Os seus acusadores usaram como pretexto a pregação que Jesus realizara acerca do Reino de Deus, um reino de justiça, amor e paz, para O apresentar como adversário político, que poderia acabar por levantar problemas a Roma. Mas Jesus não participou directamente na política nem tomou partido por nenhum dos bandos ou tendências nos quais se perfilavam as opiniões e a acção política das pessoas que então viviam na Galileia ou Judeia.
Isto não quer dizer que Jesus se desentendesse das questões relevantes na vida social do seu tempo. De facto a sua atenção pelos doentes, pobres e necessitados não passaram inadvertidos. Pregou a justiça e, cima de tudo, o amor ao próximo sem distinções.
Quando entrou em Jerusalém para participar na festa da Páscoa, a multidão aclamava-o como Messias gritando à sua passagem: “Hossana ao Filho de David! Bendito O que vem em nome do Senhor! Hossana no mais alto dos Céus!” (Mt 21, 9). No entanto Jesus não respondia às expectativas políticas que o povo colocava no Messias: não era um líder guerreiro que viesse mudar pelas armas a situação em que se encontravam, nem tão pouco foi um revolucionário que incitasse uma revolta contra o poder romano.
O messianismo de Jesus só se entende à luz das passagens do Servo Sofredor, de quem Isaías tinha profetizado (Is 52, 13-53, 12) que se entrega à morte para a redenção de muitos. Assim o entenderam claramente os primeiros cristãos ao reflectir, movidos pelo Espírito Santo, sobre o sucedido: “Cristo também sofreu por vós deixando-vos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas. Ele que não cometeu pecado, «e em cuja boca não se encontrou a mentira»;quando O injuriavam, não injuriava, sofrendo, não ameaçava, mas entregava-Se ao justo Juiz; foi Ele mesmo que levou os nossospecados em Seu corpo, sobre o madeiro, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: «por Suas chagas fostes curados». Porque vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora vos convertestes ao Pastor e Guarda das vossas almas” (1 Pe 2, 21-25).
Nalgumas biografias recentes de Jesus faz-se notar, ao considerar a sua atitude perante a política do momento, a variedade existente entre os homens que escolhe para serem Apóstolos. É costume citar Simão, chamado Zelote (cf. Lc 6, 15), que – como indicaria o seu próprio apelido – seria um nacionalista radical, empenhado na luta pela independência do povo frente aos romanos. Alguns especialistas nas línguas da zona também apontam Judas Iscariotes, cujo apelido, iskariot, parece ser uma transcrição grega popular da palavra latina sicarius, o que o identificaria como simpatizante do grupo mais extremista e violento do nacionalismo judaico. No entanto, Mateus exercia o ofício de cobrador de impostos para a autoridade romana, «publicano», ou colaboracionista com o regime político estabelecido por Roma, o que naquela altura se considerava equivalente. Outros nomes, como Filipe, denotariam a sua procedência do mundo helenístico que estava muito estabelecido na Galileia.
Estes dados podem ter alguns detalhes discutíveis ou associar alguns desses homens a posições políticas que só ganharam força décadas depois, mas em qualquer caso são bem ilustrativas do facto de no grupo dos Doze existirem pessoas muito variadas, cada um com as suas próprias opiniões e posicionamentos, que tinham sido chamados a uma tarefa – própria de Jesus – que transcendia a filiação política e a condição social de cada um deles.
Bibliografia: José María Casciaro, Jesucristo y la sociedad política (Palabra, Madrid, 1973) 56-59; J. Gnilka, Jesús von Nazareth. Botschaft und Geschichte, Herder, Freiburg 1990 (ed. esp. Jesús de Nazaret, Herder, Barcelona 1993); A. Puig, Jesús. Una biografía, Destino, Barcelona 2005; F. Varo, Rabí Jesús de Nazaret, BAC, Madrid 2005.