14/04/2020: 50.º Aniversário da romaria de S. Josemaria em Fátima

Quando começava o mês de Abril 1970, S. Josemaria saiu de Roma para fazer uma peregrinação mariana aos santuários de Torreciudad e Fátima.

Em Portugal sentia-se na "terra de Santa Maria, onde Ela quis deixar rasto do seu amor pelos homens”. E dizia: “Venho mais uma vez dizer-lhe que não nos abandone, que se ocupe da sua Igreja, que se ocupe de nós".

Antes de as iniciar explicava o motivo dessas “romarias”: -"Irei visitar dois santuários de Nossa Senhora. Irei como um crente do século XII: com o mesmo amor, com aquela simplicidade e com aquela alegria. Vou pedir pelo mundo, pela Igreja, pelo Papa, pela Obra. Também pedirei pelos meus filhos, porque vos quero muito, mas quero-vos muito santos".

No dia 7, realizou a “romaria” à primitiva ermida da Torreciudad, (o atual santuário estava então em construção; só seria inaugurado em 1975), regressou a Madrid e, no dia 13, depois do almoço, iniciou a viagem de carro a Portugal, acompanhado pelo Pe. Álvaro del Portillo, o Pe. Javier Echevarría e Rafael Camaño, para fazer uma outra “romaria”, agora a Nossa Senhora de Fátima. Queria colocar aos pés da mãe de Deus todas as"suas ocupações - porque não tenho preocupações - pela Igreja e pela Obra".

Fiz estas viagens — repetiu — com o ânimo, com a simplicidade e com a alegria do antigo romeiro

No dia 14, entram em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso. Logo que pisam terra portuguesa, lembra o motivo da viagem: "estou a rezar todo o dia, procurando falar continuamente com Deus, servindo-me da Virgem, que é a omnipotência suplicante, como intercessora. Fiz estas viagens — repetiu —com o ânimo, com a simplicidade e com a alegria do antigo romeiro". E referindo-se à terra portuguesa, acrescentou: "Terra de Santa Maria, onde Ela quis deixar rasto do seu amor pelos homens. Venho mais uma vez dizer-lhe que não nos abandone, que se ocupe da sua Igreja, que se ocupe de nós".

Depois rezou três Ave Marias pelo trabalho da Obra de Deus em Portugal, como fazia sempre que entrava num país, e terminou invocando a Santíssima Trindade. Ao meio-dia e meia, pararam no Buçaco para almoçar e, depois, seguiram a caminho de Fátima. Rezaram nesta parte do caminho os mistérios gozosos, e em Fátima rezariam os mistérios dolorosos, juntamente com os seus filhos portugueses, que lá encontraria, vindos de Lisboa.

"Terra de Santa Maria, onde Ela quis deixar rasto do seu amor pelos homens. Venho mais uma vez dizer-lhe que não nos abandone, que se ocupe da sua Igreja, que se ocupe de nós"

Estou convencido de que há que pedir muito, e quero pôr a minha oração nas mãos mil vezes benditas de Nossa Senhora".

Numa confidência cheia de simplicidade, deu um impressionante testemunho da sua humilde fé: "Dantes eu não pedia nada a Deus, porque entendia que era melhor abandonar-me confiadamente n’Ele. Esta atitude era boa naqueles primeiros tempos, porque assim via-se que tudo era de Deus. No entanto, agora acho que devo pedir e compreendo melhor toda a força destas palavras do Senhor: "pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; chamai e abrir-se-vos-á”. Estou convencido de que há que pedir muito, e quero pôr a minha oração nas mãos mil vezes benditas de Nossa Senhora".

Às 15h40, chegaram à Rotunda Norte, onde se encontravam vários membros portugueses do Opus Dei, bem como o Senhor bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral que, embora ausente noutra cidade, foi a Fátima expressamente para o cumprimentar.

Que vou descalço! Isso o faz até o último camponês e percorre quilómetros e quilómetros, sem dar a isto a menor importância.

De modo semelhante a como tinha feito na “romaria” a Torreciudad, descalçou-se na esquina da Rua Jacinta Marto com a Avenida D. José Alves Correia da Silva, para fazer a pé, ao longo desta artéria, o resto do trajeto - aproximadamente um km -, em direção à Cruz Alta. Dirigiu os mistérios dolorosos e, terminada a “Ladainha”, disse para rezarem um “Lembrai-vos, pedindo pelas suas intenções. Recitou depois o “Benedictus”, o “Magnificat” e a oração “Bendita a vossa pureza”. Como estivesse ainda descalço, houve quem quisesse evitar que continuasse a andar com os pés nus sobre a gravilha. Protestou então, dizendo: - “Que grande coisa! Que vou descalço! Isso o faz até o último camponês e percorre quilómetros e quilómetros, sem dar a isto a menor importância. E eu percorri apenas uns poucos de metros, uma vergonha! ".

"Vim para rezar a Nossa Senhora... e ver os meus filhos. Depois despedir-nos-emos, porque regresso de fugida. Não quero tirar-vos tempo nenhum. Vim por Ela e Ela trouxe-me este grupo de filhos para que rezem comigo. Como é bonito!". Após uma breve pausa, reparou nas estátuas de Pio XII e de Paulo VI que estão perto da Cruz Alta e, imediatamente, dirigiu-se para lá, indicando que queria rezar pelo Papa Paulo VI.

Estou convencido de que há que pedir muito, e quero pôr a minha oração nas mãos mil vezes benditas de Nossa Senhora”

Calçou-se novamente para não chamar a atenção dos restantes peregrinos. Pararam uns momentos e acrescentou: - "Dá-me muita alegria a devoção que há em Fátima e Lourdes; enche-me de alegria que se honre com tanto amor a nossa Mãe do Céu. Também nós contribuiremos para que este amor aumente, com o Santuário que vamos construir em Torreciudad...".

Seguiram para aCapelinha, mas, como havia muita gente, não conseguiram rezar em família, como pretendiam. O mesmo aconteceu na Basílica, onde rezaram ao Santíssimo Sacramento e, a seguir a, encostada à balaustrada do presbitério, deu a bênção de viagem aos membros do Opus Dei que voltavam para Lisboa.

Logo depois, iniciaram o regresso, pernoitando em Tomar. Seguiram, no dia seguinte, para Espanha, chegando a Madrid às 19h00.

Já de regresso a Madrid, era visível a alegria de S. Josemaria. Essa alegria transbordante nascia da sua confiança em Nossa Senhora, em cujas mãos tinha depositado todos os seus desejos.

Ao abandonar Fátima disse: - "Procurei meter, nos meus tempos de conversa com a Virgem, vivendo-os em silêncio, tudo o que trago dentro, tudo quanto rezei nestes meses e tudo o que os meus filhos rezaram".

Um filho meu português escreveu-me: "Padre, deu-me muita alegria vê-lo a rezar o terço em Fátima, porque, além disso, reza o terço beijando as medalhas, como as velhas”

Desta décima peregrinação recordará mais tarde, muitas vezes, o comentário de um membro da Obra, presente na altura, a propósito do seu gesto repetido de beijar as medalhas que usava no terço. "Eu não reparava que beijava as medalhas, mas há uns anos, estava eu em Fátima, em Portugal, com uns filhos meus portugueses; um deles escreveu-me e dizia-me: "Padre, deu-me muita alegria vê-lo a rezar o terço em Fátima, porque, além disso, reza o terço beijando as medalhas, como as velhas" (...). é verdade. Eu tenho muita inveja das velhinhas piedosas, das que suspiram no canto de uma igreja, ou lá na sua casa, ao fogão entre os púcaros da cozinha”.

"Padre, deu-me muita alegria vê-lo a rezar o terço em Fátima, porque, além disso, reza o terço beijando as medalhas, como as velhas"

Em tempos de racionalismo frio e impiedoso, todas as manifestações de afeto humano para com Deus o que comovem. Parecem apenas humanas, mas são realmente sobrenaturais e fruto de autêntica vida interior, de uma vida de fé.

Fonte: “Josemaria Escrivá – Fundador do Opus Dei – Peregrino de Fátima”
Manuel Martínez, DIEL 2002,pp. 95-100.