“De Lisboa a Roma, pedir a S. Josemaria pelo meu futuro marido”

Como começar uma vida juntos em tempos de pandemia? Henrique (do Seixal) converteu-se em 2016. Antes, Raquel (de Lisboa) tinha pedido a S. Josemaria, pelo seu futuro marido. Depois de se conhecerem, de um namoro, e de um noivado atribulado em tempos de COVID-19, casaram-se no Mosteiro dos Jerónimos em julho. Contam o seu testemunho e falam dos desafios que os esperam.


Começamos a esperar ansiosamente que os filmes da Disney se tornem realidade na nossa vida.

Qualquer rapaz e rapariga quando pensam no seu futuro e na sua vocação ao matrimónio poderão concordar: o namoro é um assunto muito desejado. Começamos a esperar ansiosamente que os filmes da Disney se tornem realidade na nossa vida, conhecer alguém que traga cascatas e arco-íris à nossa vida, e que o critério seja o estado das borboletas na nossa barriga. Nada melhor para que a esperança seja posta à prova.

Ainda como amigos, este casal já percebia que cada um era instrumento de Deus na vida do outro, partilhavam sonhos, desejos, orações e medos. “É ele…”, tinha sussurrado Deus ao ouvido da Raquel, enquanto rezava ao lado do Henrique, na missa. Uma amizade revestida da confiança cega de que Deus era quem orquestrava cada passo, cada momento, cada palavra e cada encontro. Duas vidas muito diferentes que se tinham preparado para o momento em que se cruzavam, não por uma lista de critérios, mas pela esperança de que a indefinição de se ser solteiro um dia iria ser clarificada por Deus.

De comunista a cristão: a história portuguesa de Henrique, um artigo publicado sobre a conversão do Henrique.

Uns anos antes, ainda sem se conhecerem, a Raquel começou a rezar pelo seu futuro marido, enquanto o Henrique se convertia e se preparava para o baptismo.

Raquel vai de propósito rezar junto do túmulo de S. Josemaria precisamente pela sua vocação matrimonial, pedindo que pela sua intercessão, Deus se apressasse a concretizá-la.

Numa viagem a Roma, e pela sugestão de um sacerdote, a Raquel vai de propósito rezar junto do túmulo de S. Josemaria precisamente pela sua vocação matrimonial, pedindo que pela sua intercessão, Deus se apressasse a concretizá-la. E no tempo que lhe era dado para esperar, que se preparasse para o conhecer. Nessa mesma altura, Deus colocava o Henrique uns passos mais perto da Raquel. O tempo de Deus é diferente do nosso, o que na altura parecia uma incompreensão, por não ver as suas preces atendidas com brevidade e definição. Uns anos à frente, e imediatamente antes de se conhecerem, o Henrique pede admissão ao Opus Dei.

O pedido de namoro chega num misto contraditório de surpresa e naturalidade, numa viagem a Fátima para agradecerem o aniversário de baptismo do Henrique. E pouco depois, contando apenas com 4 meses de namoro, o Henrique ajoelha-se diante da Raquel, junto da imagem de Nossa Senhora das Dores, o local onde iam todos os dias rezar a consagração no final da Missa.

cansados deste processo, viajam para Roma para receber uma bênção do Prelado do Opus Dei, Mons. Fernando Ocáriz

No início do noivado, não havia mais do que pequenas decisões. As dificuldades normais quanto a orçamentos, data, festa, opiniões familiares, e planear uma vida a dois. Para ambos era óbvio que a loucura de namorar pouco tempo tinha como consequência assumirmos com autonomia e independência a decisão tomada pelos dois, já desde a preparação do matrimónio. Era esse o desejo mas também esse o entrave dos primeiros tempos.

Pouco antes da pandemia e no meio da preparação para o casamento, Raquel e Henrique foram a Roma para pedir a bênção ao Prelado do Opus Dei.

A noiva, apesar de ser a mulher mais indecisa do mundo, escolhe o primeiro vestido que vê. Escolhem e decidem tanto a igreja para Missa como a quinta para a festa em poucos dias e, cansados deste processo, viajam para Roma para receber uma bênção do Prelado do Opus Dei, Mons. Fernando Ocáriz. Mal sabiam eles que, passados uns meses, Itália seria o foco de uma pandemia que iria mudar muito a vida destes dois apaixonados.

A Raquel, a terminar o Doutoramento, estava noiva e ia casar-se no verão. O Henrique, professor de música e teatro, a partir de março fica sem trabalho. A cruz agora já tinha relevo, já a podiam sentir. Mas o peso só se tornou claro no Tríduo Pascal. Sem Missas e separados pelo rio Tejo, impedidos de circular para fora do concelho de residência, os noivos desesperam e sofrem na pele as dores da paixão. "Como é que vai ser? Não temos trabalho. Como é que vamos começar uma vida juntos em Lisboa?"

"Deus não se contradiz", afirma o Henrique agora "e garanto-te que até vamos ter festa!", continua em jeito de promessa à Raquel

Esta agonia fê-los rezar mais e confiar só e exclusivamente em Jesus, caídos nos braços de Maria:"Senhor, não Te importas que pereçamos?" Lembravam as palavras da oração do Papa e combatiam os medos. No Domingo de Páscoa a dor dissipa-se e a Esperança rejuvenesce: "Deus não se contradiz", afirma o Henrique agora "e garanto-te que até vamos ter festa!", continua em jeito de promessa à Raquel.

A luta era intensa. A maré contrária e o vento não permitia encarar de frente o horizonte que Deus tinha reservado para estes dois. Mais unidos que nunca, avançam e fazem o que acham necessário para assegurar um matrimónio bonito e digno. Nunca puseram a hipótese de desistir. Sempre unidos nas decisões que tomavam, agora, reforçados pelos frutos de uma Páscoa atípica navegam confiantes de que é Cristo quem está no leme.

Ao fim de dois meses sem a habitual Missa diária ou, sequer, Dominical, a trabalhar o melhor possível e a ajudar a família, este casal de noivos aproveita os primeiros raios de esperança - o chamado desconfinamento - para entregar aos amigos e família a Luz verdadeira que os conduz ao altar. Decidiram entregar convites em mão e "perder" tempo com as pessoas que amam. O casamento começava a ganhar forma, mas nem todos concordavam com a decisão de manter tudo.

O dia chegou e os noivos casaram! A festa foi animada e ninguém podia pedir mais alegria num só dia.

A Esperança, aos poucos, dava os primeiros frutos, não só com a normalização progressiva da vida social, como - e muito mais importante - com as prendas de casamento antecipadas que Nosso Senhor fazia questão de dar: antes de fazerem um ano de namoro, fizeram uma proposta de trabalho ao Henrique muito melhor do que podiam esperar. E, agradecendo, caminhavam nervosos e entusiasmados gritando nos seus corações: "A Deus nada é impossível!"

“Ninguém pedia mais alegria num dia”. A Raquel (a terminar o Doutoramento) e o Henrique (professor de música e teatro) casaram-se em julho (Fotografia: Francisco Condado)

O dia chegou e os noivos casaram! A festa foi animada e ninguém podia pedir mais alegria num só dia. Correu tudo bem e, ficamos muito felizes em dizer, o Covid-19 não foi convidado nem sequer deu problemas a seguir. Alguns dirão que foi uma "sorte" ter corrido tudo bem. Outros dirão que foi graças às "medidas de segurança e higienização". A nova família, porém, agradece a Deus e a Nossa Senhora por mimarem tanto os seus filhinhos. E que nunca nos falte esperança e confiança de que a Deus nada é impossível!


Raquel e Henrique
Setembro de 2020


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