A Eucaristia e o descanso dos filhos de Deus

Aprender a descansar com medida constitui uma obrigação que requer tanta generosidade quanta a exigida pelo trabalho. Cristo, glorioso no Santíssimo Sacramento, escutará as nossas orações e encherá os nossos corações de paz e de alegria.

«Tudo tem o seu momento; e debaixo do céu há um tempo para cada coisa, tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou (..), tempo de destruir e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir (..)». (Qo 3, 1-4)

A necessidade de descanso serve de contraponto à lei do trabalho humano. Tem sido salientado que na música são tão importantes os momentos ocupados pelos sons como os reservados às pausas. Na nossa vida acontece coisa semelhante: é harmónica se sabe distribuir com bom ritmo os tempos de esforço e os de repouso. Por isso, depois de considerar a importância do trabalho na vida de um filho de Deus, e da relação que tem com a alma eucarística, convém lembrar também que o descanso enforma a conduta de um filho de Deus e pode exprimir o seu amor a Jesus sacramentado.

Dar a cada coisa o seu tempo pressupõe dar a cada tempo a sua própria atividade. Se quisermos que o nosso dia produza muito fruto temos de ordenar as diversas atividades. As pessoas necessitam de retemperar as forças consumidas -físicas, psíquicas, espirituais - pela dedicação intensa ao trabalho, e também é muito conveniente reservar algum espaço do dia ou da semana para atividades diferentes da ocupação profissional habitual, imprescindíveis para atender devidamente a família, cultivar a amizade com outras pessoas, aumentar a cultura pessoal; sem esquecer que os momentos de distensão permitem também pensar com calma e profundidade no futuro, pessoal ou das pessoas amadas, no sentido da vida presente e no que vem depois da existência terrena. Interessa também alterar de vez em quando as circunstâncias em que o homem e a mulher se movem - dependendo das reais possibilidades de cada um - , recorrendo umas horas ou alguns dias a outro lugar ou outro ambiente, para voltarmos renovados à situação habitual.

É claro que não é possível viver segundo todas as boas e verdadeiras exigências da pessoa humana se se mantiver um ritmo frenético na atividade profissional. Aprender a descansar com medida envolve em si uma obrigação que requer tanta generosidade como a exigida pelo trabalho e, às vezes, até mais, pois em certas ocasiões pede um desprendimento total dos programas pessoais e uma maior disponibilidade para os planos e as necessidades dos outros. Saber descansar, sem cair no ócio, é ciência que tem muito de sabedoria.

Não quero demorar-me em considerações de natureza física ou psicológica, que um bom médico pode comentar muito melhor do que eu; porém não prossigo sem recordar uma coisa que, embora pareça muito conhecida, às vezes se descuida. Em muitas ocasiões, a conduta ou as reações inadequadas de uma pessoa que cria uma situação familiar ou laboral que atinge o limite do suportável, resolve-se conseguindo que durma o suficiente, que siga uma certa ordem nas refeições, que procure um pouco mais de distração e recorra, se for preciso, à adequada medicação. Uma vez mencionado isto, demoro-me nas implicações do descanso espiritual humano, que muitas vezes são as que mais pesam e as que menos atenção recebem, talvez por não se enfrentarem, com valentia e senso comum, as dificuldades concretas que se apresentam.

Descansar em Deus: abandonar as nossas preocupações n´Ele

Jesus Cristo falou muito do descanso, e nada mais lógico, porque Ele veio trazer paz à nossa alma com a Sua graça, e saúde definitiva ao nosso corpo na ressurreição final, da qual contemplamos o modelo e a causa na Sua gloriosa ressurreição. Desceu à terra para nos libertar dos fardos que nos pesam e das preocupações que nos afligem: o pecado, o medo da morte, as tentações do demónio, o inchaço da soberba, a picadela da inveja, o arrebatamento da ira; e também para despertar em nós tão bons desejos e a muita capacidade que o nosso coração alberga.

Nosso Senhor referiu-se ao descanso desde o primeiro instante da Sua pregação. S. Lucas carateriza o anúncio público que foi o começo da boa nova com este tema. «Chegou a Nazaré, onde Se tinha criado, e segundo o Seu costume entrou na sinagoga no sábado e levantou-Se para fazer a leitura. Então entregaram-Lhe o livro do profeta Isaías e, abrindo o livro, encontrou o lugar onde estava escrito: "O Espírito do Senhor está sobre Mim; pelo que Me ungiu para evangelizar os pobres, Me enviou a sarar os contritos do coração, a anunciar a redenção aos cativos e restituir e vista aos cegos, para pôr os oprimidos em liberdade, e para promulgar o ano da graça do Senhor". E enrolando o livro devolveu-o ao ministro e sentou-Se. Todos na sinagoga tinham os olhos postos n´Ele. E começou a dizer-lhes: Hoje cumpriu-se esta Escritura que acabais de ouvir» (Lc 4, 16-21). Jesus redime os homens do peso de uma consciência culpável, porque perdoa os nossos pecados; porque nos livra da escravidão do príncipe deste mundo, pois vence o maligno e porque nos ajuda a entender o fardo da pobreza, ao declará-la bem-aventurada. Suprime toda a opressão e oferece a todos um tempo de paz e de descanso, um tempo jubilar.

Também S. Mateus coloca cedo este argumento nos lábios do Mestre. O primeiro dos longos discursos que o seu evangelho guarda, abre com as bem-aventuranças, nas quais Jesus faz frente aos motivos de lamentação que amarguram, ou pelo menos nublam, a existência das pessoas: por um lado, a preocupação desordenada pela riqueza, pela alimentação e pelo vestuário, pelos conflitos com as outras pessoas; e por outro, a preocupação geral pela real consistência desta vida e pela relação com os outros. Nosso Senhor resolve uma e outra, ao denominar «feliz» a situação de quem é pobre de espírito, de quem sofre perseguição por amor da justiça, de quem é manso e casto, etc.

Nesse mesmo discurso, como que voltando sobre essas realidades a partir de outro ponto de vista, Jesus ensina a todos os que O ouvem a não andarem ansiosos por causa da comida, do vestuário ou da casa; exorta-nos a todos descansar no nosso Pai que está nos céus, a abandonar na Sua providência apertos e preocupações, convencidos de que Ele nunca se esquece dos Seus filhos e não os maltrata, nem mesmo nas coisas mais materiais. Voltemos a ler, uma vez mais, as Suas palavras:

«Não andeis preocupados com a vossa vida: nem com o que haveis de comer; ou com o vosso corpo, com que vos haveis de vestir. Acaso a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Reparai nas aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem armazenam nos celeiros, e, contudo, o vosso pai celestial alimenta-as. Porventura não valeis vós mais do que elas? Qual de vós, por mais que cogite pode acrescentar um côvado à sua estatura? E por que é vos preocupais com o vestuário? Olhai os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam, mas Eu digo-vos que nem Salomão em toda a sua glória pôde vestir-se como qualquer deles. Ora, se Deus veste desse modo a erva do campo, que hoje existe e amanhã se lança ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Por conseguinte não vos preocupeis, dizendo: que havemos de comer ou beber, ou com que nos havemos de vestir? Os pagãos são quem se preocupa com essas coisas. O vosso Pai celeste sabe bem daquilo que necessitais» (Mt 6,25-32) .

Descanso e filiação divina: o ensinamento de Jesus

Ao falar do descanso autêntico, Jesus está a ensinar-nos a conduzirmo-nos como filhos de Deus. Assim como um pai da terra se preocupa com a alimentação, o vestuário e o crescimento harmónico dos seus filhos, também Deus atua connosco do mesmo modo; ou, para dizer de modo mais exato, a paternidade terrena é um reflexo da paternidade divina. Encontramo-nos perante um aspeto de capital importância para entendermos quem é o nosso Pai Deus e o modo como nos trata. Cairíamos num grave erro se O imaginássemos como um ser terrível e distante, que reside no céu infinito, desinteressado das criaturas a que Ele mesmo deu existência. «É preciso convencermo-nos de que Deus está continuamente junto de nós. -Vivemos como se Nosso Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não temos em consideração que também está sempre ao nosso lado. E está como um Pai amoroso -ama-nos mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer aos seus filhos -ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando ... e perdoando»[1].

Deus, que chamou os homens à vida, continua a ocupar-se deles, segue-os amorosamente, intervém constantemente para os conduzir ao fim que se propôs: acolhê-los na intimidade da sua vida eterna, respeitando a sua liberdade e as outras caraterísticas da sua natureza, com que Ele mesmo decidiu dotá-los.

Nós ,os homens, tendemos a resolver, exclusivamente por nossa conta, os pequenos ou grandes problemas diários, se consideramos que a solução está ao nosso alcance. O nosso sentido de responsabilidade - sem excluir talvez o nosso orgulho, o nosso desejo de afirmação pessoal - leva-nos a cerrar os dentes e a esforçarmo-nos por deixar tudo bem resolvido; custa-nos pedir ajuda a outros e só o fazemos quando não temos outro remédio, às vezes com vergonha.

Não recorramos a Deus apenas quando a nossa indigência se revela grande demais: perante um perigo de morte, uma doença grave, quando chega um autêntico descalabro económico, quando surge uma catástrofe natural ou um conflito bélico. Recorramos ao nosso Pai celeste também nas coisas pequenas, nas coisas de cada dia. Desse modo, os nossos dias não se enchem de preocupações e rixas por coisas insignificantes, porque não estarão vazios de Deus, porque O teremos deixado entrar n a nossa existência concreta e viveremos com Ele a nossa aventura quotidiana: tudo circunstâncias que nos indicam o modo de vivermos como Seus filhos e de repousarmos no Pai.

Um filho bom trata com o seu pai de tudo aquilo que pessoalmente o preocupa e de tudo aquilo que interessa ao pai. Jesus convida-nos a entregar a Deus as preocupações, porque desse modo conseguimos descansar: deixar de «estar fechados nas nossas coisas» (sepultados nas minudências materiais e relacionais de cada dia) para «estarmos nas coisas do Pai»; trocar a busca da nossa justificação, a todo o custo e em tudo o que fazemos, pela procura prioritária do reino de Deus e da Sua justiça (cf. Mt 6,33). S. Josemaria, baseando-se na sua experiência pastoral, animava-nos a realizar esta permuta santa: «Quando chega o Natal, gosto de contemplar as imagens do Menino Jesus. Essas figuras que nos mostram o Senhor tão apoucado, recordam-me que Deus nos chama, que o Omnipotente Se quis apresentar desvalido, quis necessitar dos homens. Do berço de Belém, Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós; reclama de nós uma vida cristã sem hesitações, uma vida de entrega, de trabalho, de alegria.

Não conseguiremos jamais o verdadeiro bom humor se não imitarmos deveras Jesus, se não formos humildes como Ele. Insistirei de novo: vedes onde se oculta a grandeza de Deus? Num presépio, nuns paninhos, numa gruta. A eficácia redentora das nossas vidas só se pode dar com humildade, deixando de pensar em nós mesmos e sentindo a responsabilidade de ajudar os outros. “É corrente, às vezes até entre almas boas, criar conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objetiva. A sua origem está na falta de conhecimento próprio, que conduz à soberba: o desejo de se tornarem o centro da atenção e da estima de todos, a preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecerem, a ânsia da segurança pessoal... E assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, que poderiam saborear um imenso júbilo, por orgulho e presunção tornam-se desgraçadas e infecundas!”[2]

Descansar em Deus: pedir-lhe perdão como Zaqueu e perdoar

«Descarrega o teu peso em Javé e Ele te susterá: não consentirá que o justo soçobre para sempre» (SI 54, 23). Soçobra-se com o desequilíbrio dos pecados não perdoados, ainda ativos na alma. Por isso, para descansarmos realmente, precisamos de nos mostrar integralmente sinceros com Deus e pedir-lhe perdão no sacramento da Reconciliação, que reconstitui a tranquilidade e a paz à alma.

As palavras do salmista aplicam-se, sem dúvida, aos pesares e angústias por subsistir, por caminhar para a frente; mas antes e em maior profundidade referem-se às ofensas a Deus, que roubam a paz da consciência e mergulham a alma na ânsia por uma felicidade perturbada. Jesus exortou-nos a isso mesmo num momento de exultação no Espírito Santo, contemplando a Seu lado as pessoas simples e humildes; e vendo à distância, em atitude reservada, os sábios e prudentes. «Vinde a Mim – diz - todos os que estais fatigados e cheios de angústia, que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas» (Mt 11, 28-29).

Propõe-nos uma troca: dar-Lhe o que nos pesa e tomarmos nós a Sua carga. Ficaremos a ganhar, «porque o Meu jugo é suave e o Meu peso é leve» (Mt 11,30). Aconselha-nos a abandonar n´Ele a nossa soberba, que tantas canseiras nos traz, e a revestirmo-nos da Sua humildade, que permite considerar as questões na sua verdadeira dimensão, sem exagerar as dificuldades. A trocar a nossa ira e a nossa arrogância pela Sua mansidão. Sempre uma mudança a nosso favor: lançamos sobre Ele a opressão que os nossos vícios e pecados merecem, e conseguimos as virtudes e a paz que Ele nos dá. Convida-nos e permutar o nosso desordenado amor-próprio, pelo amor de Deus que a todos se entrega; então. desaparece a fadiga do trabalho; ou antes, se continuar, a criatura deleita-se precisamente nela, como sintetizou Santo Agostinho em frase admirável: in eo quod amatur, aut non laboratur, aut et labor amatur,[3] quando realmente se ama, o trabalho não custa; e se custa, ama-se. Bem o experimentou Zaqueu, quando recebeu Nosso Senhor em sua casa: trocou a sua riqueza material pela proximidade de Jesus. Preferiu recebê-Lo na alma a continuar a cobrar impostos e a defraudar os pobres. E encheu a sua vida de alegria e de paz (cf. Lc 19, 1-10).

As palavras do salmista e as que Jesus pronunciou referem-se, além disso, aos pesos que normalmente trazemos dentro, a que chamamos ressentimentos, rancores, desejos de vingança. Também temos de abandonar em Nosso Senhor esses pesos, que cansam a alma e a paralisam no seu caminho para Deus: tiremos essa mole de cima dos nossos ombros, perdoando do coração a quem nos tiver ofendido. «Na realidade, o perdão é antes de mais uma decisão pessoal, uma opção do coração que se opõe ao instinto espontâneo de pagar mal por mal. Essa opção tem o seu ponto de referência no amor de Deus, que nos recebe apesar do nosso pecado e, como modelo supremo, o perdão de Cristo, que do alto da cruz clamou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).

Como se vê, o perdão tem uma raiz e uma dimensão divinas. No entanto, isto não exclui que o seu valor possa entender-se também à luz de considerações baseadas em razões humanas. A primeira de todas é a que se refere à experiência vivida pelo ser humano quando pratica o maI. Nessa altura nota a sua fragilidade e deseja que os outros sejam indulgentes com ele. Portanto como não há de tratar os outros como ele deseja ser tratado? Todo o ser humano alberga em si a esperança de poder retomar um caminho de vida e não ficar prisioneiro dos seus próprios erros e das suas próprias culpas para sempre. Sonha poder elevar novamente o olhar para o futuro para ainda descobrir uma perspetiva de confiança e de compromisso»[4]

Perdoar coincide sempre com descansar. Às vezes, porém, perdoar não é fácil; falando com rigor, devemos reconhecer que os homens, frequentemente, não sabem fazê-lo; só Deus se mostra indulgente de modo perfeito, porque perdoa tudo e sempre a quem implora a Sua graça: manifesta a Sua omnipotência precisamente com a Sua misericórdia para connosco. Infelizmente tornou-se habitual a atitude de que se deve perdoar, mas não se deve esquecer. Sem negar o que é evidente -o valor da experiência- , devemos exigir-nos com sinceridade para não nos desculparmos e continuar com a alma sobrecarregada de velhas pendências, de listas de agravos, que impedem de voar alto para Deus.

Jesus, desde o princípio da Sua pregação, no sermão da montanha que S. Mateus nos transmite, ensina claramente que um filho de Deus perdoa a quem o ofendeu. O seu ser e o seu sentido da filiação divina estão intimamente ligados à certeza da misericórdia com que Deus o trata, e, consequentemente, o leva a conceder gostosamente o perdão aos outros.

Para que este ponto nos ficasse claro, Jesus enfrentou o escândalo dos fariseus quando perdoou os pecados ao paralítico (cf. Mt 9, 1-8) e quando se sentou a comer com os pecadores em casa de Levi (cf. Mt 9, 10-13). Disse a Pedro e aos outros Apóstolos que teriam de perdoar sempre aos seus irmãos, e explicou-lhes a razão: cada um de vós deve muito mais a Deus, foi-vos perdoado muito mais (cf.Mt 18, 21-35). Declarou bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia, indo deste modo contracorrente num ambiente vingativo e duro com os fracos e os derrotados (cf. Mt 5, 7).

Nosso Senhor insistiu reiteradamente neste ponto. Insistiu porque conhecia a dificuldade do homem em o entender, em o assimilar; e porque é fundamental para acolher o dom da filiação divina, intimamente vinculado com o da fraternidade sobrenatural. Santo Agostinho explica que quem repudiar o testamento da paz não recebe a herança de Nosso Senhor; quem se obstinar em permanecer em discórdia com o cristão não pode estar em concórdia com Cristo [5]. Perdoa quem se sente filho e se sabe perdoado; quem olha o outro como a um irmão, outro filho do mesmo Pai. Tinha-o ensinado o apóstolo João com toda a clareza: «Se alguém disser: "Amo a Deus" e aborrecer o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Dele recebemos este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (1 Jo 4, 20-21).

Cristo não se cansou de repisar a misericórdia e o perdão, até ao ponto de equiparar a perfeição espiritual, a santidade, com a capacidade de perdoar e usar de misericórdia com os outros. «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados; dai e dar-se-vos-á; lançar-vos-ão no regaço uma boa medida, recalcada, cheia, a transbordar: porque sereis medidos com a medida com que medirdes» (Lc 6, 36-38), Anima-nos desse modo a não fecharmos nem endurecermos o nosso coração perante as imperfeições e defeitos alheios. «Ninguém pode dar nada a ninguém, se não o deu antes a si mesmo. Consequentemente, depois de ter obtido misericórdia e abundância de justiça, o cristão começa a ter compaixão dos infelizes e começa a rezar pelos pecadores. Torna-se misericordioso inclusivamente para os seus inimigos. Com essa bondade prepara para si uma boa reserva de misericórdia para a chegada de Nosso Senhor [6].

Descansar com Deus: entrar na Sua lógica de amor e compreensão

A ignorância das próprias culpas tem influência na dificuldade de compreensão e compaixão: quando se não reconhecem os pecados pessoais, descobrem-se apenas as faltas dos outros e acusam-se sem piedade, como ficou patente no episódio da mulher adúltera (cf. Jo 8, 1-11). Só o Filho de Deus, inocente, se compadeceu daquela infeliz, perdoou-lhe, dizendo-lhe que não pecasse mais. Explicava um Padre da Igreja: «Se tu, homem, não podes viver sem pecado e por isso buscas o perdão, perdoa sempre; perdoa na medida e quantas vezes quiseres ser perdoado. Já que desejas sê-lo totalmente, perdoa tudo e pensa que, perdoando aos outros, te perdoas ati mesmo» [7].

O amor tem influência na facilidade em perdoar, em compreender. Quem realmente sabe amar está inclinado a perdoar àqueles que ama. A ciência da caridade é ciência de perdão; e vice-versa. S. Josemaria explicou-o frequentes vezes com frase lapidar, que impressiona pela sua simplicidade e transparência, vibrante de sinceridade: «Eu não precisei de aprender a perdoar, porque Deus me ensinou a amar» [8]. Conhecem-no bem e experimentaram-no os pais que amam profundamente os seus filhos, não precisam de se esforçar por perdoar, depois de alguma maldade, ou quando regressam a casa depois de se terem afastado. Como o pai da parábola narrada por Jesus, adiantam-se a abraçá-los, a falar com eles, a fazer uma festa pelo regresso do filho que se tinha perdido (cf. Lc 15,21-24).

A este respeito, a segunda parte da parábola é também muito expressiva. O filho mais velho não compreende a alegria do pai e não quer participar na festa, porque não sabe perdoar. O seu coração está cheio de rancor e desprezo pelo irmão que se tinha ido embora, e além disso manifesta algum ressentimento para com o seu pai; considera-o réu de não lhe ter dado sequer um cabrito para fazer uma festa com os seus amigos. Na realidade deve afirmar-se que não se sente nem filho nem irmão, conserva agravos no seu coração -falsos agravos, neste caso- que o impedem de se juntar ao festejo, ao descanso na casa paterna. Descansar em Deus significa, nem mais nem menos, participar do repouso de Nosso Senhor; aí se encontra o verdadeiro repouso dos filhos de Deus. E implica também descansar em Deus, repousar na casa paterna: entrar no Seu gozo, encher-se da Sua alegria. O discípulo chegará a essa plenitude no fim da sua passagem fiel por esta terra depois de consumir os seus dias com um trabalho realizado por amor, colocando todo o seu engenho e todo o seu esforço no serviço dos interesses do seu Senhor, que é ao mesmo tempo seu Pai e que o espera (cf. Mt 25,21 e 23); isto, porém, não quer dizer que aqui em baixo não se apresente já esse dom, pois a própria história humana demonstra que os homens e mulheres que caminham em paz com o seu Senhor, saboreiam já o gozo e a paz que o mundo não pode oferecer.

Descansar com Deus é um presente imerecido; por isso é necessário pedi-lo. Jesus ensinou-nos a solicitá-lo na quinta petição do Pai-nosso, quando dizemos a Deus que nos perdoe e nos ajude a perdoar. Também é possível, porém, suplicá-lo de outro modo; por exemplo, relacionando este descanso com a paz que Nosso Senhor nos oferece, como rezava Santo Agostinho. «Senhor Deus, dá-nos a paz, pois nos deste todas as coisas; a paz do descanso, a paz do sábado, a paz sem tarde. Porque toda esta ordem formosíssima de "coisas muito boas", concluídos os seus modos, há-de passar: por isso nelas se fez "manhã e tarde". Mas o sétimo dia não tem "tarde", nem ocaso, porque Tu o santificaste para que durasse eternamente, a fim de que assim como Tu ao sétimo dia descansaste depois de tantas obras "sumamente boas" que fizeste (...), também nós, depois das nossas obras "muito boas", porque Tu no-las deste, descansaremos em Ti no sábado da vida eterna» [9]

A paz, perfeição do descanso, fruto do trabalho

A verdadeira paz determina a perfeição do descanso com a superação da luta entre o homem velho e o homem novo; com a ordem na tensão entre o interior e o exterior da pessoa; com a falta de tristeza ao verificarmos as nossas limitações; com o não se abater pela fadiga na prossecução do bem. Santo Agostinho apresenta-a como «serenidade da mente, tranquilidade de ânimo, simplicidade de coração, vínculo de amor. Consórcio de caridade»[10]. Com efeito todos ansiamos, como é lógico, por não termos que guerrear nem travar mais batalhas contra nada nem contra ninguém; chegar a uma paz completa, estável, eterna; uma paz a que não escape a consecução das exigências retas, na qual nenhum temor inquiete e nenhum inimigo ameace.

Um descanso desses, porém, não se alcança neste mundo, como muito bem explica S. Tomás: «A verdadeira paz é dupla. Uma é a paz perfeita, que consiste no gozo do Sumo Bem, quando todas as inclinações se fundirem aquietando-se num único objeto; este é o fim último do homem. Além disso há uma paz imperfeita, que é a única possível neste mundo, pois inclusive quando todos os movimentos da alma se dirigem para Deus, há sempre outros elementos que perturbam essa paz dentro e fora»[11]; também para que desejemos mais, sempre e em tudo, a posse definitiva de Nosso Senhor.

Enquanto a história seguir o seu curso, sempre teremos de lutar: nenhuma virtude se pode considerar definitivamente conquistada, sempre será necessário cuidar da concórdia adquirida. A vida do homem sobre a terra, como notou Job, é milícia, os nossos dias evoluem como os do jornaleiro (cf. Job 7, 1); a paz interior e exterior exigem sempre cuidado e esforço.

Muitos autores espirituais comentaram a parábola do homem cujos negócios corriam muito bem. Imaginou que tinha alcançado grande bem- estar, que podia prescindir completamente do trabalho e entregar-se ao ócio, de modo que dizia para os seus botões: «que hei-de fazer pois não tenho onde armazenar a minha colheita? Disse para consigo: Vou fazer isto: vou destruir os meus celeiros e construir outros maiores, e guardarei neles o meu trigo e os meus bens. Direi então à minha alma: ó alma, tens muitos bens armazenados, para muitos anos. Descansa, come, bebe, passa bem. Deus, porém, disse-lhe: Insensato, esta noite mesmo te vão solicitar a entrega da tua alma; o que colheste para quem vai ser? Assim acontece a quem entesoura para si e não é rico perante Deus» (Lc 12, 17-21).

O pecado deste homem não é só de moleza: projeta, faz cálculos, pensa em construir celeiros novos para armazenar a sua abundante colheita. Porém não para os outros, mas só para si; desconhece o agradecimento ao Céu e a necessidade fraterna de socorrer os indigentes, atento unicamente a satisfazer a sua preguiça e o seu afã de prazeres. Santo Ambrósio comenta a passagem com estas palavras: «Em vão reúne meios que não sabe se virá a usar; as coisas que não podemos levar connosco não são nossas: só a virtude é companheira dos defuntos; só a misericórdia vai connosco, só ela compra para os defuntos as moradas eternas»[12].

A paz da terra constrói-se mediante o trabalho ordenado retamente. A propósito da sétima bem-aventurança, S. Jerónimo anota que a paz se alcança se se trabalhar por consegui-la: o homem recebe este dom de Deus quando o procura, não só com palavras, mas com obras; quando o persegue primeiro em si mesmo e depois nos outros [13]. Deus abençoa com a Sua graça, o esforço para manter a concórdia e a paz entre todos, ou para a restaurar; e também abençoa o trabalho em toda a sua amplitude, quando está ordenado à Sua glória e ao bem-estar do próximo, quando se realiza por amor e com amor. Uma atividade dessas é caminho eficaz para conferir paz a cada pessoa e à comunidade humana; poderíamos dizer realmente que abre o único caminho, a via necessária para vivificar a existência pessoal e os ambientes. Neste sentido diz o profeta que «a paz é fruto da justiça» (Is 32, 17), do trabalho realizado com perfeição humana e sobrenatural.

A paz, dom de Deus

A paz é um dom divino; sempre e em todas as religiões se elevaram preces à divindade para que concedesse este bem aos homens. Ao rever a História compreende-se facilmente que a paz se reduza a mera utopia, se a fizermos depender da nossa conduta e das nossas forças. Quando não se permite a intervenção de Deus não se atinge nem pessoal nem socialmente a verdadeira e «relativa» paz que se pode gozar neste mundo, preparatória da que se nos reserva no «além», quando Nosso Senhor, pela Sua misericórdia, nos introduzir no Seu eterno descanso.

Sabemos todas estas coisas por revelação divina. Jesus, porém, não se limitou a dizer-nos onde e como podemos encontrar o descanso, já nos concede agora que participemos da sua Filiação divina, que nos ganhou com o Seu sacrifício redentor, identificando-se com a vontade de Seu Pai. Entregou-no-la nos Apóstolos na última noite antes de morrer na Cruz, quando exclamou: «Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se acobarde o vosso coração» (Jo 14, 27). Na linha da explicação de Santo Agostinho, podemos entender por estas palavras que Nosso Senhor nos deixa a paz, porque permanece no mundo connosco -sobretudo na Eucaristia- pois «Ele é a nossa paz» (Ef 2, 14). Permanece connosco, como nossa paz, para nos fortalecer na luta contra os inimigos e as dificuldades interiores e exteriores; e dá-nos a Sua paz, porque já aqui nos oferece a Sua amizade, de que gozaremos plenamente na glória, quando o próprio Deus «enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá morte, nem pranto, nem lamento, nem fadiga, porque já passaram todas as coisas anteriores (Ap. 21,4)[14].

Ao ressuscitar, transmitiu-nos a paz da Sua vitória na Cruz. Quando apareceu aos Apóstolos cumprimentou-os do modo seguinte: «A paz seja convosco» (Jo, 20, 21). Anuncia-lhes a paz do Seu perdão às fraquezas dos discípulos; a paz da Sua amizade e da Sua graça, que supera todas as distâncias e todas as distinções, pois Ele concede-a sem a mais leve aceção de pessoas; a paz do Seu amor de Filho, que nos chega através desse tornar-Se presente na Eucaristia, sacrifício da paz e da libertação do pecado.

Entregou-nos também a paz do Paráclito, quando naquele mesmo dia disse aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-Ihes-ão retidos» (Jo 20, 22-23); paz da consolação que, desde essa altura, acompanhou sempre os discípulos do Mestre no meio de tantas aflições e dificuldades.

Filhos do Deus da paz

O Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo é o Deus da paz. Para evitar mal-entendidos e enganos, Jesus pregou-o desde o primeiro momento, na sétima bem-aventurança: «Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). Com os Padres da Igreja também nós podemos perguntar-nos que relação existe entre a paz e a filiação divina: eles oferecem-nos dois tipos de resposta.

S. Cromácio de Aquileia explica-a do modo seguinte: «A dignidade de todos aqueles que trabalham afanosamente pela paz é muito grande, pois são considerados filhos de Deus. É um grande bem restabelecer a paz entre irmãos que litigam por questões de interesse, de vanglória ou de rivalidade. Isso, porém, não merece mais do que uma recompensa modesta ( ... ). Devemos reparar que existe uma obra de paz de melhor qualidade e mais sublime: refiro-me à que, mediante um ensino constante, leva a paz aos pagãos, inimigos de Deus; à que corrige os pecadores e, mediante a penitência, os reconcilia com Deus (...). Tais pacificadores não são apenas bem-aventurados; são muito dignos de serem chamados filhos de Deus. Por terem imitado o próprio Filho de Deus, Cristo, a quem o Apóstolo chama ''nossa paz e reconciliação" (Ef 2, 14-16; 2 Cor 5, 18-19), concede-se-lhes que participem do Seu nome» [15]. S. João Crisóstomo também considera que é lógico e justo chamar filhos de Deus a todos aqueles que não só procuram a amizade dos seus irmãos, mas também se esforçam por convocar os que estão zangados a fazerem as pazes , pois desse modo atuou o Unigénito quando veio a este mundo: unir o que estava separado, reunir o que estava disperso [16].

Esta primeira explicação considera os pacíficos na sua atividade exterior: são filhos de Deus porque trabalham pela paz, como fez neste mundo o Filho de Deus Encarnado.

Santo Agostinho segue outra via: está em paz aquilo que não repugna à Vontade de Deus; por isso, são chamados filhos de Deus aqueles que querem sempre o que Deus quer, sem resistirem à Sua vontade [17]. Esta explicação ressalta que a plena identificação com a Vontade de Deus, que causa a paz do cristão, caminha intimamente relacionada com a sua participação na Filiação divina de Jesus. A conduta filial de Cristo manifestava-se em obras de obediência e união com Deus Pai. A relação filial de Jesus com o Pai continha uma relação de referência constante, de mútuo olhar-Se unificante, que tinha reflexos em todo o Seu comportamento. A vontade do Pai animava-O em todos os momentos e motivava radicalmente as Suas ações: «O meu juízo é justo porque Eu não procuro a minha vontade, mas a Vontade daquele que Me enviou» (Jo 5, 30).

Esta segunda resposta põe em destaque que os filhos de Deus são pacíficos porque obedecem ao seu Pai, identificam-se com o que Ele quer; sabem que «tudo contribui para o bem dos que O amam» (Rom 8, 28); por isso tudo o que acontece lhes serve para aumentar o seu amor a Deus e aos outros por Deus; e desejam-no, precisamente porque para aí se dirige a Vontade divina.

As duas respostas são conciliáveis; sublinham aspetos complementares porque, efetivamente, o cristão tem paz quando trabalha pela paz, pois realiza a sua atividade pensando em Deus e nos outros; por isso mesmo pode receber a paz e dá-la aos outros. O seu descanso espiritual, o seu estar em harmonia com Deus, converte-o em semeador de paz.

Viver a paz e semear a paz: assim pode resumir-se a vida de um bom filho de Deus. Mostram-se como filhos de Deus os que imitam o seu Pai, o Deus da paz, fonte eterna de infinita paz; e acolhem o Espírito Santo, vínculo de união e de paz. Vivem e transmitem uma paz que cresce juntamente com a sua regeneração espiritual, a sua intimidade com a Santíssima Trindade; erecuperam-na , quando a tiverem perdido , recorrendo ao sacramento da Reconciliação com Deus e com a Igreja. Esta paz aumenta nas suas almas e difundem-na à sua volta na medida em que se identificam com Jesus Cristo presente na Eucaristia.

Descansar junto do sacrário como Jesus em Betânia

O Mestre preocupa-se com o nosso descanso e com a nossa paz, porque nos ama. Também agora, do Sacrário, se apresenta como Bom Pastor, que oferece repouso à nossa alma e ao nosso corpo, na medida indicada pela providência, de modo análogo a como se interessava pelo descanso espiritual e físico dos discípulos durante a Sua passagem pela terra.

Conta S. Marcos que, ao regressar da sua primeira missão, «reunidos os Apóstolos com Jesus, lhe contaram tudo o que tinham feito e ensinado. Jesus diz-lhes: "Vinde para um lugar afastado e descansai um pouco". Porque eram muitos os que iam e vinham, de modo que nem sequer tinham tempo para comer. Foram, pois, na barca para um lugar afastado eles sozinhos» (Mc 6, 30-32).

Vemos aqui mais outra preocupação de Cristo por aqueles que O seguem; nesta ocasião, pelo seu descanso físico. A ocasião, porém, serve-Lhe para ensinar um pormenor importante: para descansar não basta abandonar filialmente os nossos cuidados no Pai, nem sabermo-nos perdoados e perdoar; para saborear a paz profunda, é necessário permanecer fisicamente perto de Jesus.

Também nós muitas vezes, necessitaremos de descansar saboreando a presença real de Nosso Senhor no tabernáculo, distanciando-nos (umas horas, alguns dias) das ocupações habituais para falar mais tranquilamente com Ele, como os Apóstolos naquela ocasião. Aproximamo-nos do Sacrário, onde Ele ficou à nossa disposição, para satisfazermos essa urgência de conversar a sós com o Mestre, no sossego do Seu carinho, da Sua compreensão, da Sua palavra. A este propósito, o Papa João Paulo II escrevia: «É belo estar com Ele e, reclinados sobre o Seu peito como o discípulo predileto (cf. Jo 13,25), sentir o amor infinito do Seu coração. Se o cristianismo deve distinguir-se no nosso tempo sobretudo pela "arte da oração”, como não havemos se sentir uma necessidade renovada de estar muito tempo em conversação espiritual, em adoração silenciosa, em atitude de amor, perante Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência e nela encontrei força, consolo e apoio!»[18].

Convém que com certa frequência deixemos o comodismo da nossa casa a fim de passarmos alguns momentos fisicamente perto de Jesus numa igreja, talvez fria no inverno ou quente no verão! Ou então alongar o trajeto de regresso a casa, depois do trabalho, para cumprimentarmos sem pressa o Santíssimo Sacramento. Talvez sejam poucos minutos, porque os nossos deveres não nos permitem permanecer mais tempo. Esses breves instantes, porém, são suficientes para que a alma abandone no Coração de Jesus as preocupações que a afligem, e volta a realizar-se esse maravilhoso intercâmbio de caridade no qual sempre ficamos a ganhar. Levantamo-nos mais leves e alegres, com paz para nós mesmos e para os outros.

Geralmente vemos Deus como fonte e conteúdo da nossa paz: consideração verdadeira, mas não exaustiva. Não costumamos pensar, por exemplo, que nós também «podemos» consolar e oferecer descanso a Deus. Os santos procederam desse modo; como muitas outras pessoas procederam com Jesus -Deus e Homem -enquanto esteve nesta terra. João Paulo II cita na sua carta Dies Domini um texto de Santo Ambrósio, no qual, de modo indireto, alude à consolação e descanso de Deus na criatura: «Agradeçamos a Deus Nosso Senhor que fez uma obra em que pode encontrar descanso. Fez o céu, mas não leio que nele tenha descansado; fez as estrelas, a lua, o sol, e também não leio que neles tenha descansado. Leio, porém, que fez o homem e que nessa altura descansou, pois nele tinha alguém a quem perdoar os pecados» [19].

Como é evidente, com a nossa devoção e a nossa piedade eucarística, tratamos o Mestre como amigo, acolhemo-Lo na nossa alma. Qualquer cena evangélica ajuda a refletir sobre esta esplêndida realidade do amor. Em Betânia, seis dias antes da Páscoa ofereceram um jantar a Jesus. «Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele. Maria, tomando uma libra de perfume muito caro, de nardo puro, ungiu os pés de Jesus e secou-lhos com os cabelos. A casa encheu-se da fragrância do perfume» (Jo 12, 2-3) .

Três irmãos com atenções para com Nosso Senhor; um , a Seu lado, comensal da mesma mesa; uma, servindo-O; outra, ungindo-Lhe os pés. Companhia, serviço, amor. Esta passagem resume as coordenadas da nossa devoção eucarística. Jesus encontra-Se encerrado no tabernáculo sob o véu das espécies eucarísticas: «Quando te aproximas do Sacrário -escreve S. Josemaria -pensa que Ele! ... há vinte séculos que te espera»[20]. Nós podemos fazer com que Se sinta acompanhado, com os nossos pormenores de carinho, com as nossas visitas ao Santíssimo, do mesmo modo que quando conversava com Lázaro; que Se sinta servido com os cuidados de Marta, que dedicava ao Mestre toda a sua competência profissional de dona de casa; que Se sinta amado com a magnanimidade de Maria, que não olhou a gastos nem a escândalos farisaicos. Agradeçamos mais esta possibilidade de oferecer a Jesus sacramentado o nosso coração e a nossa Igreja como uma Betânia constante porque cultivemos em nós as disposições e as obras daqueles três irmãos.

Não há aqui assomo de utopias, porque o Cristo do Sacrário é o mesmo que caminhou pela Palestina, e naquela noite esteve à mesa de Lázaro em Betânia. Em palavras de S. Josemaria: «Para mim o Sacrário foi sempre Betânia, o lugar tranquilo e aprazível onde está Cristo, onde podemos contar-Lhe as nossas preocupações, os nossos sofrimentos e as nossas alegrias, com a mesma simplicidade e naturalidade com que lhe falavam aqueles Seus amigos, Marta, Maria e Lázaro. Por isso, ao percorrer as ruas de alguma cidade ou de alguma aldeia, dá-me grande alegria descobrir, mesmo que seja ao longe, a silhueta de uma igreja; é um novo Sacrário, mais uma ocasião de permitir que a alma se escape para estar em desejo junto do Senhor Sacramentado» [21].

Descansar com Cristo na Missa, como os discípulos de Emaús

Em hebraico a palavra páscoa significa passagem. No evangelho de S. João (cf. Jo 13, 1) refere-se à hora da paixão, morte e glorificação de Nosso Senhor. Jesus deixava a Sua presença sensível na terra, deixava a companhia dos Seus, e passava com a Sua Humanidade Santíssima para a direita do Pai (cf. Mc 16, 19).

Deixava a vida mortal para ressuscitar, três dias depois, com uma existência nova, gloriosa e eterna. A Sua Páscoa contém a Sua passagem da dor ao gozo glorioso, do Seu trabalho ao Seu descanso. Como afirma S. João Damasceno, transita pelo percurso da tribulação da cruz até à paz da ressurreição [22]. Devemos segui-Lo nesse itinerário, que se inicia durante a existência terrena e se vence no fim, quando todo o caminho foi uma «páscoa» vivida com Nosso Senhor. Ir deste mundo para o Pai admite muitas significações concretas: depende da situação espiritual de cada um, do caminho que tiver percorrido e do que ainda lhe falte andar. S. Máximo de Turim explica que a Páscoa do Senhor - a Sua morte, a Sua ressurreição e Sua ascensão –suscita um movimento ascendente das criaturas para Deus, que converte o infiel à fé, o pecador à graça, o justo à santidade, os mortos à vida, os santos à glória[23]. Em último termo significa sempre dar um novo passo na identificação plena com o Filho de Deus crucificado e ressuscitado por nós, um passo mais para a casa do Pai.

Como nos havemos de preparar para ir com Cristo deste mundo para o Pai? Participando com intensa piedade no Sacrifício da Missa, sacramento da Páscoa do Senhor que comunica essa mesma Páscoa a quem nela participa. A Santa Missa consegue-nos sempre impulsos e luzes sobrenaturais para avançar no caminho da fidelidade e do amor. Com esta participação no Sacrifício do altar -Páscoa do Senhor e nossa páscoa -procuramos acompanhar Cristo na Sua morte e ressurreição: esforçamo-nos por obter a graça de morrer com Ele para o nosso eu, pela penitência e o sacrifício, para ressuscitar com Ele pela graça e as virtudes; queremos converter-nos em almas que se ocupam das coisas d´Ele, não das nossas e chegarmos assim -quando Nosso Senhor nos chamar à Sua presença -a dar o salto definitivo e sentarmo-nos com Ele à direita do Pai.

Por estes motivos, celebrar ou participar na Missa leva a entrar no descanso de Cristo; descansar com Ele depois de ter trabalhado por Ele; recuperar forças e voltar com novo brio à luta interior, ao trabalho; a falar de Cristo aos outros. Como sucedeu com aqueles dois que iam a caminho de Emaús (cf. Lc 24, 13-35). Depois de terem acompanhado Jesus durante a Sua pregação, e depois do «fracasso» da Cruz, regressavam cansados a casa, renunciavam a ser apóstolos. Porém convidam Jesus, caminhante nesses momentos desconhecido, a ficar com eles e descansar da fadiga de uma jornada de caminho.

«"Fica connosco, Senhor, porque se faz noite e o dia está a desaparecer" (cf. Lc 24, 29). Este foi o convite premente que, na própria tarde do dia da ressurreição, os dois discípulos que se dirigiam para Emaús fizeram ao Caminhante que ao longo do trajeto se tinha juntado a eles. Esmagados por pensamentos tristes, não imaginavam que aquele desconhecido fosse precisamente o seu Mestre, já ressuscitado. Não obstante isso, tinham experimentado como lhes "ardia" o coração (cf. ibid. 32) enquanto Ele lhes falava "explicando" as Escrituras. A Luz da Palavra abrandava-lhes a dureza do coração de sorte que "se lhes abriram os olhos" (cf. ibid. 31).Entre a penumbra do crepúsculo e o ânimo sombrio que os paralisava, aquele Caminhante constituía um raio de luz que lhes despertava a esperança e lhes abria o espírito ao desejo da plena luz. "Fica connosco", suplicaram, e Ele aceitou. Pouco depois o rosto de Jesus desapareceria, mas o Mestre ficava veladamente no "pão partido", perante o qual se tinham aberto os seus oIhos» [24].

Assim escrevia João Paulo II na carta apostólica com que proclamava um tempo de especial culto eucarístico na Igreja. E acrescentava: «A passagem dos discípulos de Emaús é perfeitamente adequada para orientar um Ano em que a Igreja vai estar especialmente dedicada a viver o mistério da Santíssima Eucaristia. No caminho das nossas dúvidas e inquietações, e às vezes das nossas amargas desilusões, o divino Caminhante continua a fazer-se nosso companheiro para nos introduzir, mediante a interpretação das Escrituras, na compreensão dos mistérios de Deus. Quando o encontro chega à sua plenitude, à luz da Palavra acrescenta-se a que brota do "Pão da vida", com o que Cristo cumpre de modo perfeito a Sua promessa de "estar connosco todos os dias até ao fim do mundo" (cf. Mt 28, 20)» [25].

A Igreja, Mãe que conhece o coração dos homens, sabe bem que temos necessidade de participar na Páscoa do Senhor, para passarmos da morte à vida, do cansaço da luta e da fadiga do trabalho ao descanso e felicidade eternos. Por isso, dispôs piedosamente que essa participação na Missa seja obrigatória aos domingos, o dia da semana em que Jesus entrou no Seu descanso. A páscoa semanaI ajuda-nos a não nos determos no caminho, porquanto essa paragem podia ser prelúdio de desfalecimento; a não nos desorientarmos conferindo às coisas deste mundo uma importância que não têm, e negando-a, pelo contrário, «às coisas do Pai». Com este programa simples e eficaz, a Igreja proporciona-nos o repouso mais profundo e radical: deter-nos ao caminhar; e evita-nos cair na miragem dos repousos vãos.

Esse interesse da Esposa de Cristo pela fidelidade dos seus filhos, para que cuidem e amem a passagem de nosso Senhor pela sua existência e avancem com Ele, manifesta-se inclusivamente nas orações das Missas dominicais, nas quais roga insistentemente a Nosso Senhor pela sua perseverança para que não deixem de discernir o que afasta do Mestre e se apliquem ao que Ele lhes pede. Nos domingos do Tempo comum, por exemplo, suplica a Deus para os seus filhos

-«Luz para conhecer a Vossa vontade e a força necessária para a cumprir»;

- «Uma vida segundo a Vossa vontade, para que possamos dar com abundância frutos de boas obras em nome do Vosso Filho predileto»;

- «Viver de tal maneira pela Vossa graça que mereçamos ter-Vos sempre connosco»;

- «Viver fora das trevas do erro e permanecer sempre no esplendor da verdade»;

- «A verdadeira alegria, para que quem foi libertado da escravidão do pecado alcance também a felicidade eterna»;

- «A luz da Vossa verdade aos que andam extraviados para que possam voltar ao bom caminho»;

- «Os dons da Vossa graça, para que, abrasados de fé, esperança e caridade, perseverem fielmente no cumprimento da Vossa lei»;

- «Os sinais da Vossa misericórdia para que, sob a Vossa orientação avisada, nos sirvamos dos bens passageiros de tal modo que possamos obter os eternos»;

- «Aumento do espírito filial nos corações, para que possamos alcançar a herança prometida»;

- «O Vosso amor nos nossos corações, a fim de que, amando-Vos em tudo e sobre todas as coisas, consigamos alcançar as Vossas promessas, que superam todos os nossos desejos»;

- «O amor aos Vossos preceitos e a esperança nas Vossas promessas, para que, no meio das vicissitudes do mundo, os nossos corações estejam firmes na verdadeira alegria»;

- «0 amor do Vosso nome, para que, fazendo a nossa vida mais religiosa, acrescenteis o bem em nós e com amorosa solicitude o conserveis»;

- «A Vossa graça para que, desejando o que nos prometeis, consigamos os bens do céu»;

- «Viver sempre alegres no Vosso serviço, porque o gozo pleno e verdadeiro consiste em servir-Vos a Vós, criador de todos os bens» [26].

Em conclusão, a Igreja urge a Deus para que não abandone os Seus filhos, que cheguemos até ao final com Ele: «Senhor, que Vos dignastes redimir-nos e quisestes fazer-nosVossos filhos, olhai-nos sempre com amor de Pai e fazei que todos os que acreditamos em Cristo, Vosso Filho, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna».

Viver os Domingos e os dias de festa com Deus

Passar o domingo com Deus significa oferecer-Lhe também o tempo de descanso.

Muitas pessoas têm tanto que fazer -pelo menos, assim pensam - que não encontram tempo para assistir à Missa dominical. Na nossa época, parece ser este o principal obstáculo para passar os domingos e festas da Igreja com Deus.

Descansar é mudar de ocupação, de ambiente, de circunstâncias relacionais, de esforço. No nosso caso, significa também trocar o nosso pouco pelo muito de Deus: confiar-Lhe as nossas misérias e as nossas ninharias, para receber os Seus dons - o Corpo e o Sangue de Cristo, o Espírito Santo - causa infinita de alegria e de paz. Oferecer-Lhe o nosso tempo para receber a Sua eternidade, que um dia nos há-de chegar.

João Paulo II escreveu o seguinte: «Este é um dia que constitui o próprio centro da vida cristã. Se desde o início do meu Pontificado não me tenho cansado de repetir: "Não tenhais medo! Abri, ainda mais, abri de par em par as portas a Cristo!", nesta mesma linha quereria hoje convidar com força todas as pessoas a descobrir de novo o domingo: Não tenhais medo de dar o vosso tempo a Cristo! Sim, abramos o nosso tempo a Cristo para que Ele o possa iluminar e dirigir. Ele é que conhece o segredo do tempo e o segredo da eternidade, e entrega-nos o "Seu dia" como um dom sempre novo do Seu amor. A descoberta deste dia é uma graça que se deve pedir, não só para viver em plenitude as exigências próprias da fé, mas também para dar uma resposta concreta aos anseios íntimos e autênticos de cada ser humano. O tempo oferecido a Cristo nunca é um tempo perdido; é um tempo ganho para a humanização profunda das nossas relações e da nossa vida» [28].

É verdade, ficamos sempre a ganhar quando damos a Nosso Senhor os nossos jugos e aceitamos o que nos vem d´Ele. Oxalá cada cristão fosse consciente de que não pode viver sem o domingo! Esta expressão, recordava Bento XVI, «faz-nos recuar ao ano de 304, quando o imperador Diocleciano proibiu os cristãos, sob pena de morte, de possuírem as Escrituras, de se reunirem no domingo para celebrarem a Eucaristia e de construírem lugares para as suas assembleias. Em Abitínia, pequena localidade da atual Tunísia, 49 cristãos foram surpreendidos num domingo, enquanto celebravam a Eucaristia na casa de Otávio Félix desafiando as proibições imperiais. Depois de serem presos foram conduzidos a Cartago a fim de serem interrogados pelo procônsul Anulino. Foi significativa, entre outras, a resposta que um certo Emérito deu ao procônsul, que lhe perguntava porque é que tinham transgredido a ordem do imperador: "Sine dominico non possumus"; quer dizer, sem nos reunirmos no domingo para celebrar a Eucaristia não podemos viver. Faltar-nos-iam as forças para enfrentar as dificuldades e não sucumbir. Ao cabo de torturas atrozes, estes 49 mártires de Abitínia foram assassinados. Deste modo; com a efusão do seu sangue, confirmaram a sua fé. Morreram, mas venceram; agora recordamo-los na glória de Cristo ressuscitado.

«Também nós, cristãos do século XXI devemos refletir sobre a experiência dos mártires de Abitínia. Para nós, não é fácil vivermos como cristãos, embora não existam essas proibições do imperador. Mas, sob o ponto de vista espiritual, o mundo em que vivemos, marcado frequentemente pelo consumismo desenfreado, pela indiferença religiosa e por um secularismo fechado à transcendência, pode parecer um deserto não menos inóspito que aquele "imenso e terrível" deserto (Dt 8, 15) de que nos falava a primeira leitura tirada do livro do Deuteronómio. Nesse deserto, Deus socorreu com o maná o povo judeu em dificuldades, para lhe fazer compreender que "nem só de pão vive o homem; mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor" (Dt 8, 3). No Evangelho de hoje Jesus explicou-nos para que espécie de pão Deus queria preparar o povo da nova aliança mediante o dom do maná. Referindo-se à Eucaristia, disse: «Este é o pão que desceu do céu; não como o dos vossos pais, que o comeram e morreram: quem comer deste pão viverá para sempre» (Jo. 6, 58). O Filho de Deus, tendo-Se feito carne, podia converter -Se em pão, e desse modo ser alimento para o Seu povo, para nós, que estamos neste mundo a caminho para a terra prometida do céu.

Precisamos deste pão para enfrentar a fadiga e o cansaço da viagem. O domingo, dia do Senhor, é a ocasião propícia para receber forças d ´Ele, que é o Senhor da vida. Por conseguinte o preceito festivo não é um dever imposto a partir de fora, um peso sobre os nossos ombros. Pelo contrário, participar na celebração dominical, alimentar-se do Pão eucarístico e experimentar a comunhão dos irmãos e irmãs em Cristo, é uma necessidade para os cristãos; é uma alegria; desse modo o cristão pode encontrar a energia necessária para o caminho que devemos percorrer em cada semana. Além disso, não é um caminho arbitrário: o caminho que Deus nos indica com a Sua palavra vai na direção inscrita na própria essência do homem. A palavra de Deus e a razão caminham juntas. Seguir a palavra de Deus, estar com Cristo, significa para o homem realizar-se a si mesmo; perdê-Lo equivale a perder-se a si mesmo.

Nosso Senhor não nos deixa sós neste caminho. Está connosco. No colóquio que o evangelho nos acaba de referir diz expressamente: "Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue habita em Mim e Eu nele" (Jo 6, 56). Como é que não havemos de alegrar-nos com essa promessa?» [29].

Passar cristãmente o domingo, com Cristo Senhor Nosso, confere ao descanso a sua dimensão festiva: não representa um simples repouso de uma fadiga física; assume o valor de comemoração de acontecimentos que se situam na própria vida como origem da felicidade atual. A criação, a aliança, a libertação da escravidão, a lei, a ressurreição gloriosa, o Pentecostes ... Que extensa e amável é a série de maravilhas divinas, das quais reavivamos a memória no «Dia do Senhor»! Nessa altura ressoa no coração do cristão a Sua amorosa petição naquela última noite: «Fazei isto em memória de Mim» (Lc 22, 19). Nós realizamos uma nova permuta e dizemos-Lhe: «Não te esqueças de mim, Senhor, quando chegar a minha hora, a hora da minha dor e da minha tribulação; a minha hora de passar deste mundo para a eternidade, quando vier o último dia. Dia tremendo (cf. Is 13,6,9; Mal 4, 1; JI 2, 2; So 1, 15). Lembra-Te de mim, Senhor, que tantas vezes Te recebi na Sagrada Comunhão, que Te acompanhei junto ao Sacrário, e admite-me no Teu reino "para que coma e beba à Tua mesa" (Lc 22, 29)».

Cristo, glorioso no Santíssimo Sacramento, escuta as nossas orações, vai enchendo de alegria os nossos corações, também em vista daquele transe, como encheu de gozo e serenidade os Apóstolos no dia da Sua ressurreição: «A paz seja convosco!» (Jo 20, 21).

Javier Echevarría, publicado no livro “Eucaristia e vida cristã


[1]. S. Josemaria Escrivá, Caminho, n. 267.

[2]. S. Josemaria Escrivá, Cristo que passa, n. 18.

[3]. Santo Agostinho, Sobre o bem da viuvez 21, 26.

[4]. João Paulo II, Mensagem para a jornada mundial da paz 2002, 8-XII-2002, n. 8.

[5]. Cf. Santo Agostinho, Sermão 59.

[6]. São Cromácio de Aquileia, Sermão 41.

[7]. São Pedro Crisólogo, Sermão 67.

[8]. S. Josemaria Escrivá, Notas tomadas da pregação (AGP, PO1, 1976, p. 34).

[9] Santo Agostinho, Confissões, XIII, 35-36.

[10] Santo Agostinho, Sermão 59.

[11] São Tomás de Aquino, Suma teológica, II-II, q. 29, a. 2 ad 4.

[12]. Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de São Lucas, 7.

[13]. Cf. São Jerónimo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, comentando Mt

[14]. Cf. Santo Agostinho, Tratados sobre o Evangelho de São João, 77.

[15]. São Cromácio de Aquileia, Sermão 41.

[16]. Cf. São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 15.

[17]. Cf. Santo Agostinho, Sobre o sermão da montanha, lib. I, 2.

[18]. João Paulo II, Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia,17-IV-2003.

[19]. Santo Ambrósio, Comentários ao Hexameron, VI, 10, 76.

[20] S. Josemaria Escrivá, Caminho, n. 537.

[21]. S. Josemaria Escrivá, Cristo que passa, n. 154.

[22]. Cf. São João Damasceno, Sobre a fé ortodoxa IV, 11.

[23]. Cf. São Máximo de Turim, Sermões 53 e 54.

[24]. João Paulo II, Carta apostólica Mane nobiscum, 7-X-2004, n. 1.

[25]. Ibid., 2.

[26]. Cf. Missal Romano, Oração do dia dos domingos I, III, VI, XIII, XIV, XV, XVI, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XXVI e XXXIII do Tempo Comum.

[27]. Missal Romano, Oração do dia do Domingo XXIII do Tempo Comum.

[28]. João Paulo II, Carta apostólica Dies Domini, 31-V-1998, n. 7.

[29]. Bento XVI, Homilia no encerramento do Congresso Eucarístico de Bari, 29-V-2005.

D. Javier Echevarría