23. Que dados sobre Jesus nos dão as fontes romanas e judaicas?

As primeiras referências a Jesus em documentos literários, fora dos escritos cristãos, podem-se encontrar em alguns historiadores helénicos e romanos que viveram na segunda metade do século I ou na primeira do século II, portanto, bastante próximo dos acontecimentos.

O texto mais antigo onde se menciona Jesus, ainda que de um modo implícito, foi escrito por um filósofo estóico originário de Samosata, Síria, chamado Mara bar Sarapiton, por volta do ano 73. Refere-se a Jesus como o “sábio rei” dos judeus, dizendo que promulgou “novas leis”, talvez em alusão às antíteses do Sermão da Montanha (cfr. Mt 5, 21-48) e que de nada serviu aos judeus dar-lhe a morte.

A menção explícita de Jesus mais antiga e célebre é a que faz o historiador Flávio Josefo (Antiquitates Iudaicae XVIII, 63-64), nos finais do século I, também conhecida como Testimonium Flavianum. Esse texto, que se conservou em todos os manuscritos gregos da obra de Josefo, chega a insinuar que podia ser o Messias, pelo que muitos autores alegam que terá sido interpolado por copistas medievais. Hoje em dia, os investigadores pensam que as palavras originais de Josefo deviam ser muito parecidas com as que se conservaram numa versão árabe do texto citado por Agápio, um Bispo de Hierápolis, no século X, onde já não figuram as presumíveis interpolações. Diz assim: “Por este tempo, um homem sábio chamado Jesus teve uma boa conduta e era conhecido como virtuoso. Teve como discípulos muitas pessoas de entre os judeus e outros povos. Pilatos condenou-o a ser crucificado e morrer. Mas, os que se tinham feito seus discípulos não abandonaram o seu seguimento e contaram que se lhes apareceu três dias após a crucificação e estava vivo, e que por isso podia ser o Messias do qual os profetas tinham dito coisas maravilhosas”.

Entre os escritores romanos do século II (Plínio, o Moço; Epistolarum ad Traianum Imperatorem cum eiusdem Responsis liber X, 96; Tácito, Anais XV, 44; Suentónio, Vida de Cláudio, 25, 4) há algumas alusões à figura de Jesus e à acção dos seus seguidores.

Nas fontes judaicas, particularmente no Talmude, também há várias alusões a Jesus e a certas coisas que se diziam d’Ele e que permitem corroborar alguns detalhes históricos por fontes aparentemente pouco ou nada suspeitas de manipulação cristã.

Um investigador judeu, Joseph Klausner, sintetiza assim algumas das conclusões que se podem deduzir dos enunciados talmúdicos sobre Jesus: “Há enunciados fiáveis no que respeita ao seu nome ter sido Yeshua (Yeshu) de Nazaré, que “praticou a feitiçaria” (quer dizer, que realizou milagres como era corrente naqueles dias) e a sedução, e que conduzia Israel pelo mau caminho; que se riu das palavras dos sábios e comentou a Escritura tal como os Fariseus; que teve cinco discípulos; que disse que não tinha vindo para abolir a Lei nem para lhe acrescentar coisa alguma; que foi posto num madeiro (crucificado) como falso mestre e sedutor, nas vésperas da Páscoa (que calhou num Sábado); e que os seus discípulos curavam doenças em seu nome” (J. Klausner, Jesús de Narazet, p. 44) O resumo que faz, e os seus incisos, ainda que exigissem precisões do ponto de vista histórico, são suficientemente esclarecedores do que se pode deduzir destas fontes, que não dizendo tudo, dizem bastante. Contrastando estes dados com os procedentes dos autores romanos é, portanto, possível assegurar com certeza histórica que Jesus existiu e inclusivamente conhecer alguns dos dados mais importantes da sua vida.

 

Bibliografia: Joseph Klausner, Jesús de Nazaret. Su vida, su época, sus enseñanzas, Paidós, Barcelona 1989; Romano Penna, Ambiente histórico cultural de los orígenes del cristianismo, Desclée de Brouwer, Bilbao 1994; Robert E. Van Voorst, Gesù nelle fonti extrabibliche. Le antiche testimonianze sul Maestro di Galilea, San Paolo, Cinisello Balsamo 2004; F. Varo, Rabí Jesús de Nazaret, BAC, Madrid 2005 (págs. 99-127).

Francisco Varo