14/5: S. Matias, apóstolo

S. Matias foi testemunha ocular dos ensinamentos de toda a vida pública de Jesus. Foi escolhido para substituir Judas no colégio apostólico.

- Papa Francisco: o nosso destino é viver como amigos de Jesus
- Papa Bento XVI: é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus


De Matias, o Apóstolo que foi escolhido para substituir Judas no grupo dos Doze, temos poucas notícias históricas. A única verdadeiramente fiável é o texto dos Atos dos Apóstolos, que nos relata a iniciativa de Pedro de substituir Judas, perdido primeiro pela traição, e, por último, pelo desespero. O relato bíblico transcreve deste modo o discurso de primeiro Papa e o ambiente de oração da primitiva comunidade cristã:

“Portanto, de entre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, a partir do batismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, é necessário que um deles se torne, connosco, testemunha da sua ressurreição. Designaram dois: José, de apelido Barsabas, chamado Justo, e Matias. Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste para ocupar, no ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que merecia.» Depois, tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze Apóstolos “[1].

Sabemos, assim, que Matias foi testemunha ocular da vida e ensinamentos de toda a vida pública de Jesus. É frequente ser apontado como um dos prováveis 72 discípulos. Em qualquer caso, seria um discípulo fiel e estava junto com os restantes nos momentos que se seguiram à Paixão, Morte, Ressurreição, tendo vivido também com eles o Pentecostes.

S. Pedro, seguindo a tradição escriturística, dava importância a que o Colégio Apostólico perfizesse o número 12, tal como eram 12 as tribos de Israel, símbolo do povo de Deus e agora da Nova Aliança, destinada a toda a humanidade, segundo o mandato missionário. Não se tratava, assim, apenas de preencher um lugar vago, mas de todo o simbolismo que convocava para a História da Salvação.

Eleger por sorteio era um modo familiar aos leitores da Sagrada Escritura e assim se tinha procedido noutros momentos importantes.

Sobre a sua fidelidade posterior e locais que evangelizou, só temos notícia por textos apócrifos. Bento XVI proferiu no Porto, na sua viagem a Portugal em 2010, algumas palavras iluminadoras sobre este Apóstolo no dia da sua festa litúrgica:

«É necessário que um se torne connosco testemunha da ressurreição»: dizia Pedro. E o seu Sucessor atual repete a cada um de vós: Meus irmãos e irmãs, é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus. Na realidade, se não fordes vós as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar? O cristão é, na Igreja e com a Igreja, um missionário de Cristo enviado ao mundo. Esta é a missão inadiável de cada comunidade eclesial: receber de Deus e oferecer ao mundo Cristo ressuscitado, para que todas as situações de definhamento e morte se transformem, pelo Espírito, em ocasiões de crescimento e vida. Para isso, em cada celebração eucarística, ouviremos mais atentamente a Palavra de Cristo e saborearemos assiduamente o Pão da sua presença. Isto fará de nós testemunhas e, mais ainda, portadores de Jesus ressuscitado no mundo, levando-O para os diversos setores da sociedade e quantos neles vivem e trabalham, irradiando aquela «vida em abundância» (Jo, 10, 10) que Ele nos ganhou com a sua cruz e ressurreição e que sacia os mais legítimos anseios do coração humano.

Nada impomos, mas sempre propomos, como Pedro nos recomenda numa das suas cartas: «Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder a quem quer que seja sobre a razão da esperança que há em vós» (1 Ped 3, 15). E todos afinal no-la pedem, mesmo quem pareça que não. Por experiência própria e comum, bem sabemos que é por Jesus que todos esperam. De facto, as expetativas mais profundas do mundo e as grandes certezas do Evangelho cruzam-se na irrecusável missão que nos compete, pois «sem Deus, o ser humano não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja(…)

Temos de vencer a tentação de nos limitarmos ao que ainda temos, ou julgamos ter, de nosso e seguro: seria morrer a prazo, enquanto presença de Igreja no mundo, que aliás só pode ser missionária, no movimento expansivo do Espírito. Desde as suas origens, o povo cristão advertiu com clareza a importância de comunicar a Boa Nova de Jesus a quantos ainda não a conheciam. Nestes últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos. O campo da missão ad gentes apresenta-se hoje notavelmente alargado e não definível apenas segundo considerações geográficas; realmente aguardam por nós não apenas os povos não-cristãos e as terras distantes, mas também os âmbitos socioculturais e sobretudo os corações que são os verdadeiros destinatários da atividade missionária do povo de Deus. (…)

Sim! Somos chamados a servir a humanidade do nosso tempo, confiando unicamente em Jesus, deixando-nos iluminar pela sua Palavra: «Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo 15, 16). Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto! Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão: a missão recebemo-la sempre de Cristo, que nos deu a conhecer o que ouviu a seu Pai, e somos nela investidos por meio do Espírito na Igreja. Como a própria Igreja, obra de Cristo e do seu Espírito, trata-se de renovar a face da terra a partir de Deus, sempre e só de Deus!

E, numa das suas audiências em Roma, em 18 de outubro de 2006, convidara-nos também a seguir o seu exemplo:

“Em conclusão, queremos recordar também aquele que depois da Páscoa foi eleito no lugar do traidor. (…)À grandeza desta sua fidelidade acrescenta-se depois a chamada divina a ocupar o lugar de Judas, como para compensar a sua traição. Tiramos disto mais uma lição: mesmo se na Igreja não faltam cristãos indignos e traidores, compete a cada um de nós equilibrar o mal que eles praticam com o nosso testemunho transparente a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.”

Depois de ter figurado no calendário litúrgico em fevereiro, a sua festa passou a ser fixada em 14 de maio, que será provavelmente mais próxima da sua eleição.


[1] At 1, 21-26