Banco do Brinquedo: 10 anos a dar e receber

Em 2008, um grupo de crianças de Lisboa começou a dar um dos seus brinquedos novos a outras que não tinham possibilidade de festejar assim o Natal. Nestes 10 anos, crianças de 17 instituições diferentes já aderiram ao projecto que já distribuiu milhares de brinquedos. Cristina Corrêa Nunes, Maria Lúcia Alves Mendes e Margarida Palmeirim, supranumerárias do Opus Dei, contam a sua história.

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Como nasceu a ideia?

“Não era bom que os nossos filhos e os dos nossos amigos aprendessem desde pequenos a prescindir de alguma coisa do que recebem no Natal, e pensassem noutras crianças?”

A Cristina Corrêa Nunes pertence a uma família que já tem a solidariedade no seu ADN. Já com os filhos crescidos, encontrou no Opus Dei o caminho para que a sua fé cristã pudesse desenvolver-se e expandir-se. À medida que ia conhecendo a vida de S. Josemaria, os ensinamentos de criança reviviam e as ideias fervilhavam:“Não era bom que os nossos filhos e os dos nossos amigos aprendessem desde pequenos a prescindir de alguma coisa do que recebem no Natal, e pensassem noutras crianças?” O que para eles é supérfluo pode ser uma ajuda real a crianças necessitadas. É conhecido dos que observam ou se dedicam profissionalmente à infância que um brinquedo nas mãos de uma criança é uma ferramenta importante para o seu desenvolvimento: serve para descobrir o mundo e a sua realidade. O educador sabe que o importante não é o objeto, mas sim o que ele provoca, a capacidade que tem de fazer com que ao brincar, explore a sua fantasia, entre em relação com os outros e, com isso seja mais feliz.

E, como a Cristina via que a ideia era grande demais para pôr em prática só com o seu coração e vontade de concretizar, começou a olhar à volta. Sem a conhecer antes, soube que a Maria Lúcia Alves Mendes estava a chegar ao fim da sua carreira como professora e Diretora do Colégio Mira-Rio e apresentou-lhe a ideia. A Maria Lúcia traria consigo a experiência educativa, que era o cerne do projeto: fazer com que desde cedo os mais novos interiorizassem os valores da generosidade e da solidariedade.

Entre o sonho e os pés na terra, decidiram que o Banco do Brinquedo seria a iniciativa principal, mas não a única de uma instituição mais ampla: a ac 2 (Associação de Cooperação eCultura). E quem melhor do que a Margarida Palmeirim, do Opus Dei como elas, recentemente aposentada do seu trabalho na Gulbenkian? Estava criada a equipa, em que viriam a envolver-se filhos e netos, pois desde o início o projeto manteve o caráter familiar e aberto que as fundadoras desejavam.

Mais um “depósito” para o Banco do Brinquedo no Centro Comercial Vasco da Gama

A meio do percurso, os brinquedos vieram também a dar lugar a livros que chegaram à Guiné-Bissau, a Cabo Verde e a Moçambique; como cada criança tem atrás de si uma família, a chegar à criação de Cabazes de Natal festivos com tudo o que uma família de classe média gostará de ter na mesa.

Na primeira edição, em 2008, foi o Centro Comercial Colombo a acolher a iniciativa do Banco do Brinquedo e o convite para associar o seu rosto à campanha foi feito à artista Katia Guerreiro, que prontamente acedeu.

Como foi crescendo a adesão?

Para dar a conhecer a ideia, fez-se um jantar alargado na Quinta dos Gafanhotos, a que se apresentaram 300 pessoas. E foi surgindo o mote que caraterizaria este trabalho: “nós damos, nós recebemos”. A perspetiva do projeto é educar quem dá. Começaram a constituir-se equipas responsáveis pelos diferentes setores. A lista de nomes seria longa. Mais tarde, veio a constituição de uma delegação no Porto. A grande força são mesmo os voluntários que, de cada vez se disponibilizam para o que é mais preciso e arrastam consigo as famílias, em que todos colaboram, de acordo com as idades.

O Banco do Brinquedo já chegou, por exemplo, a diferentes núcleos da Refood, ao Bairro 6 de Maio, à Associação Emergência Social, ao Bairro do Alto do Loureiro, aos Centro Sociais de Famões, de Camarate, à Fonte da Prata, à Assistência de Santos.

O Banco do Brinquedo já chegou, por exemplo, a diferentes núcleos da Refood, ao Bairro 6 de Maio, à Associação Emergência Social, ao Bairro do Alto do Loureiro, aos Centro Sociais de Famões, de Camarate, à Fonte da Prata, à Assistência de Santos. Também as crianças internadas no Hospital D. Estefânia recebem, com um afeto muito especial, todos os anos, o apoio desta iniciativa.

Uma iniciativa do Banco do Brinquedo no Centro Comercial Colombo

Há o trabalho constante e, claro, os “picos”na altura da preparação dos brinquedos: em cada um assinala-se o nome próprio e a idade da criança a que se destina com um cartão alusivo; os cabazes de Natal (atualmente, 200) são preparados e entregues, de acordo com o perfil da família a que se destinam: idosos a viver sós, casais, e, se há crianças pequenas, os mimos próprios dessas idades. Há também os que colaboram com donativos em dinheiro, o que ajuda muito. A igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Rato, empresta os locais para a preparação dos cabazes. O padre Ismael, sabendo que para alguns dos cabazes, ainda só havia bacalhau e arroz, fez um apelo à generosidade dos que o ouviam. No fim da Missa, logo uma pessoa veio com um “Eu ajudo”, pediu dados sobre a quantia exata necessária e tudo ficou resolvido. Este ano, antes de se ter iniciado a campanha, alguém já entregou 200 litros de azeite…

Como se transmite a ideia?

Na sua maioria, em escolas, a que uma das promotoras do Banco do Brinquedo vai falar aos responsáveis, ou diretamente às crianças nas turmas: trata-se de que, como foi dito, quem quiser, traga, no início de janeiro, um dos brinquedos novos que recebeu no Natal para o dar a outra criança que tenha menos que ela. Há uns anos, no Colégio de Santa Maria, além dos brinquedos, os alunos criaram um mealheiro, que entregaram com as suas poupanças: 150 euros. No Colégio Alemão, um dos meninos ofereceu uma bicicleta em muito bom estado, acompanhada por um cartão: “Espero que a estimes tão bem como eu” . Para os pais, é também uma ajuda ver como as crianças vão ficando mais generosas; a mãe de uma aluna do Colégio Mira-Rio ficou surpreendida, porque a filha queria usar a mesada, sem lhe pedir ajuda, para o Banco do Brinquedo.Os alunos do Colégio S. Tomás, no ano passado, apresentaram-se no ginásio, cada um com o seu brinquedo, e fizeram questão de ser cada um a pô-lo na mala dos carros que os vinham buscar.

Todos colaboram na preparação dos cabazes de Natal

Na altura em que estavam a recolher livros novos ou em bom estado para Dwidwane, em Moçambique, depois de terem explicado as caraterísticas da zona, uma criança do interior do país pediu à mãe dinheiro para comprar um livro: A resposta que recebeu foi que eram muito pobres e nunca tinha tido dinheiro para lhe comprar livros. Mas foi o filho que a deixou a pensar: “Mas este é para um menino mais pobre do que eu”!

E que havia para contar na festa dos 10 anos?

Além de reunir os amigos e conhecidos e muitos dos que têm participado na programação anual na área da Cultura, o dia 17 de novembro foi festejado com um almoço e um painel no Hotel Mundial, em Lisboa. Era preciso chamar mais pessoas, visto que as solicitações continuam a aumentar e pôr a pensar em como podem responder melhor aos desafios da sociedade, através de um voluntariado constante e consciente. E, nada como uma grande notícia para estimular! Já estava em andamento uma nova linha de trabalho, que surgira pouco antes.

Uma campanha do Banco do Brinquedo que contou com a colaboração da fadista Katia Guerreiro

Quantos brinquedos antigos ou que já não são usados têm em casa? Todos temos na arrecadação ou no sótão brinquedos antigos que já não são usados.

A Rita Xavier tinha-lhes batido à porta com um projeto próprio: o MAINAN, que significa “brinquedo” em indonésio, com objetivos em parte coincidente com o do Banco. Com palavras da apresentação, dizia-se querer “fazer sonhar as crianças de países subdesenvolvidos ao mesmo tempo que ensinamos a reduzir, reciclar e reutilizar as crianças dos países desenvolvidos. Quantos brinquedos antigos ou que já não são usados têm em casa? Todos temos na arrecadação ou no sótão brinquedos antigos que já não são usados. A Mainan tem como objetivo dar uma segunda vida a esses brinquedos doando, cada um desses rastos de infância esquecidos, a crianças que vão fazer deles um sonho novo.” Com uma carta aos sócios, e a colaboração de várias lojas Lanidor para depositar as doações, foram angariados 6000 brinquedos e embarcados num contentor que chega a tempo de os descarregar e entregar antes do Natal na Indonésia.

Dezembro é a altura dos “picos” de trabalho. Todas as mãos são poucas! E o Banco do Brinquedo tem também uma outra necessidade: precisa de uma sede simples para guardar o material que vai chegando ao longo do ano, com uma sala para as reuniões de trabalho e um computador. Quem sabe se não vai ser esse o presente de Natal para quem o promove?

BANCO DO BRINQUEDO
Contacto: ac2.geral@gmail.com
https://voluntariadong.blogspot.com/2008/11/banco-do-brinquedo.html