Cresci no seio de uma família cristã praticante da Apúlia. O meu pai, que é membro do Caminho Neocatecumenal desde antes de eu ter nascido, vem de uma família simples e não muito praticante, onde a caridade foi sempre vivida em atos, com a proximidade e a hospitalidade para com os familiares, amigos e conhecidos.
A minha mãe vem de uma família profundamente católica, onde conheci a fidelidade, a prática da fé na missa, nos terços, nas procissões, mas também a fé que se torna diálogo e uma relação autêntica com o Senhor, sobretudo nos momentos difíceis da vida. Dos quatro avós aprendi o valor da família, da fidelidade conjugal, do bom humor.
A fé vivida em família
Entre as primeiras recordações que tenho da prática religiosa em família, contam-se as orações da noite que fazíamos com a minha mãe e algumas recordações esvaídas da bênção recebida do meu pai quando impunha as mãos sobre mim e sobre a minha irmã antes de adormecermos.
Aos domingos, depois da missa e antes do almoço, o pai convidava-nos a recitar as Laudes, nas quais dizia uma oração que encontrei na vida nos centros da Obra: “Cantemos o hino que os três jovens cantaram...”. Também as recitávamos de cor no carro quando íamos almoçar com os nossos avós maternos que eram de uma terra próxima. A parte da oração espontânea foi a que mais me custou, embora depois tenha ficado contente. Estava curiosa sobre as intenções que os outros iriam expressar, especialmente a minha irmã. Era um pouco como abrir o coração sobre coisas que normalmente não partilhávamos.
Lembro-me que o pai nos levava, por vezes, a participar nas atividades infantis promovidas pela Comunidade Neocatecumenal, mas ele próprio recorda que não nos atraía muito, que preferíamos frequentar a nossa paróquia. E por isso nunca nos obrigou, como nunca o fez com a mamã. Para ele, era importante que frequentássemos a Igreja e a prática religiosa. Quanto ao caminho e a grupos, a única coisa importante era que fossem sérios.
Cuidado com o Opus Dei!
Conheci o Opus Dei aos 19 anos, quando fui estudar Engenharia Biomédica no Campus Bio-Medico de Roma e viver numa residência universitária dirigida por pessoas do Opus Dei. A Obra era algo que me atraía, mas ao mesmo tempo muitas pessoas diziam-me para ter cuidado, de tal forma que comecei a fechar-me e a ter medo dela. Uma vez partilhei as minhas angústias com os meus pais, dizendo que queria sair da residência universitária, embora sem uma razão concreta.
O meu pai, com o seu pragmatismo habitual, disse-me que a meio do ano letivo não podíamos permitir-nos mudar de alojamento, e disse-me também que a Obra era uma coisa de Deus e que eu podia passar o resto do ano letivo na residência, tirando dali o melhor que Deus tinha reservado para mim. Estas palavras encheram-me de paz e deram-me uma nova determinação.
Assim, regressei a Roma e pus em prática os conselhos recebidos, retomando tudo o que me atraía e a que, por medo, renunciava: a catequese, o círculo – um meio de formação cristã típico da Obra a que tinha fugido até àquele momento –, os momentos de oração na capela, os momentos de família chamados tertúlias, juntamente com as residentes e as numerários, as amizades.
A oração da mãe: atendida
Pouco a pouco, a residência tornou-se a minha casa, as pessoas do Opus Dei amigas e as outras residentes pessoas com quem aprender e partilhar. Sobretudo, comecei a rezar em diálogo com o Senhor, como com um amigo, segundo o conselho de S. Josemaria. Comecei a ver a imensidão do amor de Deus por mim e a perceber que Ele me pedia que o amasse de modo exclusivo. Falei sobre isto com uma amiga numerária, dizendo-lhe que compreendia que queria viver o celibato, mas não sabia como configurar esta doação na Igreja. Juntas entendemos que a Obra, onde Deus tinha permitido que o meu coração se abrisse, seria o caminho. Então pedi para ser admitida na Obra como numerária.
Disseram-me que primeiro tinha de falar com os meus pais. Falei primeiro com a minha mãe: disse-me que tinha pressentido que algo estava a acontecer e confidenciou-me que estava a rezar por mim, não tanto para que encontrasse o homem da minha vida, mas uma boa família cristã. Fiquei sem palavras! Ela tinha sido atendida à letra! Depois falei com o meu pai. Vi-o comovido e, no entanto, manteve uma atitude séria e ponderada, disse-me para pensar. Deixou-me livre.
De vez em quando, via-os menos felizes e com mais dúvidas, com medo, com algumas reservas em relação à Obra, mas no balanço geral, sentia o seu apoio não só em abstrato, mas nos acontecimentos concretos da minha vida de numerária. Foi crescendo a sua compreensão e afeto pela Obra e pelas pessoas que se tornaram parte da minha família sobrenatural e, portanto, também da deles. Todos os dias me apoiam com as suas orações e a sua sabedoria humana, estimulando-me a ser fiel no meu caminho e sobretudo a ser uma boa cristã.
Na sua vocação, revi a minha
Temos experimentado que, mesmo quando os terramotos da vida nos abalam e interpelam o nosso coração, a nossa fé, vivendo cada um segundo o seu carisma e partilhada na oração mútua, é de grande ajuda, consolação e esperança.
A minha vocação deu-me muitas coisas. Entre elas, o dom de poder ver de perto o desabrochar da vida de Deus nas pessoas. Há alguns anos, pude também experimentar este mesmo dom com a minha mãe, que entrou no Caminho Neocatecumenal depois de ter acompanhado o meu pai na sua última etapa do neocatecumenado, em Jerusalém. Dizemos sempre que ela começou o Caminho "pelo fim". Foi muito bonito ver nascer a sua vocação: em conversas telefónicas contava-me os seus primeiros encontros com a Comunidade e a sua descoberta de Deus. Na sua vocação vi traços da minha própria vocação, da ação de Deus, da sua forma extraordinária de fazer as coisas.
“100 anos de gratidão” é uma recolha de testemunhos italianos que acompanham as Assembleias regionais do Opus Dei em 2024.
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