A Verdadeira Face do Opus Dei

Em 29 de Julho do presente ano, o Prelado do Opus Dei foi entrevistado por um jornal polaco. D. Javier Echevarría falou da estrutura e do espírito do Opus Dei, da resposta moderada que foi dada ao livro “Código da Vinci” e dos planos para o 80º aniversário da Prelatura.

Wlodzimierz Redzioch : - D. Javier preside a uma organização da IgrejaCatólica que tem atraído a atenção dos media em todo o mundo. Infelizmente, por via de regra, apresentam uma visão deformada da instituição. Poderia dizer-nos o que é o Opus Dei?

D. Javier Echevarría: - São Josemaria Escrivá de Balaguer repetia muitas vezes que o Opus Dei é “O caminho de Deus para os cristãos que querem viver como verdadeiros cristãos.” O objectivo dos membros do Opus Dei não é fazer coisas espectaculares. São cristãos correntes que tentam chegar à santidade nas suas vidas diárias. Uma vez que a Prelatura, que é uma instituição da Igreja, inclui sacerdotes e leigos, isto é, gente corrente, sentimo-nos à vontade no mundo, no meio da gente, no trabalho, nas nossas famílias… Eu diria mesmo mais, não só nos sentimos bem no mundo, mas amamos o mundo, amamos a vida quotidiana com as suas mil obrigações e tarefas. Não se pode ser cristão só na igreja, é preciso ser-se cristão nas ocupações correntes e prosaicas da vida quotidiana. É preciso levar uma vida de fé em Deus, de esperança e amor por todos - como o fizeram os primeiros Cristãos – e então cada dia se torna um dia santo. Esta ideia da “grandeza” da vida diária é o núcleo central da mensagem de São Josemaria, um ideal que, graças a Deus, é partilhado por muita gente, mesmo dos que não pertencem ao Opus Dei.

Quanto ao interesse dos media na Prelatura, julgo que resulta do facto de haver tantas pessoas que, através do Opus Dei, se apaixonaram pela descoberta do sentido transcendente da realidade em que se insere a nossa vida. Numa palavra, trata-se de qualquer coisa que ainda “atrai” as pessoas para o Cristianismo, como Bento XVI tem sublinhado em várias ocasiões.

W. Redzioch: O Opus Dei costuma ser conhecido como prelatura pessoal. Sabemos bem o que são as congregações religiosas ou os institutos de vida consagrada, mas a maioria dos católicos não tem a mínima ideia do que possa significar “prelatura pessoal”. Pode explicar-nos este termo?

D. Javier Echevarría: Uma prelatura pessoal é diferente duma congregação religiosa e dum instituto de vida consagrada. É uma estrutura da Igreja Católica à qual podem pertencer quer sacerdotes quer leigos e que é presidida por um prelado…

W. Redzioch: Então poderemos dizer que esta estrutura é semelhante a uma diocese com fiéis em todo o mundo…

D. Javier Echevarría: De facto não, porque uma prelatura não pretende ser uma Igreja particular. W. Redzioch : Será talvez melhor compará-loa um ordinariato castrense?

D. Javier Echevarría: Essa comparação é de facto melhor

W. Redzioch: Trabalhou muitos anos junto do fundador do Opus Dei. Que recordações tem de São Josemaria?

D. Javier Echevarría: É claro que me lembro de muitas coisas, mas o que mais me impressionou em São Josemaria foi a sua alegria, a sua fidelidade à Igreja e o seu amor a toda a gente. Sempre que tenho de actuar procuro imaginar o que faria São Josemaria numa situação determinada. Ele foi capaz de criar, a partir do nada, esta maravilhosa realidade no seio da Igreja, estendida a todo o mundo, que é hoje o Opus Dei – não só os leigos e sacerdotes que pertencem à Prelatura, mas também os milhões de pessoas que com ela cooperam. É verdade que a Prelatura não existiria sem a acção da graça de Deus, mas tampouco seria possível sem a resposta de uma pessoa – São Josemaria – ao chamamento de Deus.

W. Redzioch: São Josemaria reuniu grande parte dos seus ensinamentos espirituais num livro chamado “Caminho”, que é um verdadeiro guia espiritual para os membros do Opus Dei. Como pode descrever-se a vossa espiritualidade?

D. Javier Echevarría: Um importante aspecto da vida diária que mencionei antes é, sem dúvida, o trabalho de cada um. Além de estimular a oração habitual e uma sólida vida sacramental, o espírito do Opus Dei centra-se no trabalho que, se desempenhado conscienciosamente e visto como oferta a Deus e serviço ao próximo, pode tornar-se meio de santificação e encontro com Cristo. No livro que mencionou São Josemaria escreve: “Para um apóstolo moderno, uma hora de estudo é uma hora de oração.” Outro aspecto da espiritualidade do Opus Dei é a consciência da filiação divina de cada cristão. Deus é Pai, nosso Pai, e este facto, se plenamente entendido, muda radicalmente tudo; faz-nos encarar todos os desafios da vida quotidiana dum modo positivo. E também tenho de mencionar a liberdade, que ocupa um lugar de relevo na mensagem de São Josemaria uma vez que se nos apresenta como estímulo de um compromisso cristão ao mesmo tempo que é inseparável da responsabilidade pessoal.

W. Redzioch: Que relacionamento tiveram os Papas João XXIII, Paulo VI e João Paulo II com o Opus Dei?

D. Javier Echevarría: O relacionamento entre o Opus Dei e os Papas que citou foi íntimo e profundo. É claro que também temos de mencionar Pio XII, João Paulo I e Bento XVI. Pelo que se refere a João Paulo II posso dizer que foi como um pai para o Opus Dei. Foi o Papa que erigiu o Opus Dei como Prelatura Pessoal em 1982, depois de anos de preparação, iniciada durante o Concílio Vaticano II e desenvolvida ao mesmo tempo que se preparava o novo Código de Direito Canónico. Foi também João Paulo II que canonizou São Josemaria em 2002, designando-o como “o santo da vida quotidiana”. Um gesto, particularmente, de João Paulo II impressionou-me profundamente: ao falecer o meu antecessor, D. Álvaro del Portillo, veio pessoalmente à igreja da prelatura para rezar perante os restos mortais do falecido. Anteriormente, em 1984, João Paulo II havia oferecido a D. Álvaro uma reprodução da imagem de Nossa Senhora de Czestochova. Hoje esta imagem ocupa um lugar de honra na sede da Prelatura em Roma. Cada vez que a olho sinto-me unido com todos os católicos na Polónia. E também me recorda as minhas numerosas peregrinações a Czestochova. A primeira foi com D. Álvaro del Portillo em 1979 e a última que fiz, enquanto prelado do Opus Dei, foi na festa de Nossa Senhora de Jasna Gora., em 26 de Agosto de 2005. Estou convencido de que João Paulo II deu muito ao mundo e à Igreja. E sem qualquer dúvida deu muitíssimo ao Opus Dei, graças à sua paternidade espiritual.

W. Redzioch: Para muita gente foi uma surpresa que a resposta da Prelatura às calúnias (difamações?) do livro de Dan Brown, ainda que inequívoca, foi também contida: não moveram um processo contra ele nem procuraram ser indemnizados. Porque é que a Prelatura reagiu deste modo?

D. Javier Echevarría: Gostaria de fazer notar que o mais infeliz aspecto do livro de Brown não é o que ele diz sobre o Opus Dei, mas sim a falsa imagem de Cristo e da sua Igreja que ele apresenta aos seus leitores. O Opus Dei, que é parte da Igreja, é uma realidade jovem, vibrante e bela. As invenções dum escritor podem manchar esta beleza e isto deixa-nos tristes. No entanto, compreendemos que a beleza da Igreja, que inclui o Opus Dei, se revela na sua plenitude quando mostramos o amor de Cristo e não nos rendemos aos sentimentos feridos. Nesta perspectiva o amor é a melhor maneira de apresentar a figura de Jesus Cristo e a realidade da Igreja. Deste modo a nossa reacção, decidida mas também delicada, foi uma manifestação do nosso sentido de responsabilidade. Não esqueçamos que o amor é mandamento de Cristo, mesmo o mais importante dos seus mandamentos.

E repito mais uma vez: o que é mais doloroso no Código da Vinci é o modo como o autor tenta banalizar a Pessoa de Cristo. É bom ver que o novo livro do Papa Bento XVI firmou, no centro do diálogo cultural, a realidade histórica – humana e divina – de Jesus Cristo. É uma maravilhosa oportunidade para que os cristãos e toda a gente cheguem a conhecer Jesus e aprofundem a sua relação com o Filho de Deus que se fez homem.

W. Redzioch: O octogésimo aniversário do Opus Dei ocorre no próximo ano. Como estão a preparar-se para este acontecimento?

D. Javier Echevarría: Antes de mais, cada um de nós prepara-se através de uma conversão pessoal. Temos de perguntar-nos, diante de Deus, como estamos a servir a Igreja, o Papa e os outros?

Pelo que respeita à Prelatura será uma oportunidade para explicar o que é o Opus Dei. Neste momento, quando os 80 anos se aproximam, o Opus Dei está a iniciar o seu trabalho na Rússia e, em breve, estaremos presentes, também, na Roménia.

Tygodnik Katolicki “Niedzela” (Semanário dominical católico), Czestochowa, Polónia