Celica: a vida que me foi dada e a fé que escolhi

Uma jovem de uma pequena localidade de Batangas (Filipinas) descobre a fé católica e a sua missão: iluminar e ser testemunho de fé.

Cada um de nós tem uma história, um caminho definido por perguntas, desafios, descobertas e inúmeros momentos de graça. A minha conversão não foi um momento único e dramático, mas uma procura lenta e intencional por verdade e sentido.

Nasci numa família católica, mas, durante muitos anos, fui com a maré da fé. Devido às amizades e viagens da minha família, fui exposta a muitas tradições cristãs: católica, protestante e até mesmo Aglipayan, e, por vezes, nem sequer sabia no que acreditava. Para mim, a religião era algo herdado e não propriamente escolhido. Aos poucos, Deus começou a despertar no meu coração uma sede por algo mais profundo. Comecei a perceber que a fé não pode permanecer emprestada, tem de tornar-se pessoal. Tem de ser vivida, detida e amada.

Esta é a história de um movimento que partiu da confusão para a convicção: como a Igreja Católica se tornou não só uma tradição mas a minha casa. É a história da forma como Deus usou pessoas, lugares e desvios inesperados para me conduzir ao Seu amor e revelar o meu propósito.

O que começou como incerteza, floresceu em clareza, alegria e missão. Hoje, caminho com um coração firme e um desejo profundo de ajudar outros a descobrir a beleza da fé e a vocação que aprendi a chamar minha.

Raízes: uma fé herdada, mas não compreendida

Nasci numa família católica, numa pequena localidade de Rosario, em Batangas. Batizada e matriculada numa escola católica em criança, cresci numa casa na qual a fé não era praticada em profundidade. Em miúda, era muitas vezes a menina das flores nos casamentos, na Igreja ni Cristo (INC), e até tive uma madrinha da INC, na minha confirmação. Na altura, não pensava muito nisso, obedecendo simplesmente aos meus pais.

A autora (segunda à esquerda) com os irmãos e a mãe (de azul).

Íamos à Missa aos domingos, mas também frequentávamos serviços protestantes, por causa das amizades do meu pai. Uma vez, fomos a uma igreja em Quezon Province, que, soube depois, era Aglipayan – uma denominação cristã independente, com as suas próprias tradições, incluindo mulheres como celebrantes. Esta exposição a diversos credos plantou em mim sementes de confusão espiritual.

Um acordar pessoal: procurar Deus para lá do que tinha herdado

Essa confusão cresceu à medida que o meu pai, engenheiro civil, foi trabalhar para o estrangeiro, para sustentar a nossa família, de seis filhos. Na sua ausência, comecei a voltar-me para Deus, por mim mesma, pedindo força e orientação. Apercebi-me de que precisava de construir uma relação pessoal com Ele, em vez de apenas herdar uma fé que mal entendia.

Quando chegou a hora de ir para o ensino secundário, o meu pai matriculou-me na Casa-Escola Agrícola Balete, em Batangas, a única escola que exigia práticas diretas no negócio da agricultura, pesquisa e um estágio, desde cedo. Levei, para essa escola, as minhas dúvidas espirituais e comecei a procurar respostas.

Alunas da Casa-Escola Agrícola Balete.

Em Balete, vi que a diretora da escola passava momentos de silêncio na capela, todas as manhãs. Mais tarde, descobri que era membro do Opus Dei. Perguntei-me o que faria: corrigia testes? Rezava? Lia? Despertou-me a curiosidade. Depois, vieram as minhas confissões e Missas semanais e, rapidamente, aprendi a rezar o terço todos os dias. Nas nossas aulas de doutrina, em Balete, cheguei ao conceito de Eucaristia e ouvi, pela primeira vez, a palavra “transubstanciação”.

Esse momento mudou tudo. Percebi finalmente o que realmente acontece durante a consagração, na Missa: o pão e o vinho tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Essa verdade comoveu-me profundamente.

Ao refletir nas minhas experiências passadas, nas igrejas Aglipayan e Protestante, apercebi-me de que, ao que havia considerado “apenas mais uma forma de adoração”, faltava a base sacramental que começava a descobrir no Catolicismo. Escolhi aprofundar, aprender, questionar e, por fim, abraçar a fé católica não apenas como herança, mas como convicção.

Descobrir a minha vocação: encontrar a santidade na vida de todos os dias

Durante muitos anos, acreditei piamente que a minha vocação era o casamento. Rezava todos os dias por um futuro marido, que amaria como Cristo ama a sua Igreja. Sonhava constituir família e educar filhos na fé. Depois da escola, frequentava aulas de Culinária, em Manila, pois achava que devia saber cozinhar bem para servir a minha família.

À medida que mergulhava mais profundamente nos escritos de São Josemaria Escrivá, em particular no livro: “Amigos de Deus”, algo começou a mexer em mim: “Amigos de Deus”, uma coleção de homilias frequentemente denominadas um “hino à vida quotidiana”, abriu-me os olhos para uma verdade que nunca havia compreendido por completo: o chamamento à santidade, por Deus, é para toda a gente, independentemente do trabalho, da vocação ou do estatuto social. Tarefas quotidianas, responsabilidades diárias e trabalho profissional podem ser formas de O amar e de servir outros.

Aos poucos, essa mensagem começou a transformar-me. Comecei a ver o celibato não como uma perda, mas como um dom, uma bonita possibilidade de me entregar completamente a Deus e aos outros. Não foi uma decisão de um dia para o outro, foi um convite amável e persistente, que voltava sempre que rezava, até não mais conseguir ignorá-lo.

Ao longo do tempo, oração e cuidadoso discernimento, abracei a vocação ao Opus Dei como numerária auxiliar. Esta escolha implicava celibato, esforço pela excelência profissional e a alegria de tornar sagrado o trabalho de todos os dias. Também me inspirou a estudar teologia e filosofia, que aprofundaram o meu amor pela fé católica.

Olhando para trás, vejo como a minha confusão espiritual inicial abriu caminho para a clareza e a paz. Já não recebo uma fé que me foi passada, escolho-a, vivo-a e partilho-a alegremente com os outros, de forma consciente.

Com outras numerárias auxiliares, na Casa de Retiros de Makiling.

Formar outros: uma vida de serviço e testemunho

Comecei por ensinar doutrina católica e ser mentora de jovens na cidade de Quezon, depois em Visayas e, atualmente, em Calamba, Laguna. Durante estas experiências, tive a graça de testemunhar, em primeira mão, como a formação molda vidas, a força e o trabalho de Deus, das maneiras mais inesperadas.

Uma vez, uma amiga convidou-me para um seminário online sobre o Catecismo. A princípio, estava relutante, a minha agenda estava cheia, mas acabei por aceitar. Esse seminário estava a cargo de Unboxing Catholicism. Comecei por ignorar os e-mails que se seguiram, já recebia formação suficiente por parte do Opus Dei. Mas apercebi-me de que Unboxing Catholicism não era apenas mais uma iniciativa online, era um esforço apaixonante para ajudar católicos comuns e defender a sua fé com clareza, caridade, sem ar de pregação.

Fé partilhada: o efeito propagador da evangelização

À medida que aprofundava a minha formação no Opus Dei, crescia em mim o desejo de partilhar o que estava a receber. Comecei por convidar a minha família, amigos, alunos e as pessoas que ia conhecendo pessoalmente, para algumas atividades espirituais da Obra, observando rapidamente a forma como percebiam e viviam a sua fé. O espírito do Opus Dei é prático, fiel às Escrituras, leal ao Magistério e profundamente pastoral. Alimentou-me e deu-me ferramentas para ajudar outros a crescer.

Por querer que a minha própria família se sentisse mais próxima deste espírito, comprei uma moldura grande, pus-lhe uma imagem de São Josemaria Escrivá e pendurei-a na parede de nossa casa, um lembrete para lhe rezar e nos deixarmos inspirar pelo seu exemplo, todos os dias.

De visita a um orfanato.

Há cerca de um ano, juntamente com outras pessoas do meu centro, em Calamba, ajudei a organizar uma visita a um orfanato, uma iniciativa que me é querida, por adorar crianças. Contactámos amigos, empresas, benfeitores para nos apoiarem, comovendo-me profundamente a resposta por parte das pessoas a quem chegámos, que ajudaram a concretizar o projeto. Essa experiência confirmou-me, mais uma vez, que o Opus Dei não é apenas uma instituição, mas uma família de pessoas comuns que se esforçam por fazer um bem extraordinário pela Igreja e pela sociedade.

O mistério da graça: quando os corações mudam sem guião

Uma vez, um padre perguntou-me: “Que fizeste para levar estas meninas à conversão?”

Realmente, não tenho uma resposta definitiva, só Deus sabe, verdadeiramente.

Acredito que a Sua graça acabou por tocar os corações delas. Talvez também tenha ajudado o facto de manter relações pessoais com elas, de ser genuinamente amiga delas e de ter explicado a fé da forma mais clara e sincera que pude. Tendo sido exposta a diferentes denominações, percebia-as, o que talvez tenha facilitado a identificação com as raparigas.

Também acho que essa foi a razão pela qual os alunos que puseram agora a meu cargo não são católicos, porque Deus sabe que percorri o mesmo caminho de procura e questionamento. Ele usa as nossas experiências para um propósito.

Olhando para trás, vejo como o meu próprio percurso de dúvida e descoberta se tornou uma ponte para outros. A evangelização nem sempre exige palavras perfeitas ou cursos teológicos, precisa apenas de um coração disposto a entender, acompanhar e direcionar com simpatia outros em direção à verdade. É um sinal de humildade saber que, por vezes, apenas estar presente, ouvir e testemunhar já é parte do trabalho, discreto, mas poderoso.

Com os meus sobrinhos e sobrinhas.

Viver a minha fé: de aspirante a testemunha

Hoje, luto para viver a minha fé de forma intencional e partilhá-la com coragem. Sou profundamente grata a Deus por me ter levado por um caminho de perguntas, confusão e, por fim, convicção. O que fora simplesmente herdado tornou-se algo que escolhi conscientemente, uma fé que agora vivo, amo e partilho.

Se há algo que aprendi ao longo do caminho, é que Deus nunca desperdiça o nosso desejo de busca. Cada desvio, cada pergunta e cada momento de dúvida pode tornar-se uma ponte para uma graça mais profunda. O meu percurso começou com incerteza, mas conduziu-me à clareza, à missão e à alegria.

À medida que vou percorrendo este caminho, a minha oração é simples: que a minha história possa encorajar os que estão à procura, que continuem e que descubram, tal como eu, que o amor de Deus é paciente, pessoal e suficientemente poderoso para transformar qualquer coração que queira abrir-se a esse encontro.

Celica Tapero