"Caminho" já tem uma edição crítica

Setenta anos depois do beato Josemaría ter escrito Caminho, o teólogo Pedro Rodriguez publicou uma Edição crítico-histórica da obra mais difundida (quatro milhões e meio de exemplares) do fundador do Opus Dei. O "Instituto Histórico Josemaría Escrivá" inicia assim a publicação das "Obras Completas".

A apresentação da "Edição crítico-histórica" de Caminho teve lugar em Madrid no dia 13 de Março. Este monumental volume de 1.250 páginas oferece uma análise pormenorizada da origem e valor teológico de cada um dos 999 pensamentos de que é feito Caminho. Inclui além disso uma biografia do autor, a história da sua redacção, e a análise literária e estrutural da obra.

Para Pedro Rodriguez, professor de Teologia Sistemática da Universidade de Navarra, Caminho é "uma referência na literatura espiritual do século XX, que contém o que Escrivá quis oferecer à Igreja e ao mundo." Foi publicado em 1934 e dele se lançaram 368 edições em 44 línguas diferentes. Proximamente serão editadas traduções em bielo-russo, guarani, thay, norueguês e tamil (Índia).

“Em 46 capítulos - disse o professor Rodriguez - Josemaría Escrivá conduz o leitor como por um declive. Nos primeiros troços reafirma-lhe a necessidade de seguir com determinação Cristo (oração, vida interior …) ; depois, mostra-lhe como caminhar até à santidade (Fé, virtudes, Igreja…); e, por último, como entender-se com Deus (Infância espiritual, missão apostólica…). Cada um destes estádios responde ao programa da vida proposto pelo beato na frase: «Que procures Cristo, que encontres Cristo, que ames Cristo.»

Cada um dos 999 pontos de Caminho tem vida própria, e contextos e circunstâncias muito diferentes. Reflecte uma intensa vida espiritual, pastoral e literária. É preciso ter presente que quando Josemaría Escrivá escreveu Caminho, o Opus Dei estava recém formado. Para ele são, portanto, anos de vida espiritual muito intensa, que poderemos vislumbrar melhor analisando os seus escritos.

Segundo os especialistas, esta obra está feita de aforismos ou sentenças, mas, melhor ainda, são «pedaços» de vida, pois o livro é obtido ao reunir estas quase mil reflexões extraídas da sua oração pessoal, da sua pregação, do seu relacionamento com as almas, da sua correspondência, etc.

O próprio fundador do Opus Dei explicou nos anos sessenta qual tinha sido o propósito ao escrever Caminho: «Com esta publicação, procurei preparar um plano inclinado muito extenso, para que fossem subindo pouco a pouco as almas, até poderem compreender o chamamento divino, chegando a ser almas contemplativas no meio da rua. Pretende ser um livro que leve a tratar e amar Deus e servir a todos.»"

Um texto da Igreja

O cardeal Alfonso López Trujillo, do Pontifício Conselho para a família, afirmou na apresentação que, ao ler Caminho sendo um jovem seminarista, "me impressionou o vigor das suas considerações directas e contundentes. Josemaría Escrivá converte-se em regueiro da graça de Deus e leva-nos por caminhos de oração. Caminho é um dos textos mais importantes do riquíssimo panorama cultural da Igreja."

António Fontán, filólogo e ex-presidente do Senado espanhol, afirmou que Caminho "está escrito em linguagem contemporânea, moderna, que convida o leitor a estabelecer um diálogo." Na sua redacção, disse, apreciam-se influências literárias de figuras como Santa Teresa de Jesus, S. João da Cruz, Cervantes, Calderón ou Lope de Vega.

O Instituto Histórico Josemaría Escrivá, criado para aprofundar na figura do futuro santo, propõe-se levar a cabo a publicação e análise científica das suas Obras Completas. Todos os escritos do fundador do Opus Dei sairão divididos em cinco séries: obras publicadas, obras não publicadas, epistolário, autógrafos e pregação oral. "Com a sua próxima canonização, a pregação e os escritos de Josemaría Escrivá passam a ser património da Igreja Universal", disse Rodriguez.