No próximo dia 4 de março será apresentado no “Colegio de Ingenieros de Caminos” de Madrid o livro " Álvaro del Portillo: un hombre fiel " (Rialp, 2012), a última biografia do sucessor de São Josemaría Escrivá de Balaguer à frente do Opus Dei na qual se sucedem páginas de entusiasmo contagioso pela eloquente beleza da entrega e da santidade.
As grandezas de uma vida plena são escritas, preto no branco, por Javier Medina Bayo (Bizkaia, 1950), sacerdote, Doutor em Ciências da Educação e em Filosofia e testemunha pessoal privilegiada dos 24 últimos anos de vida de D. Álvaro del Portillo.
Com o livro já publicado desde o passado mês de outubro e o seu protagonista declarado Venerável por Bento XVI, prepara-se o evento de uma apresentação exclusiva em Espanha falando com o seu autor. Um dia 19 de fevereiro é um dia oportuno para falar de D. Álvaro, tendo a sua fama de santidade sempre como pano de fundo. É uma forma muito jornalística de lhe dizer: muitos parabéns!
Quem é D. Álvaro del Portillo na história da Igreja?
D. Javier Echevarría sucessor de D. Álvaro como Prelado do Opus Dei afirmou, em mais do que uma ocasião, que considera D. Álvaro “um gigante no firmamento eclesial” da segunda metade do século XX.
Esta grandeza provém, em primeiro lugar, da sua fidelidade a Deus, que o Papa Bento XVI confirmou solenemente no passado dia 28 de junho, ao conferir-lhe o título de Venerável; quer dizer, ao declarar solenemente que D. Álvaro viveu em grau heróico todas as virtudes cristãs e goza de fama de santidade na Igreja.
São muitos os motivos pelos quais D. Álvaro ocupa um lugar destacado na história da Igreja contemporânea. Espero que alguns se vejam com clareza na biografia que escrevi.
Poderia destacar alguns motivos?
Um sacerdote que com a sua palavra e, sobretudo, com o seu exemplo, fez muito bem a milhares de homens e de mulheres dos cinco continentes. Um acérrimo defensor da liberdade das pessoas. Um grande jurista e teólogo que deu uma contribuição importante à doutrina e ao direito da Igreja. Um sacerdote que transmitia paz a quem convivia com ele.
E o que é que representa D. Álvaro del Portillo na história do Opus Dei?
Durante quase quarenta anos, até ao dia 26 de junho de 1975, foi a ajuda mais firme e o colaborador mais próximo de São Josemaria; depois, o seu sucessor fidelíssimo à frente do Opus Dei, que se propôs, como programa de governo, a absoluta lealdade ao espírito que o Fundador tinha deixado não só escrito, mas esculpido, como gostava de repetir.
Penso que a manifestação mais importante dessa fidelidade foi a ereção do Opus Dei como prelatura pessoal, concedida por João Paulo II no dia 28 de novembro de 1982. Era a configuração canónica adequada ao carisma fundacional da Obra, que o Fundador tinha deixado preparada, embora não a tivesse podido ver realizada na terra.
Como se manifestava na prática o seu amor à Igreja e ao Papa?
Na minha opinião, o mais “prático” é rezar sempre pela Igreja e pelo Papa. Por isso, aqueles que mais ajudam a Igreja e o Papa são os santos. Dito isto, comovem-me de modo particular as manifestações de amor filial que D. Álvaro tinha com os Romanos Pontífices; atuava sempre como um filho que só deseja dar alegrias ao seu pai.
Quais são os sinais de identidade da sua fama de santidade?
D. Álvaro procurou a santidade no cumprimento dos seus deveres correntes: primeiro, como engenheiro; depois, como sacerdote e como bispo. Isso sim, o seu cumprimento era amoroso, fundamentado e alimentado por um trato intenso com a Trindade, um grande amor à Santíssima Eucaristia e aos outros sacramentos, uma terna devoção a Nossa Senhora.
Sublinhei que o “cumprimento” dos seus deveres era “amoroso”, porque – como nos explicou muitas vezes – para um cristão não é suficiente um simples “cumprir por cumprir”; se nos limitamos a isso, o cumprimento termina depressa num “cumpro e minto”. O cristão deve fazer tudo – mesmo o que pareça mais intranscendente – por amor a Deus e aos outros.
Que importância teve D. Álvaro na vida e na santidade de São Josemaria?
São Josemaria chamou-lhe saxum , “rocha”; penso que não é necessário acrescentar mais nada.Se São Josemaria é o santo da vida corrente, D. Álvaro será...
...Outro santo da vida corrente. É o espírito do Opus Dei. Além disso, acrescentaria – é uma opinião completamente pessoal – que D. Álvaro constitui um exemplo luminoso de fidelidade à Igreja e ao Papa, aos compromissos cristãos de cada um; a São Josemaria e aos fiéis do Opus Dei; aos seus amigos e parentes, e aos seus colegas de trabalho.O que é que mais lhe chamou a atenção ao conhecer a sua vida com detalhe?
Impressionou-me muito a sua fé, tinha uma fé gigantesca. Por exemplo, durante os 19 anos que dirigiu a Obra, começou-se o trabalho apostólico estável em 20 novos países; impulsionou iniciativas de grande alcance social – desde clínicas em países de África, da Europa e da América, a escolas e universidades nos diversos continentes – e muitos outros trabalhos de todo o tipo. Em 1983, face às dificuldades para começar a Universidade Pontifícia da Santa Cruz , que eram inegáveis, comentou: “Não podemos deixar-nos levar pela falsa objetividade, que leva a descobrir as dificuldades para levar por diante um projeto — a falta de meios económicos, a incompreensão de outras pessoas... — e esquecer que no outro prato da balança está a graça de Deus, que é mais poderosa”. Era essa a fé de D. Álvaro.Todos os homens têm defeitos. Quais eram as lutas de D. Álvaro e como as superava?
Era uma pessoa como nós, completamente normal. Imagino que, habitualmente, a sua luta consistiria no cumprimento do pequeno dever de cada instante, porque é onde Deus nos espera.D. Álvaro ou a força do sim. Do sim, a quê?
A Deus. E por Deus, à Igreja, ao Papa, ao Opus Dei e ao seu Fundador, a todas as almas. Era um sim total.