O diálogo mais importante da história teve lugar no interior de uma pobre casa de Nazaré. Os seus protagonistas são o próprio Deus, que se serve do ministério de um Arcanjo, e uma Virgem chamada Maria, da casa de Davi, desposada com um artesão de nome José.
Muito provavelmente Maria se encontrava recolhida em oração, talvez meditando alguma passagem da Sagrada Escritura referente à salvação prometida pelo Senhor; é assim que a mostra a arte cristã, que se inspirou nesta cena para compor as melhores representações da Virgem. Ou talvez estivesse ocupada nos trabalhos da casa e, neste caso, também se encontrava absorvida em oração: tudo nela era ocasião e motivo para manter um diálogo constante com Deus.
— Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. ( Lc 1, 28).
Ao ouvir estas palavras, Maria perturbou-se com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação( Lc 1, 29). Enche-se de confusão, não tanto pela aparição do anjo, mas sim por suas palavras. E, constrangida, se pergunta o porquê de tantos louvores. Perturba-se porque, em sua humildade, se sente pouca coisa. Boa conhecedora da Escritura percebe imediatamente que o mensageiro celestial lhe está transmitindo uma mensagem inaudita. Quem é Ela para merecer esses elogios? Que fez em sua breve existência? Certamente deseja servir a Deus com todo o seu coração e toda a sua alma; mas se vê muito longe daquelas proezas que renderam louvores a Débora, Judite, Ester, mulheres muito exaltadas na Bíblia. No entanto, compreende que a embaixada divina é para Ela. Ave, gratia plena!
Neste primeiro momento, Gabriel se dirige a Maria dando-lhe um nome – cheia de graça – que explica a profunda perturbação de Nossa Senhora. São Lucas utiliza um verbo que, na língua grega, indica que a Virgem de Nazaré se encontrava completamente transformada, santificada pela graça de Deus. Como posteriormente definiria a Igreja, isto ocorreu no primeiro momento da sua conceição, na consideração da missão que iria cumprir: ser Mãe de Deus na sua natureza humana, permanecendo ao mesmo tempo Virgem.
O Arcanjo percebe o choque da Senhora e, para tranquilizá-la, dirige-se a Ela chamando-a – agora sim – pelo seu nome próprio e explicando-lhe as razões desta saudação excepcional.
—Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim (Lc 1, 30-33).
Maria, que conhece bem as profecias messiânicas e as meditou muitas vezes, compreende que será Mãe do Messias. Não há em sua resposta a menor sombra de dúvida ou de incredulidade: se, desde sua mais terna infância, só ansiava o cumprimento da Vontade Divina! Mas deseja saber como se realizará esse prodígio, pois, inspirada pelo Espírito Santo, tinha decidido entregar-se a Deus em virgindade de coração, corpo e mente.
São Gabriel comunica-lhe então o modo diviníssimo em que a maternidade e virgindade se conciliarão em seu seio.
—O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível (Lc 1, 35-37):
O anjo cala-se. Um grande silêncio toma conta do céu e da terra, enquanto Maria medita em seu coração a resposta que vai dar ao mensageiro divino. Tudo depende dos lábios desta Virgem: a Encarnação do Filho de Deus, a salvação da humanidade inteira.
Maria não demora. E, ao responder ao convite do Céu, o faz com toda a energia da sua vontade. Não se limita a um genérico dar permissão, mas pronuncia um sim – fiat! – em que deposita toda sua alma e todo o seu coração, aderindo plenamente à Vontade de Deus: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra(Lc 1, 38).
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós ( Jo 1, 14). Ao contemplar uma vez mais este mistério da humildade de Deus e a humildade da criatura, prorrompemos numa exclamação de gratidão que gostaríamos que não terminasse nunca: Ó Mãe, Mãe! Com essa tua palavra - "fiat" - nos tornaste irmãos de Deus e herdeiros da sua glória. - Bendita sejas!» (Caminho , n. 512).
J.A. Loarte