Conversar, debater, é muito próprio de advogados…

Maria Filomena Baptista, advogada, licenciada em Direito Civil e em Direito Canónico, vive em Lisboa, é casada, não tem filhos. Trabalha em administração de empresas e é defensora do vínculo no Tribunal Patriarcal de Lisboa.

Como conheceu o Opus Dei?

Por volta dos meus 12 anos, estava na casa de férias e já tinha lido os livros que por lá havia (fui sempre uma leitora compulsiva). Peguei num, deixado por uma tia minha. Relatava a vida de Montserrat Grases, uma rapariga de 18 anos que tinha um cancro e que viveu a doença com uma enorme alegria e muito atenta aos outros. Ela era do Opus Dei, por isso fiquei com vontade de conhecer mais.

E foi só isso?

Não, mas na altura fiquei por ali. No ano seguinte, ao aproximar-se o Verão, os meus pais procuravam alguma coisa que nos ocupasse fui parar a Miralar, que já não existe, mas na altura tinha uns cursos interessantes sobre os trabalhos da casa e era uma iniciativa de algumas pessoas do Opus Dei. Mais tarde, conheci o Clube Darca. Funcionava, então, numa casa muito pequena para todas as liceais que lá íamos. Divertíamo-nos muito. Encenámos uma peça de Óscar Wilde e, à falta de produtos para a maquilhagem, pintámos os olhos com canetas de feltro… As actividades pareciam-me intelectualmente interessantes, e - diferentemente da escola - eram para nós completamente livres, íamos porque gostávamos. Divertíamo-nos muito

Também fazia algum trabalho social?

Estive num campo de trabalho de uma semana numa zona rural, no interior do país. Foi nos anos 70, os cortes de electricidade e de água eram frequentes, dormíamos no chão, por não haver camas, havia dificuldades para tomar banho… Foi das coisas melhores que já fiz na vida. Posteriormente, já com 18 anos, pedi a admissão no Opus Dei como Supranumerária.

(...) gostava de destacar algum aspecto da mensagem de S. Josemaria? O respeito pela liberdade, a valorização e estima das coisas e interesses próprios da vida normal: a santificação do trabalho, do ócio, a luta por ser santos “no meio da rua”.

E, já agora, continua uma leitora compulsiva?

Continuo, com grande prejuízo para o porta-moedas…

Estudou Direito Civil. Como se lembrou de seguir Direito Canónico?

Aparentemente, por acaso, como em tantas coisas boas da vida, alguém me perguntou se eu conhecia alguma advogada que quisesse ir a um congresso sobre Direito Canónico. Resolvi ir eu. Percebi que eram necessárias pessoas com formação nessa área. Procurei Universidades onde pudesse fazê-lo sem comprometer a minha vida familiar, porque na altura já tinha casado. Vi que na Universidade de Navarra podia fazer o curso (com dispensa de escolaridade) sem regime presencial, enviando os trabalhos pela Net e indo lá para os exames. Inscrevi-me. Nessa universidade, o curso era de 3 anos e não de 2, como era frequente noutras, por incluir um ano de formação teológica prévia ao estudo do Direito Canónico.

Destes anos ligada ao Opus Dei, gostava de destacar algum aspecto da mensagem de S. Josemaria?

O respeito pela liberdade, a valorização e estima das coisas e interesses próprios da vida normal, (dito doutra maneira, a mentalidade laical): a santificação do trabalho, do ócio, a luta por ser santos “no meio da rua”.

Além do seu trabalho profissional, tem mais alguma actuação cívica?

O que faço normalmente é intervir em fóruns de opinião, especialmente de juristas.

Ao fim do seu dia, depois do trabalho no escritório, tem ainda o trabalho da casa…

Tenho ajudas, porque não é um campo em que seja especialista. Sei, mas não tenho muito jeito. Normalmente, aproveito para ler, já que não tive tempo durante o dia.

Sai muito à noite, com o seu marido?

Saio umas duas vezes por mês. Gosto muito de ir ao São Carlos, jantar fora e conversar com amigos. Conversar, debater, é muito próprio de advogados…