Ciclo de Catequese – Jubileu 2025. Jesus Cristo, Nossa Esperança.
IV. A Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo de hoje.
8. A Páscoa como refúgio do coração inquieto
Saudação na Sala Paulo VI
Bom dia a todos! Good morning! Welcome!
Faço uma breve saudação e uma bênção a cada um de vós.
Hoje, quisemos proteger-vos um pouco das intempéries, sobretudo do frio... Não está a chover, mas talvez assim estejais um pouco mais confortáveis. Depois, podeis acompanhar a Audiência nos ecrãs ou, se preferirem, podeis até sair. No entanto, aproveitemos este pequeno encontro mais pessoal para vos cumprimentar, oferecer-vos a bênção do Senhor e também bons votos. Já nos aproximamos das festas de Natal e queremos pedir ao Senhor que a alegria desta época natalícia vos acompanhe a todos: às vossas famílias, aos vossos entes queridos, e que estejais sempre nas mãos do Senhor, com a confiança e o amor que só Deus nos pode dar.
Ofereço a minha bênção a todos agora e então passo para cumprimentar-vos.
Estimados irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
A vida humana é caraterizada por um movimento constante que nos impele a fazer, a agir. Hoje, em toda a parte, exige-se rapidez no alcance de resultados ótimos nos âmbitos mais diversificados. De que modo a ressurreição de Jesus ilumina este traço da nossa experiência? Quando participarmos na sua vitória sobre a morte, descansaremos? A fé diz-nos: sim, descansaremos! Não ficaremos inativos, mas entraremos no descanso de Deus, que é paz e júbilo! Bem, devemos apenas esperar, ou isto pode mudar-nos desde já?
Estamos absorvidos por muitas atividades, que nem sempre nos satisfazem. Muitas das nossas ações têm a ver com coisas práticas, concretas. Devemos assumir a responsabilidade de muitos compromissos, resolver problemas, enfrentar dificuldades. Também Jesus se envolveu com as pessoas e com a vida, sem se poupar, mas entregando-se até ao fim. No entanto, muitas vezes compreendemos que fazer demasiado, em vez de nos dar plenitude, torna-se um turbilhão que nos atordoa, que nos priva da serenidade, que nos impede de viver da melhor forma o que é realmente importante para a nossa vida. Então, sentimo-nos cansados, insatisfeitos: o tempo parece dispersar-se em mil coisas práticas que, contudo, não resolvem o derradeiro significado da nossa existência. Às vezes, no final de dias cheios de atividades, sentimo-nos vazios. Porquê? Porque não somos máquinas, temos um “coração”, ou melhor, podemos dizer que somos um coração.
O coração é o símbolo de toda a nossa humanidade, síntese de pensamentos, sentimentos e desejos, o centro invisível da nossa pessoa. O evangelista Mateus convida-nos a refletir sobre a importância do coração, citando esta maravilhosa frase de Jesus: «Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração» (Mt 6, 21).
Portanto, é no coração que se conserva o verdadeiro tesouro, não nos cofres da terra, não nos grandes investimentos financeiros, hoje mais do que nunca enlouquecidos e injustamente concentrados, idolatrados ao preço sangrento de milhões de vidas humanas e da devastação da criação de Deus.
É importante refletir sobre estes aspetos, pois nos inúmeros compromissos que enfrentamos continuamente sobressai cada vez mais o risco da dispersão, por vezes do desespero, da falta de sentido, até em pessoas aparentemente bem-sucedidas. Pelo contrário, ler a vida sob o sinal da Páscoa, olhar para ela com Jesus Ressuscitado, significa encontrar o acesso à essência da pessoa humana, ao nosso coração: cor inquietum. Com este adjetivo “inquieto”, Santo Agostinho leva-nos a compreender o impulso do ser humano orientado para a sua plena realização. A frase integral remete para o início das Confissões, onde Agostinho escreve: «Senhor, criaste-nos para ti e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansar em ti» (I, 1, 1).
A inquietação é o sinal de que o nosso coração não se move por acaso, de modo desordenado, sem um fim nem uma meta, mas está orientado para o seu destino último, o “regresso a casa”. E o verdadeiro destino do coração não consiste na posse dos bens deste mundo, mas em alcançar aquilo que pode preenchê-lo plenamente, ou seja, o amor de Deus, ou melhor, Deus-Amor. No entanto, este tesouro só se acha amando o próximo que se encontra ao longo do caminho: irmãos e irmãs em carne e osso, cuja presença interpela e questiona o nosso coração, chamando-o a abrir-se e a doar-se. O próximo pede-nos para ir mais devagar, para o fitar nos olhos, às vezes para mudar de programa, talvez até para mudar de direção.
Caríssimos, eis o segredo do movimento do coração humano: voltar à nascente do seu ser, desfrutar do júbilo que não esmorece, que não desilude. Ninguém pode viver sem um significado que vá além do contingente, além daquilo que passa. O coração humano não pode viver sem esperar, sem saber que foi feito para a plenitude, não para a falta.
Com a sua Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição, Jesus Cristo deu um fundamento sólido a esta esperança. O coração inquieto não ficará desiludido, se entrar no dinamismo do amor para o qual é criado. O destino é certo, a vida venceu e, em Cristo, continuará a vencer em cada morte do dia a dia. Eis a esperança cristã: bendigamos e demos graças sempre ao Senhor que no-la concedeu!

