39. Como foi a morte de Jesus?

Jesus morreu cravado numa cruz no dia 14 de Nisan, sexta-feira de 7 de Abril do ano 30. Assim se pode deduzir da análise crítica dos relatos evangélicos, comparados com as alusões à sua morte transmitidas no Talmude (cf. TB, Sanhedrin VI, I; fol. 43a).

A crucifixão era uma pena de morte que os romanos aplicavam a escravos e a criminosos. Tinha carácter ignominioso, pelo que não se podia aplicar aos cidadãos romanos, mas apenas a estrangeiros. Desde que a autoridade romana se impôs na terra de Israel há numerosos testemunhos de que esta pena se aplicava com relativa frequência. O procurador da Síria, Quintílio Varo, tinha crucificado, no ano 4 a.C., dois mil judeus como represália por uma sublevação.

No que se refere ao modo em que Jesus pode ter sido crucificado são de indubitável interesse as descobertas realizadas na necrópole de Givat ha‑Mivtar, nos arredores de Jerusalém. Aí foi encontrada a sepultura de um homem que foi crucificado na primeira metade do século I d.C., por isso contemporâneo de Jesus.

A inscrição sepulcral permite conhecer o seu nome: João, filho de Haggol. Mediria 1,70 de altura e teria cerca vinte e cinco anos quando morreu. Não há dúvida de que se trata de um crucificado porque os coveiros não conseguiram desprender o cravo que sujeitava os seus pés – o que obrigou a sepultá-lo com o cravo, que por sua vez conservava parte da madeira. Isto permitiu saber que a cruz desse jovem era de madeira de oliveira. Parecia ter uma ligeira saliência de madeira entre as pernas que poderia servir para se apoiar um pouco, utilizando-a como assento, de modo que o réu pudesse recuperar um pouco as forças e prolongar a agonia – evitando com esse alívio uma morte imediata por asfixia, que se produziria se todo o peso pendesse dos braços sem nada em que apoiar-se. As pernas estariam ligeira­mente abertas e flectidas. Os restos encontrados na sua sepultura mostram que os ossos das mãos não estavam atravessados nem quebrados. Por isso, o mais provável é que os braços desse homem tivessem sido simplesmente atados com força ao travessão da cruz (no caso de Jesus, foram de facto pregados). Os pés, pelo contrário, tinham sido pregados. Um deles ainda mantinha preso um cravo grande e bastante longo. Pela posição em que está poder-se-ia pensar que o mesmo cravo teria atravessado os dois pés do seguinte modo: as pernas estariam um pouco abertas e o madeiro ficaria entre ambas, a parte esquerda do tornozelo direito e a parte direita do esquerdo estariam apoiados nos lados do madeiro transversal, o longo cravo atravessaria primeiro um pé de tornozelo a tornozelo, depois o madeiro e depois o outro pé. O suplício era tal que Cícero classificava a crucifixão como “o maior suplício”, “o mais cruel e terrível suplício”, “o pior e o último dos suplícios, que se inflige aos escravos” (In Verrem II, lib. V, 60-61).

No entanto, para nos apercebermos realmente daquilo que implicou a morte de Jesus na cruz, não basta fixar-se nos detalhes dolorosos e trágicos que a história é capaz de ilustrar, porque a realidade mais profunda é a que confessa “que Cristo morreu pelos nossos pecados, conforme as Escrituras” (1 Co 15, 3). Na sua generosa entrega à morte na Cruz manifesta a grandeza do amor de Deus por cada ser humano: “Deus manifesta o Seu amor para connosco, porque, quando ainda éramos pecadores, então Cristo morreu por nós” (Rm 5, 8).

 

Bibliografia: Simon Légasse, El proceso de Jesús. La historia, Desclée de Brouwer, Bilbao 1995 (págs. 137-143); Nicu HAAS, «Antropological Observations on the Skeletal Remains of Giv'at ha-Mivtar»: Israel Exploration Journal 20 (1970) 38-59; F. Varo, Rabí Jesús de Nazaret, BAC, Madrid 2005 (págs. 186-191).

Francisco Varo