Conferência do Prelado: «Dilatar o coração» (com vídeo)

Algumas considerações de Mons. Fernando Ocáriz, Prelado do Opus Dei, sobre a ação social cristã à luz da mensagem de S. Josemaria, realizada durante o evento #BeToCare, no qual participaram 200 empreendedores sociais de 30 países.

Sumário


Por ocasião do décimo aniversário de Harambee, D. Javier Echevarría proferiu a conferência O coração cristão, motor do desenvolvimento social[1]. No 20.º aniversário da mesma iniciativa e no âmbito desta Jornada sobre inovação social, gostaria de continuar as reflexões do meu antecessor. À luz da doutrina social da Igreja e da mensagem de S. Josemaria, debruçar-me-ei sobre a dimensão social da vocação cristã.

Há dez anos, D. Javier lembrava-nos que o diálogo entre Jesus e um doutor da Lei expressa que o amor a Deus é inseparável do amor aos outros: «quando um doutor da lei Lhe perguntou qual era o primeiro mandamento, o Senhor não Se limitou a indicar que o amor a Deus é o maior e o primeiro mandamento, mas acrescentou a necessidade de amar os outros como um mandamento incluído no primeiro (cf. Mt 22, 35-39)»[2].

É importante ter em mente a dimensão relacional da pessoa. Bento XVI, na encíclica Caritas in veritate, afirma: «a criatura humana realiza-se nas relações interpessoais: quanto mais as vive de forma autêntica, tanto mais amadurece a própria identidade pessoal». Esta realidade «obriga a um aprofundamento crítico e axiológico da categoria da relação (…)» e ajuda a «ver lucidamente a dignidade transcendente do homem»[3].

Com modos e perspetivas muito diversas, dedicais-vos profissionalmente a cuidar e dignificar as pessoas, principalmente as mais necessitadas. Sabeis por experiência que, embora sejam necessárias instituições e estruturas, para alcançar um verdadeiro desenvolvimento integral, é preciso também o encontro entre as pessoas, criar os contextos e as condições para que o desenvolvimento ocorra, para que a pessoa tenha a oportunidade de melhorar em todas as suas dimensões. Como discípulos de Jesus Cristo, somos chamados por um novo título – o de cristãos – a cuidar das pessoas, a cuidar do mundo.

O que vemos no mundo? Juntamente com as novas possibilidades de promoção humana oferecidas pelos avanços em saúde, tecnologia, comunicações e tantos exemplos inspiradores, as injustiças e feridas pelas quais a humanidade sangra vêm à tona. «No mundo atual, a pobreza apresenta muitos rostos diferentes: doentes e idosos que são tratados com indiferença, a solidão que muitas pessoas abandonadas experimentam, o drama dos refugiados, a miséria em que vive grande parte da humanidade, como consequência, muitas vezes, de injustiças que bradam aos céus»[4].

Como também vos dizia numa carta de 2017, «Nada disto nos pode deixar indiferentes», todos nós somos chamados a pôr «em funcionamento a “fantasia da caridade”, para levar o bálsamo da ternura de Deus a todos os nossos irmãos que passam necessidades»[5].

Quando o ser humano ignora ou desconsidera a sua condição de filho de Deus, todas as suas relações são afetadas: consigo mesmo, com os outros e com a criação. Como disse o Papa Francisco, a interdependência transforma-se em dependências, «perdemos esta harmonia da interdependência na solidariedade»[6].

Somos corresponsáveis ​​por cuidar do mundo, estabelecendo relações baseadas na caridade, na justiça e no respeito, sobretudo superando a doença da indiferença. S. João Paulo II escreveu: «Sim, todo o homem é “guarda do seu irmão”, porque Deus confia o homem ao homem»[7].

Boa parte das iniciativas que representais nasceu da inspiração de S. Josemaria. E muitos de vocês, a partir da mesma inspiração, trabalhais em organizações de diferentes sinais e orientações porque se sentiram pressionados a "fazer alguma coisa", a não ficar de braços cruzados.

Está no cerne do espírito do Opus Dei fazer das realidades comuns um lugar de encontro com Deus e de serviço aos outros; a aspiração de pessoas maduras, sensíveis aos outros e profissionalmente competentes, que procuram fazer do mundo um lugar mais justo e fraterno. “Amar o mundo apaixonadamente” implica conhecê-lo, cuidar dele e servi-lo.

A atitude em relação às necessidades sociais foi resumida por S. Josemaria numa carta publicada na década de 50 do século passado: «Um cristão não pode ser individualista, não pode ignorar os outros, não pode viver egoisticamente, de costas voltadas para o mundo: é essencialmente social, um membro responsável do Corpo Místico de Cristo»[8].

Da mão do fundador do Opus Dei, nesta sessão debruçar-me-ei sobre quatro dimensões: a espiritual, a profissional, a pessoal e a coletiva.

A dimensão espiritual

Poderia parecer utópico pensar que somos capazes de fazer algo para aliviar o sofrimento da humanidade. No entanto, sabemos que é Jesus quem suporta a dor humana. As chagas do Seu lado, das mãos e dos pés lembram as chagas do mundo. E Jesus disse-nos: «Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes»[9].

O caminho da identificação com Cristo transforma gradualmente o coração humano e abre-o à caridade. A união com o Senhor, nos sacramentos e na oração, leva a descobrir o próximo e suas necessidades e a dar menos atenção a si mesmo. A caridade muda o olhar. «A caridade de Cristo não é apenas um bom sentimento em relação ao próximo; não para no gosto pela filantropia. A caridade, infundida por Deus na alma, transforma a inteligência e a vontade por dentro: fundamenta sobrenaturalmente a amizade e a alegria de fazer o bem»[10].

Há algum tempo, numa carta, convidei-vos a pedir ao Senhor que alargasse os nossos corações, que nos dê um coração à Sua medida «para que nele entrem todas as necessidades, as dores, os sofrimentos dos homens e das mulheres do nosso tempo, especialmente dos mais débeis»[11]. Um coração orante, no meio do mundo, que sustenta e acompanha os outros nas suas necessidades.

A identificação com Jesus abre-nos às necessidades dos outros. Ao mesmo tempo, o contato com os necessitados leva-nos a Jesus. Por isso escreveu S. Josemaria: «Os pobres – dizia aquele amigo nosso – são o meu melhor livro espiritual e o motivo principal das minhas orações. Dói-me a sua dor, e dói-me o sofrimento de Cristo neles. E, porque me dói, compreendo que O amo e que os amo»[12].

Jesus tinha uma predileção pelos pobres e pelos que sofriam, mas também queria ser Ele próprio necessitado e vítima. Na pessoa que sofre, vislumbramos Jesus que nos fala, como recordou o Papa Francisco: «Sabemos aprender com os pobres, encontrar neles o rosto de Cristo e deixar-nos evangelizar por eles?»[13]. Desde a Igreja primitiva se compreendeu que a mensagem evangélica passava pela preocupação com os pobres e que é um sinal reconhecível da identidade cristã e um elemento de credibilidade[14].

A dimensão profissional

Queremos colocar Cristo no centro de todas as atividades humanas, santificando o trabalho profissional e os deveres quotidianos do cristão. Essa missão desenvolve-se no meio da rua, na sociedade, principalmente com o trabalho. Como nos recorda S. Josemaria, «O trabalho comum – seja humanamente humilde ou brilhante – é de grande valor e pode ser um meio muito eficaz de amar e servir a Deus e aos outros homens». E convida a todos «a trabalhar – com plena autonomia, da maneira que lhes parecer melhor – para apagar mal-entendidos e intolerâncias entre os homens e tornar a sociedade mais justa»[15].

Para aqueles que querem seguir Cristo, qualquer trabalho é uma oportunidade de servir os outros e especialmente os mais necessitados. Há profissões em que essa repercussão social ocorre de forma mais imediata ou evidente, como no vosso caso, trabalhar em organizações centradas na melhoria das condições de vida de pessoas ou grupos desfavorecidos. Mas essa dimensão do serviço não é só para alguns, deve estar presente em qualquer trabalho honesto.

Desde que S. Josemaria começou a difundir a sua mensagem, costumava dizer que para santificar o mundo não era necessário mudar de lugar, profissão ou ambiente. Trata-se de mudar a si mesmo no lugar em que nos encontremos.

No ideal cristão de trabalho, caridade e justiça estão unidas. Longe da lógica do "sucesso", o serviço ao próximo é o melhor parâmetro do desempenho profissional de um cristão. Atender às exigências da justiça no trabalho profissional é uma meta elevada e ambiciosa; cumprir as próprias obrigações nem sempre é fácil e a caridade vai sempre mais longe, pedindo a cada um que saia generosamente de si mesmo para os outros.

Na parábola do Bom Samaritano, o estalajadeiro passa como se estivesse em segundo plano: diz-se apenas que agiu profissionalmente. O seu comportamento lembra-nos que o exercício de qualquer tarefa profissional nos dá a oportunidade de servir a quem precisa.

Às vezes, poderia insinuar-se a tentação de “refugiar-se no trabalho”, no sentido de não descobrir a sua dimensão social transformadora, conformando-se com um falso espiritualismo. O trabalho santificado é sempre uma alavanca para transformar o mundo, e o meio habitual pelo qual devem ser produzidas as mudanças que dignificam a vida das pessoas, para que a caridade e a justiça empapem verdadeiramente todas as relações. O trabalho assim realizado pode contribuir para purificar as estruturas do pecado[16], convertendo-as em estruturas onde o desenvolvimento humano integral é uma possibilidade real.

A fé ajuda-nos a manter a confiança no futuro. Como assegurou S. Josemaria, «O nosso trabalho apostólico contribuirá para a paz, para a colaboração dos homens entre si, para a justiça, para evitar a guerra, evitar o isolamento, evitar o egoísmo nacional e o egoísmo pessoal: porque todos perceberão que fazem parte de toda a grande família humana, que está dirigida pela vontade de Deus à perfeição. Assim contribuiremos para eliminar esta angústia, este medo por um futuro de rancores fratricidas, e confirmar a paz e a concórdia nas almas e na sociedade: a tolerância, a compreensão, o convívio, o amor»[17].

A dimensão pessoal

A mensagem do Opus Dei encoraja-nos a lutar pela transformação do mundo através do trabalho. Isso também inclui "ter compaixão", como o samaritano[18], como exigência de amor, que leva a lei (“o que é obrigatório”), à sua plenitude[19]. O amor torna a nossa liberdade cada vez mais disposta e preparada para fazer o bem.

S. Josemaria escreveu numa carta datada de 1942: «A generalização dos remédios sociais contra os flagelos do sofrimento ou da indigência – que hoje permitem alcançar resultados humanitários que nem sequer se sonhavam noutros tempos –, nunca poderá suplantar a ternura eficaz – humana e sobrenatural – desse contato imediato e pessoal com o próximo: com aquele pobre de um bairro próximo, com aquele outro doente que vive a sua dor num grande hospital (...)»[20].

Apresenta-se perante nós um vasto panorama na família e na sociedade, e um coração dilatado procurará cuidar cuidadosamente dos pais idosos, dar esmola, interessar-se pelos problemas dos vizinhos, rezar por um amigo sobrecarregado por uma preocupação, visitar um familiar doente no hospital ou em casa, parar para conversar com uma pessoa que vive na rua que costumamos ver, ouvir pacientemente, etc., etc.

Normalmente, não se trata de adicionar novas tarefas àquelas que já realizamos; trata-se antes de tentar manifestar a partir da própria identidade o amor de Cristo aos outros. A questão da caridade não é apenas o que devo fazer, mas, primeiro, quem sou eu para o outro e quem é o outro para mim.

Neste cultivar quotidiano da solidariedade, encontramos os outros e, assim, as necessidades dos outros tornam-se também ponto de encontro entre pessoas de boa vontade, cristãs ou não, mas unidas em situações de pobreza e injustiça.

Este diálogo com a necessidade e a vulnerabilidade certamente resultará numa pele sensível e numa vida de oração próxima da realidade. Estaremos preparados para tomar decisões de maior austeridade pessoal, evitando o consumismo, o apelo da novidade, o luxo... e saberemos abrir mão de bens desnecessários que talvez pudéssemos pagar devido à nossa situação profissional. Seremos assim permeáveis à mudança pessoal, a ter os ouvidos abertos ao Espírito Santo e escutar o que nos diz através da pobreza.

O relacionamento de Cristo com os necessitados é um a um. Certamente, as obras coletivas são necessárias, mas a caridade é pessoal, porque assim é a nossa relação com Deus. Numa cristã ou num cristão maduro, o desenrolar das obras de misericórdia[21] vividas pessoalmente flui organicamente, como uma árvore que, ao crescer, dá mais fruto e sombra. Nesta perspetiva, percebe-se também a complementaridade que existe entre as várias manifestações do apostolado pessoal e a generosidade com os necessitados.

S. Josemaria descreveu a transcendência social da caridade pessoal no meio do mundo, referindo-se ao exemplo dos fiéis da Igreja primitiva: «Foi assim que agiram os primeiros cristãos. Eles não tinham, por razão da sua vocação sobrenatural, programas sociais ou humanos a cumprir; mas eram permeados por um espírito, por uma conceção da vida e do mundo, que não poderia deixar de ter consequências na sociedade em que se moviam»[22].

A dimensão coletiva

Não quero deixar de agradecer o bem que fazeis através do trabalho inspirado por S. Josemaria e a quantos trabalham, também por ele inspirados, em diversas organizações que prestam serviço direto aos mais necessitados. Penso naquele jovem sacerdote que cuidava dos pobres e doentes em Madrid na década de 1930. A «pedra que caiu no lago»[23] já percorreu um longo caminho. Apesar de estarmos cientes das nossas limitações, agradecemos a Deus e pedimos ajuda para melhorar e continuar.

As obras coletivas mantêm viva a sensibilidade social cristã e são uma expressão civil e pública de misericórdia. Como diz o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, «Sob tantos aspetos, o próximo a ser amado se apresenta “em sociedade” (…) amá-lo no plano social significa, de acordo com as situações, valer-se das mediações sociais para melhorar a sua vida ou remover os fatores sociais que causam a sua indigência. Sem dúvida alguma, é um ato de caridade a obra de misericórdia com que se responde aqui e agora a uma necessidade real e urgente do próximo, mas é um ato de caridade igualmente indispensável o empenho visando organizar e estruturar a sociedade de modo que o próximo não se venha a encontrar na miséria, sobretudo quando esta se torna a situação em que se debate um incomensurável número de pessoas e mesmo povos inteiros, situação esta que assume hoje as proporções de uma verdadeira e própria questão social mundial»[24].

S. Josemaria recordou que «o Opus Dei [deve estar presente] onde há pobreza, onde há falta de trabalho, onde há tristeza, onde há dor, para que a dor seja carregada com alegria, para que a pobreza desapareça, para que não falte trabalho – porque formamos as pessoas para que possam tê-lo –, para que coloquemos Cristo na vida de cada um, na medida em que ele quer, porque gostamos muito da liberdade»[25]. Com as limitações típicas das instituições humanas, as realidades coletivas promovidas pelos fiéis do Opus Dei procuram também encarnar e expressar o espírito de serviço no âmbito social.

Na vossa atividade fundem-se todas as dimensões que consideramos: fundamento espiritual, trabalho profissional e cuidado dos necessitados tomados como grupo (caridade social) em que também se afirma a dignidade de cada um (caridade pessoal). Assim, a competência profissional necessária numa área que exige cada vez mais especialização combina com o espírito cristão expresso nas obras de misericórdia. Pode dizer-se que os aqui presentes que promovem ou colaboram com essas tarefas aspiram a ser samaritanos e estalajadeiros ao mesmo tempo.

Por outro lado, cada tarefa coletiva, e não apenas as diretamente captadas como "sociais", pode ter uma dimensão social explícita, uma preocupação com o ambiente, alguns objetivos de serviço aos outros, uma forma de se relacionar com os pobres, uma intenção de reconciliar o mundo com Deus... Toda a obra coletiva de inspiração cristã (um colégio, uma universidade, uma escola de negócios, um hospital, uma residência etc.), embora a sua missão imediata não consista em favorecer grupos necessitados, deve integrar no seu ethos esta característica central do cristianismo que é a caridade social.

Nesse sentido, é lógico que cada obra coletiva habitualmente se pergunte sobre as expressões práticas e tangíveis da sua contribuição social e do seu serviço às pessoas mais necessitadas. Essa contribuição é um efeito conatural dessa atividade, não um simples acréscimo.

Convém perguntar-se: "desde que existe esta iniciativa, a que necessidades sociais procura dar resposta? Como melhorou o ambiente?" O Senhor pede-nos que, a partir da imaginação da caridade, reflitamos sobre este aspeto em cada tarefa.

No horizonte do centenário do Opus Dei (2028-2030)

Os próximos anos propiciam uma ocasião especial para revitalizar o serviço aos necessitados individual ou coletivamente, tomando mais consciência da sua importância na mensagem de S. Josemaria. Nisso, as vossas ideias e propostas, que se dedicam imediatamente a este campo, são especialmente valiosas.

Junto aos temas que ireis propor, sugiro duas possíveis linhas de reflexão.

Trabalhar com outras pessoas. S. Josemaria sempre encorajou os fiéis da Obra a abrirem-se, a trabalhar com muitas outras pessoas, inclusive não-católicos e não-cristãos, em projetos de serviço. A globalização fez com que a distribuição de recursos, as migrações, a falta de acesso à educação, a concatenação de crises económicas, pandemias e outros desafios afetassem cada vez mais pessoas. A dependência mútua da família humana é vividamente percebida e o mundo é visto como um lar compartilhado. As instituições de desenvolvimento de todos os tipos estão a tornar-se cada vez mais indispensáveis e a ideia de colaboração e coordenação de conhecimentos e esforços está a surgir. Numa altura em que o sofrimento é algo global, devemos sentir-nos mais do que nunca filhos do mesmo Pai.

Investigação e estudo. O vosso trabalho coloca-vos em observatórios donde podeis vislumbrar tendências futuras. Esta posição, aliada a extensas experiências de trabalho na área do desenvolvimento em diferentes culturas e países, permite-nos pensar em espaços específicos de investigação e estudo. Isso poderia dar origem a propostas de boas práticas, programas de formação de voluntários, trabalhos de consultoria, convocatórias para conferências e encontros com instituições congéneres sobre o tema ou afinidades regionais, convénios com centros académicos para aprofundar questões sociais sob diferentes perspetivas, combinando o trabalho de campo com investigação académica. Estas possibilidades recordam a aspiração de S. Josemaria, que via os cristãos “in ipso ortu rerum novarum”, na própria origem das mudanças sociais.

Gostaria de concluir com outras palavras fortes e inspiradoras de S. Josemaria: «Um homem ou uma sociedade que não reaja diante das tribulações ou das injustiças e se não esforce por as aliviar, não é um homem ou uma sociedade à medida do amor do Coração de Cristo. Os cristãos – conservando sempre a mais ampla liberdade quando se trata de estudar e de pôr em prática as diversas soluções, segundo um pluralismo bem natural – terão de convergir no mesmo anseio de servir a humanidade. Se não, o seu cristianismo não será a Palavra e a Vida de Jesus: será um disfarce, um embuste feito a Deus e aos homens»[26].

Esperemos que a reflexão que hoje iniciais com vista ao centenário da Obra sirva para aprofundar este apelo do nosso fundador e para o concretizar a nível espiritual e pessoal, no trabalho profissional e em todos os aspetos sociais e educativos iniciativas que, de uma forma ou de outra, encontram inspiração na sua mensagem. Neste campo, como noutros, aplicam-se as palavras de S. Josemaria: tudo está feito e tudo está por fazer. Certamente nos encorajaria a continuar a sonhar.


[1] Javier Echevarría, conferência O coração cristão, motor do desenvolvimento social, outubro de 2012, Pontifícia Universidade da Santa Cruz.

[2] Ibid.

[3] Bento XVI, Caritas in veritate, 29/06/2009, n. 53, sublinhado no original.

[4] Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 14/02/2017, n. 31.

[5] Ibid.

[6] Francisco, Audiência geral, 02/09/2020.

[7] S. João Paulo II, Evangelium vitae, 25/03/1995, n. 19.

[8] S. Josemaria, Cartas (Vol. I), edição crítica e comentada, elaborada por Luis Cano, Rialp, Madrid 1ª edição, 2020, Carta n. 3, 37d, p. 188.

[9] Mt 25, 40.

[10] S. Josemaria Escrivá, Cristo que passa, edição crítico-histórica elaborada por Antonio Aranda, Rialp, 2013, Madrid, homilia O respeito cristão pela pessoa e pela sua liberdade, 71d, p. 442.

[11] Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 14-02-2017, n. 31.

[12] S. Josemaria, Sulco, n. 827.

[13] Francisco, Mensagem V Jornada mundial dos Pobres, 14/11/2021.

[14] cf. Bento XVI, Deus caritas est, 25/12/2005, n. 20.

[15] S. Josemaria, Conversaciones…, edição crítico-histórica preparada sob a direção de José Luis Illanes, Rialp, Madrid, 2012, n. 56.

[16] cf. S. João Paulo II, Sollicitudo rei socialis, 30/12/1987, n. 36.

[17] S. Josemaria, cit., Cartas, Vol. I, Carta n. 3, n. 38a e 38b, pp. 188-189.

[18] cf. Lc 10, 33.

[19] cf. Rom 13, 8-10.

[20] S. Josemaria, Carta 24-X-1942, n. 44: AGP, série A.3, 91-7-2.

[21] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2447.

[22] S. Josemaria, Carta 9-I-1959, n. 22.

[23] S. Josemaria, Caminho, n. 831.

[24] Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 208.

[25] S. Josemaria, Um olhar para o futuro do coração de Vallecas, Madrid, 1998, p. 135 (palavras pronunciadas em 01/10/1967).

[26] S. Josemaria, Cristo que passa, cit., n. 167.

Fernando Ocáriz, Prelado do Opus Dei