33. Jesus foi discípulo de São João Baptista?

Dado que a relação entre João Baptista e Jesus foi tão directa e intensa, seria conveniente perguntar se houve entre eles uma relação mestre-discípulo. Para uma resposta adequada a esta questão, é necessário explicar os três elementos que foram debatidos sobre este tema entre os estudiosos, que são os seguintes: os discípulos de João, a importância do seu baptismo no Jordão e os elogios de Jesus ao Baptista.

1. Os discípulos de João. Os evangelhos assinalam com frequência que João tinha discípulos, entre os quais alguns seguiram depois Jesus (Jo 1, 35-37). Não eram, portanto simples seguidores eventuais, mas acompanhavam-no, seguiam-no e, seguramente, compartilhavam a sua própria vida (Mc 2, 18) e as suas próprias ideias (Jo 3, 22). Flávio Josefo distinguia dois tipos de partidários, uns que o escutavam com atenção ao falar de virtude, de justiça e de piedade, e se baptizavam; e outros, que “se reuniam em volta dele, porque se entusiasmavam muito ao ouvi-lo falar” (Antiguidades Judaicas 18, 116-117). Entre os seguidores de João houve alguns que chegaram a perguntar ao seu mestre se Jesus, com a Sua conduta, se estava a mostrar como um rival (Jo 3, 25-27), portanto não O consideravam como um dos seus.

2. O baptismo de Jesus. Os especialistas não duvidam da historicidade do facto, entre outras coisas porque a sua inclusão nos evangelhos apresentava certas dificuldades. Uma era a possível interpretação de que o Baptista era superior ao baptizado, Jesus. E outra, porque tratando-se de um baptismo de penitência, poderia pensar-se que Jesus se conside­rava pecador. Os sinópticos deixam claro nos seus relatos que João se reconhece inferior: recusa baptizar Jesus (Mt 3, 13-17); a voz do céu revela a dignidade divina de Jesus (Mc 1, 9-11); e o quarto evangelho, que não relata o baptismo, assinala que o Baptista dá testemunho de ter visto pousar a pomba sobre Jesus (Jo 1, 29-34) e da sua própria inferioridade (Jo 3, 28). Contudo, não se deduz necessariamente daí que Jesus fosse discípulo de João Baptista. Se os evangelistas não especificam que Jesus tenha sido discípulo de João, é porque não o foi.

3. Os elogios de Jesus. Há duas frases de Jesus que demonstram a sua estima pelo Baptista. Uma é recolhida por Mateus (Mt 11, 11) e Lucas (7, 28): “entre os nascidos de mulher não veio ao mundo ninguém maior que João Baptista”. Outra está em Marcos (9, 13) e aplica ao Baptista a profecia de Ml 3, 23-24: “Elias virá primeiro e restabelecerá todas as coisas (…). Todavia, Eu vos digo – afirma Jesus – que Elias já veio, e fizeram dele quanto quiseram, como está escrito dele”.

Não há dúvida de que a pessoa de João, o seu baptismo (cf. Mt 21, 13-27) e a sua mensagem estive­ram muito presentes na vida de Jesus. Contudo, seguiu um caminho totalmente diferente: na sua conduta, uma vez que percorreu todo o país, a capital, Jerusalém, e o âmbito do templo; na sua mensagem, uma vez que pregou o reino de salvação universal; nos seus discípulos, a quem ensinou no mandamento do amor, por cima das normas legais e até das práti­cas ascéticas. Mas o mais chamativo é o facto de Jesus abrir o horizonte da salvação a todos os homens, de todas as raças e de todos os tempos.

Em resumo, tendo em conta a suposição pouco provável e nada comprovada de que Jesus tivesse passado algum tempo junto dos seguidores do Baptista, não se pode dizer que tenha recebido uma influência decisiva. Jesus, mais que discípulo, foi o Messias e Salvador anunciado pelo último e maior dos profetas, João, o Baptista.

 

Bibliografia: J. Gnilka, Jesús von Nazareth. Botschaft und Geschichte, Herder, Freiburg 1990 (ed. esp. Jesús de Nazaret, Herder, Barcelona 1993); A. Puig, Jesús. Una biografía, Destino, Barcelona 2005.

Santiago Ausín