«As portas do Opus Dei estão abertas para todos»

Entrevista com o número dois desta prelatura pessoal que completa 25 anos de existência

ROMA, quarta feira 19 de Março de 2008. - Monsenhor Fernando Ocáriz (Paris, 1944) é o colaborador mais próximo do prelado do Opus Dei, D. Javier Echevarría. Nesta entrevista o vigário geral do Opus Dei revela, à luz dos primeiros 25 anos depois de ter sido erigido como prelatura pessoal - a única que existe em todo o mundo -, qual é a relação desta instituição com as dioceses e explica que aquele que por vezes é considerado o «poder» da «Obra» não é mais que o poder que deriva do Evangelho.

Monsenhor Ocáriz recebeu Zenit na sede situada em Villa Tevere, na Cidade Eterna, onde está sepultado o fundador do Opus Dei, S. Josemaria Escrivá de Balaguer.

Este sacerdote é físico e teólogo. Autor de numerosas publicações filosóficas e teológicas, especialmente no âmbito da filosofia da história e da cristologia, é desde 1986 consultor da Congregação para a Doutrina da Fé.

Também é membro da Academia Pontifícia Teológica e, desde o dia 23 de Abril de 1994, é o vigário geral do Opus Dei.

- O Opus Dei nasceu para ajudar os leigos na sua vida normal. Os leigos fazem parte da prelatura do Opus Dei, ou a prelatura é só para a parte - mínima - de sacerdotes do Opus Dei?

- Monseñor Ocáriz: O Opus Dei nasceu precisamente para difundir e recordar a todos -- sacerdotes e leigos -- o chamamento universal à santidade. Tal como ensinou S. Josemaría desde 1928, esta universalidade, isto é, o facto de Deus chamar cada uma das pessoas, traz consigo, além disso, que todas as circunstâncias humanas honradas -- o trabalho profissional, as relações familiares e sociais -- podem e devem ser uma realidade santificada e santificadora.

Como disse o Cardeal Joseph Ratzinger a propósito da canonização do fundador do Opus Dei, a mensagem de S. Josemaria Escrivá ajudou a corrigir um conceito equivocado de santidade, como se fosse uma coisa reservada para alguns «grandes». A santidade é fazer-se amigo de Deus, deixar o Outro agir, o Único que pode fazer que este mundo seja bom e feliz.

Os leigos do Opus Dei, mulheres e homens, casados e solteiros, são parte integrante da prelatura, tal como os sacerdotes que constituem o presbitério. A relação entre estes ministros sagrados e os fiéis leigos é a que é própria da Igreja.

Simultaneamente, cada leigo pertence também à Diocese onde reside, do mesmo modo que os outros católicos. João Paulo II recordou isso mesmo por diversas vezes, referindo-se concretamente ao Opus Dei: o sacerdócio ministerial dos clérigos e o sacerdócio comum dos fiéis leigos unem-se e entrelaçam-se, em unidade de vocação e de regime, para cumprir a missão evangelizadora da Prelatura, sob a orientação de um Prelado.

- O Opus Dei é a única prelatura pessoal que existe actualmente. Têm sido consultados por outras instituições eclesiais que desejam ser uma prelatura pessoal?

- Monseñor Ocáriz: De facto, por agora é a única prelatura pessoal. No entanto, na Igreja há outras circunscrições eclesiásticas delimitadas também por critério pessoal, para diversas necessidades pastorais.

Por exemplo, os ordinariatos que existem nalguns países para o atendimento de fiéis de rito oriental, os ordinariatos militares e uma administração apostólica pessoal erigida há alguns anos no Brasil.

A constituição de uma prelatura pessoal compete exclusivamente à Santa Sé; além disso, o Direito Canónico prevê que para a sua erecção se consultem as conferências episcopais interessadas.

É uma decisão pastoral que tem em vista favorecer a missão da Igreja num mundo caracterizado pela mobilidade das pessoas. Por exemplo, nas Exortações apostólicas pós-sinodais Ecclesia in America e Ecclesia in Europa, João Paulo II refere as prelaturas pessoais como uma possível solução para as pessoas necessitadas de uma peculiar atenção pastoral, concretamente para grupos de emigrantes.

Também é possível que, como aconteceu no caso do Opus Dei, a acção do Espírito Santo, que chama alguns a realizar determinadas tarefas apostólicas, dê origem a umas necessidades pastorais que requeiram uma estruturação como prelatura pessoal.

Não tenho conhecimento de que o Opus Dei tenha sido consultado por instituições que tenham pensado na possiblidade de ser prelatura pessoal. Porém, é, sim, relativamente frequente chamarem pessoas do Opus Dei para explicar a experiência da Prelatura nestes anos: em congressos, jornadas de estudos, reuniões pastorais, etc.

- Há alguma verdade quando se afirma a alegada independência - ou autonomia, se preferir - do Opus Dei pelo facto de ser juridicamente uma prelatura pessoal?

- Monseñor Ócariz: A realidade é exactamente a contrária. Erigir uma prelatura significa precisamente «dependência»: colocar uma parte do povo cristão na dependência pastoral de um membro da hierarquia eclesiástica.

Não tem sentido falar de independência ou autonomia pois, pelo contrário, o Opus Dei depende de um prelado nomeado pelo Romano Pontífice.

O prelado e os seus vigários exercem a potestade eclesiástica em comunhão com os outros pastores, sob a autoridade suprema do Papa, de acordo com as normas universais da Igreja e com as normas particulares contidas nos Estatutos que a Santa Sé estabelece para a Prelatura.

Penso que a experiência da presença do Opus Dei em numerosíssimas dioceses dos cinco continentes pode ajudar a compreender que, também do ponto de vista prático, a novidade das prelaturas pessoais, introduzida pelo Concílio Vaticano II, não prejudica a unidade das Igrejas particulares, pelo contrário, significa um serviço a estas igrejas na missão evangelizadora geral da Igreja.

Tal como escreveu Bento XVI ao actual prelado, D. Javier Echevarría, por ocasião do quinquagésimo aniversário da sua ordenação sacerdotal, «quando fomentas o desejo de santidade pessoal e o zelo apostólico dos teus sacerdotes e leigos, não só vês crescer a grei que te foi confiada, como proporcionas um auxílio eficaz à Igreja na urgente evangelização da sociedade actual».

- É correcto dizer que há «bispos do Opus Dei»?

- Monseñor Ocáriz: Depende do que se quer dizer com a frase. Quando um padre do presbitério da prelatura é chamado pelo Santo Padre ao episcopado, como aconteceu algumas vezes, dá-se o mesmo que acontece com qualquer sacerdote diocesano: deixa de estar incardinado na circunscrição eclesiástica de onde procede, embore continue a receber assistência espiritual da prelatura. Tem a mesma condição canónica de qualquer outro bispo.

Como é óbvio, o prelado do Opus Dei não tem qualquer jurisdição sobre a missão episcopal desses bispos.

- Imagino que, para si, não há um antes e um depois, no Opus Dei, por causa do fenómeno do Código da Vinci.

- Monseñor Ocáriz: Evidentemente, não. Atribuir a esse romance um tal impacto histórico que marcasse um antes e um depois no Opus Dei, não faz muito sentido.

Coisa diferente é o impacto que possa ter produzido nalgumas pessoas. Sem ignorar a desorientação que esse género de literatura pode causar nalguns leitores, sei também que muitas pessoas decidiram entrar em contacto com a prelatura e com as suas actividades de formação cristã, precisamente como consequência da informação sobre a Obra que então circulou, para contrabalançar com serenidade as falsidades do livro.

Também foram muito numerosas as demonstrações de solidariedade com o Opus Dei por parte de jornalistas, escritores, e outras pessoas que seguiram mais de perto a informação sobre o tema. Experimentámos, também a propósito disso, uma fantástica solidariedade eclesial: são momentos em que se sente que a Igreja é uma família.

- Às vezes há quem fale do «poder» do Opus Dei. No seu entender, porque é que se criou esta imagem?

- Monseñor Ocáriz: Apesar das limitações pessoais -- nem somos, nem nos julgamos “os melhores da turma” --, Deus abençoou com muitos frutos apostólicos o trabalho de almas do Opus Dei. 

Visto humanamente, talvez isso possa parecer para alguns uma expressão de «poder».

De facto, a Obra é uma pequena parte da Igreja, e o seu «poder» está no poder de onde provém: o Evangelho que - no dizer de S. Paulo - é «força de Deus para a salvação de todo aquele que crê». E o Espírito Santo que suscita os frutos da acção dos fiéis do Opus Dei ,na Igreja e mediante a Igreja.

Aos que se aproximam de uma actividade apostólica promovida pela prelatura -- e as suas portas estão abertas para todos -- é-lhes aberto um horizonte de vida cristã.

Quem se aproximasse da Obra procurando influências humanas ou outro tipo de bens que não sejam espirituais, não conseguiria aguentar muito tempo: só ouviria falar de amor a Jesus Cristo e à Igreja, de compromisso cristão, de vida espiritual e de serviço generoso aos outros.

Nota de redacção

A entrevista acima foi traduzida para português pelo Gabinete de Informação do Opus Dei em Portugal. No site da agência Zenit, encontram-se disponíveis os originais desta entrevista em várias línguas, nomeadamente:

- Espanhol - https://www.zenit.org/article-26730?l=spanish

- Italiano - https://www.zenit.org/article-13884?l=italian

- Português do Brasil - https://www.zenit.org/article-17925?l=portuguese

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