

8 de Março de 2013