15 de Agosto de 1951: uma viagem especial a Loreto

Recordamos a viagem que o fundador do Opus Dei fez a Loreto (Itália) em 15 de Agosto de 1951, dia em que a Igreja celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora.

Nossa Senhora do Loreto

S. Josemaria, D. Álvaro del Portillo, Salvador Moret Bondía e Ignacio Sallent Casas chegaram a Loreto na tarde de 3 de Janeiro. Fizeram a oração no recinto da Casa de Nazaré, dentro do Santuário. Ao sair do templo, o Padre perguntou a D. Álvaro:

Que disseste a Nossa Senhora?

«Quer que lho diga?» E, perante um gesto do Padre, respondeu:

«Pois repeti o que sempre digo, mas como se fosse pela primeira vez. Disse-lhe: peço-te o que te pede o Padre»

«Parece-me muito bem o que disseste — disse-lhe mais tarde o Pe. Josemaria. Repete-o muitas vezes».

Josemaria Escrivá esteve em Loreto pela primeira vez nos dias 3 e 4 de Janeiro de 1948. Mas o motivo pelo qual o fundador do Opus Dei se considerava especialmente em dívida para com Nossa Senhora do Loreto correspondia a uma gravíssima necessidade. Os anos 50 foram de muito sofrimento para Josemaria, devido a incompreensões e conflitos. No meio dessas dificuldades, decidiu ir a Loreto para se colocar sob a proteção da Virgem Maria.

Uma viagem especial: 15 de Agosto de 1951

«No dia 14 de Agosto de 1951 decide sair, por estrada, até Loreto – conta Ana Sastre*– para ali estar no dia 15 e consagrar a Obra à Santíssima Virgem. O calor é sufocante e a sede far-se-á sentir durante o trajeto. Não havia autoestrada. A estrada, traçada entre vales, sobe para escalar os Apeninos e desce, na última parte, até chegar ao Adriático».

A Santa Casa de Nazaré

«Segundo uma tradição multissecular, desde 1294, a Santa Casa de Nazaré está na colina de Loreto, sob o cruzeiro da Basílica edificada posteriormente. É retangular, com paredes de uns quatro metros e meio de altura. Uma delas é de construção moderna, mas as outras sem alicerces, enegrecidas pelo fumo das velas, são originais. Tanto a estrutura, como a formação geológica dos materiais não têm nenhuma semelhança com as características da antiga arquitetura da zona: é perfeitamente análoga às construções que se faziam na Palestina há vinte séculos: silhares de pedra arenosa, que utilizavam a cal como elemento de união.

O Santuário ergue-se sobre uma lomba coberta de loureiros – de onde lhe vem o nome. Estacionam na praça central e o Padre sai rapidamente do carro. Durante quinze ou vinte minutos, perdem-no no meio da gente que enche a Basílica. Por fim sai, depois de saudar a Virgem, sorridente e animado. São sete e meia e têm de voltar a Ancona para passarem a noite.

Na manhã seguinte, antes de o sol cair a pino voltam à estrada. Apesar de ser muito cedo, o Santuário está repleto. O Padre paramenta-se na sacristia e dirige-se para o altar da Casa de Nazaré para celebrar a Missa. O pequeno recinto está cheio de gente e o calor é sufocante».

Santa Missa

O fundador do Opus Dei com D. Álvaro del Portillo diante da Santa Casa

«Sob as lâmpadas votivas, quer oficiar a Liturgia com toda a devoção. Mas não contou com o fervor da multidão neste dia de festa: "Enquanto eu beijava o altar, nos momentos prescritos pelas rubricas da Missa, três ou quatro camponesas beijavam-no ao mesmo tempo. Distraí-me, mas estava emocionado. E também me atraía a atenção, a lembrança de que naquela Santa Casa que a tradição assegura ser o lugar onde viveram Jesus, Maria e José – na mesa do altar, tinham gravado estas palavras: “Hic Verbum caro factum est”. Aqui, numa casa construída pela mão dos homens, num pedaço da terra em que vivemos, habitou Deus" (Cristo que passa, n. 12).

Durante a Missa, sem fórmulas mas com palavras cheias de fé, o Padre faz a Consagração da Obra a Nossa Senhora. E a seguir, falando em voz baixa para os que estão a seu lado, volta a repeti-la em nome de todo o Opus Dei.: "Consagramos-te o nosso ser e a nossa vida; tudo o que é nosso: o que amamos e somos. Para ti os nossos corpos, os nossos corações e as nossas almas; somos teus. E para que esta consagração seja verdadeiramente eficaz e duradoura, renovamos hoje a teus pés, Senhora, a entrega que fizemos a Deus no Opus Dei. Infunde em nós um grande amor à Igreja e ao Papa, e faz-nos viver plenamente submissos a todos os seus ensinamentos" (RHF 20766, p. 450)».

Uma invocação à Virgem Maria

O Padre saiu de Roma visivelmente cansado. Mas, ao regressar, parece renovado. Como se todos os obstáculos se tivessem dissolvido no caminho de Deus. Há alguns meses propôs aos seus filhos uma invocação dirigida à Mãe de Jesus; a partir desse dia repeti-la-ão para que haja continuamente almas que estejam a pedir a sua proteção: Cor Mariae dulcissimum iter para tutum! Coração dulcíssimo de Maria, prepara-nos um caminho seguro!

Fachada do Santuário de Nossa Senhora do Loreto

As rotas do Opus Dei estarão sempre precedidas do sorriso e do amor da Virgem. Uma vez mais, o fundador moveu-se nas coordenadas da fé. Emprega os meios humanos, mas confia na intervenção decisiva do Alto. «Deus é o de sempre. – Fazem falta homens de fé; e renovar-se-ão os prodígios que lemos na Sagrada Escritura. Ecce non est abbreviata manus Domini – a mão de Deus, o seu poder não diminuiu!» (Caminho, n. 586).

Foi à Santa Casa outras seis vezes: em 7-XI-1953, 12-V-1955, 8-V-1960, 22-IV-1969, 8-V-1969 e a última em 8-V-1971. No dia 9 de Dezembro de 1973, véspera da festa de Nossa Senhora do Loreto, disse «Todas as imagens, todos os nomes, todas as invocações que o povo cristão dá a Santa Maria, parecem-me encantadoras. Mas em Loreto sinto-me especialmente devedor a Nossa Senhora».


*Ana Sastre, Tempo de Caminhar (trad. port.), Lisboa, Diel, 1994, p. 417-418

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