Entrevista ao novo sacerdote português

O Pe. Gabriel Amandi foi ordenado no passado dia 22 de Maio pelo Prelado do Opus Dei. Apresentamos uma entrevista ao novo sacerdote.

D. Javier Echevarría impõe as mãos a Gabriel Amandi de Sousa durante a cerimónia de ordenação.

Recebeu a ordenação sacerdotal depois de ter sido, durante 14 anos, professor de Português, Literatura Portuguesa e Latim no ensino secundário. Como chegou a uma decisão dessas?

A minha vocação começou na minha família – sou o terceiro de oito irmãos –, e estou convencido de que a devo aos meus pais, em grande parte. Este ano fizeram 50 anos de casados. Por outro lado, pensei muito na grande necessidade que a Igreja tem de padres.

Na sua opinião, e tendo em conta a sua experiência docente, quais são as expectativas dos jovens de hoje?

Querem modelos, gente verdadeira. Querem coerência, compreensão. Respeitam as pessoas de costumes limpos, publica e privadamente. Que grande admiração tenho pelos que se dedicam sinceramente ao ensino. Tenho saudades dos meus colegas professores, dos meus alunos, das famílias. Mas “valores mais altos se levantaram”...

Viveu quatro anos em Roma, em preparação para o sacerdócio. Que significado teve para si essa experiência?

Roma relaciona-nos com o mundo todo, com todas as raças e povos. Julgo que no nosso país nos habituaram a isto, porque Portugal está em todo o mundo. Quando cheguei aqui, em Outubro de 2000, trazia no coração as recordações de 13 de Maio de 2000 em Fátima onde estive com tantos portugueses para a beatificação dos pastorinhos. Roma e Fátima dão a impressão de que respiram a universalidade da alegria e da confiança em Deus.

É licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas e, em Roma, realizou estudos bíblicos. Parece-lhe importante o latim para um cristão?

Não é só o latim que é importante. Pude estudar também hebraico, aramaico e árabe, línguas que me meteram mentalmente no mundo semita, um mundo riquíssimo. Aprendi a rezar as orações cristãs em hebraico e árabe. Estudei a TANAK judaica e o Al-Quran. De início, interessei-me por simples motivos literários e linguísticos – tal como me tinha acontecido com o latim e o grego. Só depois veio a Sagrada Escritura.

Parece-lhe, então, que a Sagrada Escritura deve ter lugar na vida do cristão?

Um lugar principal e quotidiano. Vemos o Deus e Homem que diz coisas divinas com palavras humanas, como se fosse um de nós. Agora digo-o mais convencido, depois de me familiarizar com a Bíblia hebraica. Foi nessa língua que Deus falou ao seu povo eleito e predilecto, e foi nessa língua – também no aramaico – que Jesus Cristo leu e rezou a Escritura. A Biblia é um livro muito nosso, humano.

O diálogo inter-religioso que o Papa promove deve dizer-lhe muito.

Imagino que nos diz muito a todos. Tal como a questão da paz no Médio Oriente. Como é que um cristão não há-de amar Israel? Como não se há-de comover com Jerusalém, a Cidade Santa? Também gosto de rezar por todos aqueles que crêem num só Deus, em Allah. “Allah Mhaba” – uma frase que pudemos ler no pórtico do Grande Jubileu que foi colocado em Fátima: “Deus caritas est!” (Deus é amor).