Tenho 22 anos, sou o oitavo de uma família com 10 filhos e sou membro do Opus Dei há pouco mais de 2 anos. Estudei num colégio e num liceu público próximo de minha casa.
Os meus pais são supranumerários. Significa, portanto, que conheço o Opus Dei desde muito pequeno.
Por volta dos 13-14 anos, comecei a assistir às actividades para jovens no Club Fennecs; praticava-se desporto e havia actividades culturais. Ia lá com o meu irmão porque me agradava muito o ambiente. Creio que ia lá sobretudo porque as pessoas eram simpáticas.
Era uma imposição dos vossos pais?
Na minha família não nos obrigavam a nada. Cada um de nós podia frequentar estas actividades se quisesse e porque o queria. Vivíamos longe de Paris e era preciso ir de comboio, portanto tínhamos mesmo que querer ir! Mas eu gostava de lá ir para conversar com a malta e discutir com o capelão do Clube (não para me confessar, mas para discutir simplesmente).
Quando frequentava o liceu disseram-me que precisava de ser mais regular. Então decidi ir lá todos os Sábados. Chegava ao Clube no momento do terço e encontrava um grupo que rezava numa sala normal, que não era o Oratório. Isso agradava-me muito.
Nessa altura descobri o acompanhamento espiritual, abrir-me ao sacerdote ou a um leigo em quem se tem confiança. Isso ajudou-me a fixar objectivos para a minha vida quotidiana.
Dentre eles, o que mais me tocou foi a presença de Deus (a possibilidade de falar com Deus em qualquer sítio e não somente numa igreja); a organização do dia, poder dedicar tempo à oração e ao trabalho simultaneamente, a Deus e aos outros.
Descobri também Caminho, de S. Josemaria (estava lá em minha casa, mas nunca o tinha aberto!)
A minha percepção da fé mudou, entretanto. De sentimento impessoal que se vive em casa, transformou-se em convívio, em familiaridade com Deus e testemunho. Adquiri a reputação de “católico” e aprendi a tirar partido dela e a descobrir a alegria de falar com os meus amigos, muitas vezes curiosos e preocupados com a questão.
Como se colocou a questão de ser do Opus Dei?
Não foram, seguramente, os meus pais. Têm uma fé muito forte mas insistiram sempre em deixar em liberdade cada um.
À força de receber formação cristã e de a viver, o espírito compromete-te. O espírito é um espírito laical: vive-se a fé na sociedade, a fé manifesta-se nas obras. Posso ter uma intimidade muito grande com Deus e ter, ao mesmo tempo, uma vida perfeitamente normal! Não sou em primeiro lugar católico e depois amigo, ou somente amigo dos católicos. Seria muito triste! Eu sou o Arnaud!
E a vocação?
Coloquei-me essa questão aos 18 anos, no decurso de uma viagem humanitária ao México. Reflecti sobre o que Deus queria para mim.
Nos dois anos seguintes fui viver para Espanha e aí descobri um “outro” Opus Dei, muito mais desenvolvido que em França, com pessoas muito diferentes que viviam uma mesma vocação. Isso ajudou-me a ultrapassar os meus preconceitos e pensei que Deus me chamava.
Descobri também este espírito de família próprio do Opus Dei. Partilham-se coisas em conjunto, tem-se uma sensibilidade comum perante certos acontecimentos. Por exemplo, no Natal, fomos à Missa, seguida de ceia, com os meus pais, irmãos e irmãs (que não são do Opus Dei) a um Centro Foi um momento muito forte, estava-se muito bem, apesar de não nos conhecermos.
O Opus Dei dá-me um apoio para lutar contra o desânimo, a falta de desejos. A fé é óptima, mas não é fácil todos os dias e os sentimentos, só por si, não são suficientes.
Qual a percepção que os jovens têm da Igreja?
A palavra de Cristo não passou de moda, porque se dirige a todo o tipo de pessoas sobre problemas que dizem respeito a todos. Somos os mesmos homens que os que conheceram Cristo.
Para mim a Igreja, não é uma Instituição que nos exige o cumprimento de uma lista de deveres, mas um canal que transmite a mensagem de Cristo. Ora Cristo conheceu as mesmas alegrias e as mesmas penas que nós, o que nos torna muito próximos.
Penso que é necessário saber explicar isso com tacto e compreensão. Para falar de questões morais, a amizade resolve muito bem os problemas.
A moral é natural, pode-se explicar naturalmente, sem necessidade de falar de Deus, mesmo que sem razão, as pessoas digam «pensas assim porque és católico!».
Uma palavra sobre o serão, de que gosta particularmente…
Gosto muito de concertos, de serões, mas prefiro de longe sentar-me à volta de uma cerveja para me divertir, conversar e fazer amizade com as pessoas. Penso que é para isso que deve servir um serão.