15 dias de 60 universitárias portuguesas em Cabo Verde

Pelo segundo verão consecutivo, 60 universitárias portuguesas, após preparação prévia em centros do Opus Dei em Portugal, foram trabalhar para a cidade da Praia, Cabo Verde. Uma delas conta como foi.

Algumas repetiam a colaboração, mas a maioria estreava. A preparação antecipou o previsível e abriu-nos para o inesperado. Aterrámos à noite, já escuro, naquele ambiente quente e húmido. Uma carrinha tipo “pão-de-forma”, onde cabe sempre mais um, levou-nos ao alojamento, a escola do Palmarejo. O funaná é a música do país e foi a música dos nossos dias. Descarregadas as malas, aprendemos a rotina do deitar: toalhitas, lavar os doentes com garrafa de água, pôr repelente, montar o estendal: colchão, lençóis, almofada e mosquiteiro.

Algumas das 60 universitárias no Bairro de Fonton
Ensinámos crianças e, também, bebés: um dia veio um de 2 anos, naquela manhã confiado à tia, uma aluna de 5 anos!

Começámos no Bairro do Fonton. Algumas crianças reencontraram voluntárias conhecidas entre emoções, abraços e saudades. Organizámos para elas cursos de Artes, Dança, Teatro, Música. Com a “Volta ao Mundo” passeámos pelos caminhos de outras geografias, hábitos e culturas. Ensinámos crianças e, também, bebés: um dia veio um de 2 anos, naquela manhã confiado à tia, uma aluna de 5 anos! Cada hora desafiou a nossa criatividade para a grande odisseia de criar ordem com aqueles bebés a correr para o meio de um jogo de futebol, a pedir colo ou, mais directamente, a atirar-se para o primeiro colo disponível.

O ambiente do dispensário médico deve ter parecido simpático pois além das que precisavam, vieram também crianças que não estavam doentes e inventavam modos de andar por lá.

As médicas, enfermeiras e estudantes de cursos de saúde foram oferecer os seus serviços no dispensário médico. A cidade da Praia tem acesso a cuidados de saúde, pelo que se tratava de dar um pequeno contributo. O ambiente do dispensário médico deve ter parecido simpático pois além das que precisavam, vieram também crianças que não estavam doentes e inventavam modos de andar por lá. A enfermeira viu um menino com uma ferida perfeitamente cicatrizada que, porém, lhe pediu: “cura-me!”. O pedido era irrecusável, e a enfermeira acedeu: colou-lhe o penso e desenhou por cima um sorriso. A felicidade da criança é fácil de imaginar!

Não tinha ideia que a água, a tão óbvia água do meu despreocupado quotidiano português, tivesse tanta importância. Numa tarde chegou o lá famoso contentor das garrafas de água. Foi uma experiência única: carregar 5 toneladas de água numa cadeia de 60 pessoas, do portão da escola até à cozinha.

Agora vi em cada mochila uma história nova: a da alegria das crianças e adolescentes que as recebiam junto com as cartas dos meninos que as mandaram. É tanto o que se pode fazer com tão pouco!

Mas houve mais contentores... Por causa de comida. E, outro muito especial, por causa das muuuuuitas (!) “mochilas solidárias!”. Eu sabia que “cada mochila, sua história”, cada mochila tem dentro o gesto bom e concreto de pessoas concretas de muitas escolas portuguesas. Agora vi em cada mochila uma história nova: a da alegria das crianças e adolescentes que as recebiam junto com as cartas dos meninos que as mandaram. É tanto o que se pode fazer com tão pouco!

À tarde a atividade Ambiente fazia os mais novos ficar ao rubro. Uns dias, fizemos cartazes de sensibilização; outros, plantámos flores e ervas aromáticas, recolhemos lixo, aprendemos músicas ecológicas, pintámos mensagens em muros … Atingimos o ponto alto com a “Marcha do Ambiente”: as crianças deram uma volta por todo o bairro do Fonton com cartazes, músicas e lemas previamente ensaiados, para sensibilizar as pessoas. Megafones, balões e muita convicção para que a mensagem passasse e ficasse no ar por muito tempo!

Também realizámos acções para adultos, agrupados em cursos de Cozinha, Informática, Empreendedorismo, Voluntariado e Primeiros Socorros. Foi tal a adesão, que no segundo dia ficaram preenchidas todas as vagas das inscrições.

O dia não terminava sem a avaliação conjunta do que melhorar no dia seguinte. Trabalhámos meses a preparar cada atividade e a fomentar encontros com os representantes da comunidade local, para que tudo correspondesse às necessidades reais, mas a experiência do dia-a-dia levava-nos a acertar sempre muitos pormenores.

E quando se diz que ir a África muda a vida da pessoa, não é mais um cliché, é que de facto, é impossível ficar indiferente!

Sai do coração o habitual clichê “recebi muito mais do que dei” ou “agora valorizo mais o que tenho”, mas é mesmo isso que acontece. E quando se diz que ir a África muda a vida da pessoa, não é mais um cliché, é que de facto, é impossível ficar indiferente!

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Ver também:
- 2000 “mochilas solidárias” de Portugal para crianças de Cabo Verde
- "Temos que nos dar a 100% e não apenas pela metade"