A preparação da acção durou vários meses. Venda de t-shirts com o logotipo do projecto, promoção em feiras, pedidos a particulares e instituições. Já na contagem decrescente para a partida, chegaram mais artigos inesperados: do Porto uma grande quantidade de água engarrafada e o subsídio para um contentor que partiu carregado, incluindo três computadores, artigos de farmácia e medicamentos.
A chegada foi auspiciosa: chovia. Prenúncio bom, numa terra de secas persistentes. O primeiro percurso na cidade disse muito: casas inacabadas, umas por cima das outras, cinzentas, no meio da poeira, e sem água. Muito lixo, um pouco por todo o lado.
O impacto foi forte. A Ana Isabel, de Medicina, reconhece: - “Nunca mais vou esquecer isto… como é possível viver assim. E pensar que tudo o que possamos fazer agora não é nada para o que seria necessário "
O alojamento era na escola secundária, de construção recente, e atraente. Mas, nem água canalizada nem electricidade. A rotina diária, logo de manhã, era acarretar água... Entretanto, montou-se uma capela. Perto, a escola primária, de construção mais antiga, ficou destinada às actividades com a população.
Bastou divulgar no bairro as actividades para choverem as inscrições. Crianças, jovens e senhoras. As crianças tinham, de manhã, teatro, artes, catequese e jogos. À tarde uma intensa actividade ambiental: apanha de lixo e respectiva separação, campanha de sensibilização porta a porta no bairro com 2 ou 3 canções alusivas à higiene, cerimónia do compromisso de proteger o ambiente, e grande pintura mural: “Calabaceira limpa, Calabaceira bonita”.
A tarde era também para adolescentes, jovens e adultos. A dança e bijutaria causaram atracção especial. Certo dia uma das participantes alerta: “Gostávamos de aprender a usar todos os talheres… Podíamos ter umas aulas e aprender como se está à mesa?” Imediatamente se organizaram umas aulas coordenadas pela Maria Coutinho.
Outro desejo grande dos participantes era o de que houvesse aulas de cozinha. Não estava previsto no programa por falta de condições. Mas dada a insistência, resgatou-se a cozinha dos maus cheiros, e a culinária teve êxito até ao fim.
Entretanto, a Gisela, a Inês e a Sofia recuperaram três computadores velhos que não funcionavam. Com os três novos do contentor começaram as aulas de informática, de iniciação e de aprofundamento. Ultrapassando a dificuldade de formar turmas homogéneas, a Sofia atendia todos os dias gente nova, de todas as idades.
A Patrícia e Helena Nunez, finalistas de Psicologia, deram duas sessões sobre a vida familiar para casais. Depois, a pedido de um grupo de professores, uma outra sobre a indisciplina na sala de aula.
Mas o mais impressionante foi o trabalho da equipa médica. Sob a orientação da Mila Ruas, pediatra, e da Teresa Ferro, médica de Medicina Interna, as finalistas de Medicina Anca e Ana Isabel começaram também a atender os casos mais simples.
A voz correu pelo bairro e redondezas, por isso a afluência crescia cada dia. Já antes das oito da manhã, acorriam pessoas para as consultas. A Carolina, aspirante a Medicina e secretária deste “consultório”, coordenava mais de 90 por dia.
Noutra zona da escola, a Raquel, aluna de enfermagem, a Catarina e a Cátia, alunas de Medicina dos primeiros anos, tratavam de curativos e pensos.
Nos fins-de-semana, o capelão do voluntariado celebrou missa campal para todo o bairro, pois nesta zona só há missa duas vezes por mês. Sempre se juntava muita gente das redondezas.
Uma das voluntárias, a Brígida, gestora de uma empresa de consultadoria e formação, com o apoio da Direcção Geral de Educação, ministrou um curso para directores das escolas primárias e secundárias da capital. O Secretário de Estado da Educação participou na sessão inaugural e pediu a continuação deste tipo de acções de formação profissional.
No final organizou-se uma festa de luz, cor e alegria. Todos tiveram tempo para actuar. Apareceu a TV local para filmar e dar a conhecer o trabalho realizado.
Ao longo dos próximos meses um grupo de trabalho, entretanto constituído, estudará como contribuir para a melhoria das condições de vida do bairro. E para voltar, no próximo ano.
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