Sob o impulso do dia 6-X-2002: Micro-créditos, violinos, dentistas e muitas ajudas.

Escrevem-nos das Filipinas, Mian Wright Añover e Meldy Pelejo

Em Maio de 2002 fui ao funeral do marido Yaya Lita, num bairro pequeno, Sitio Rustan de São Pedro em Laguna. Tive ocasião de conhecer aí a extrema pobreza em que viviam Yaya Lita e os seus vizinhos, e comecei a pensar na forma de os ajudar. Muitos vivem daquilo que apanham no lixo, as famílias subsistem em más condições e muitos deles não praticam a religião pelas dificuldades que têm para ganhar o sustento.

Em Outubro do mesmo ano, Mons. Josemaria Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei, foi canonizado e pedi-lhe ajuda para poder fazer alguma coisa por aquela gente de Sitio Rustan. Quando voltei de Roma, depois da Canonização, soube que estava à venda uma casa no bairro. Comprei-a sem estar terminada, e transformei-a numa casa para as crianças brincarem. Algumas mães que levavam os filhos com certa regularidade à casa convenceram-me que poderia tornar-se num infantário. Com a ajuda de parentes e amigos, construiu-se o “Infantário de São Josemaria”. As atividades começaram no dia 3 de Julho de 2003, com 35 crianças.

Pouco a pouco cresceu a amizade com as pessoas do bairro e, com a ajuda do meu marido, organizei uma aula semanal sobre a Bíblia para homens, e aulas de catecismo para mulheres. Em breve espaço de tempo, alguns casais que não estavam casados pela Igreja decidiram receber o Sacramento. Em 2003 cerca de 20 crianças foram baptizadas, e, desde essa altura, um sacerdote vai celebrar a Santa Missa ao bairro.

Micro-créditos, cogumelos e voluntários internacionais

Com a ajuda da DAWV, organização não-governamental, conseguiu-se um sistema de micro-créditos para ajudar os moradores do bairro a montar um pequeno negócio. A esta iniciativa deu-se o nome de “Coração e Peso”, e consistia em poupar pequenas quantidades de dinheiro, até 29 pesos. Depois de determinado tempo, os aderentes podiam pedir um empréstimo no valor do dobro do dinheiro poupado, e assim começaram a procurar um modo de vida em que pudessem investir o capital.

Começamos a fazer carpetes, mas não pudemos continuar porque não tínhamos meios para adquirir máquinas de coser industriais. Agora estamos a montar um negócio de fabrico de detergente e esperamos que alguma pessoa nos ajude no marketing. Estamos também a ajudá-los na produção de cogumelos.

O êxito deste negócio reside na ajuda que se dão mutuamente. Não querem ficar pobres para sempre, e se lhes dá uma oportunidade põem todo o seu empenho para ir para a frente.

Conrado é um dos que experimentou o negócio dos cogumelos com Yara Lita, sua vizinha em Sitio Rustan. Pôs as sementes num pequeno anexo junto da casa, e conseguiu uma boa colheita.

Dolores, mãe de 10 filhos, vive em sitio Rustan desde 1994. O marido, Jimmy, é motorista. Ela tinha aberto um salão de cabeleireiro mas teve de o fechar por falta de clientela. Depois, teve oportunidade de fazer um pequeno curso de 3 meses de cosmética no instituto TESDA e atualmente tem uma boa base de clientela em Alang Hillsborough.

Logicamente o meu marido e eu víamos que sozinhos não podíamos melhorar o nível de vida dos residentes de Rustan. Graças a Deus o infantário revelou-se como um impulso para outros projetos – inimagináveis e inesperados – e atraiu voluntários da Austrália e da Nova Zelândia.

Durante uma visita a Sitio Rustan, a Ong DAWV deu-se conta que o lugar era ideal para um campo de trabalho internacional, mas que era necessário um espaço para várias atividades.

Em Janeiro de 2004, seis meses depois de começar o Infantário, veio um grupo de 24 voluntárias da Austrália e da Nova Zelândia para um campo de trabalho; algumas já eram jovens profissionais, outras alunas do ensino secundário e universitárias. Com o dinheiro que as voluntárias conseguiram juntar e algumas outras doações, construiu-se um espaço.

Durante três semanas, de manhã, as voluntárias trabalharam manualmente na construção da sala, e dedicaram as tardes a ensinar catecismo, a brincar com as crianças e a dar aulas de nutrição às mulheres do bairro.

Em Março de 2004, outro grupo de estudantes do clube Narra foram a Sitio Rustan para acabar de pintar a sala. No último dia do Campo de trabalho inaugurou-se o espaço e deu-se-lhe o nome de Sala de Amizade Filipino-Australiana-Neo-Zelandesa: PAN-Z. Desde então a Sala PAN-Z utiliza-se para aulas de catecismo, atendimento médico e para outras actividades sociais organizadas por amigos que se disponibilizam para ajudar as pessoas de Sitio Rustan.

Violino, flauta, dentistas e muitas outras ajudas

A minha filha mais velha Tipin com algumas amigas organizaram uma atividade de iniciação musical para as crianças daquele bairro. Mostrou-lhes o que era tocar violino, flauta e viola. Noutro dia foi com um grupo de universitários que visitaram algumas famílias e organizaram uma rifa com prêmios que tinham pedido a clientes dos pais. Com o dinheiro que conseguiram compraram um depósito de água e outros utensílios para o infantário.

O meu filho Paulo levou também às atividades um bom número de colegas de turma do Colégio de PAREF Southridge.

Quando as nossas amigas nos vêem levar a sério um projecto, também elas desejam prestar as ajudas que podem. O meu dentista junto com outros vieram oferecer os seus serviços grátis à comunidade.

Algumas minhas amigas souberam que era necessária mais ajuda; foi o caso de Vicky que organizou o primeiro programa de uma refeição completa para as crianças desnutridas do bairro, com a ajuda de patrocinadores.

O círculo de pessoas que deseja ajudar tornou-se cada vez maior. Por exemplo Lea, que é médica, através do clube Narra, obra corporativa do Opus Dei. Ela e as colegas levaram a cabo várias visitas médicas àquela comunidade. Outra médica, Mila, ao ter conhecimento do estado desolador decidiu que Sitio Rustan seria beneficiário das suas Fundações beneficiárias.

Muitas outras pessoas, individualmente ou em grupo, contribuem para a melhoria de Sitio Rustan, de diversas formas, mas ainda há muito a fazer, e o trabalho continua.

Neste momento Yara Lita já se reformou e tem uma pequena loja que abriu com o dinheiro da sua reforma. Mang Conrado continua com o seu carro a recolher sucata que vende para ajudar a família. Espera poder juntar dinheiro para comprar sementes de cogumelos e cultivá-los junto com Yara Lita. Apesar das dificuldades, não perde as esperanças. Esteve às portas da morte numa luta com o sindicato dos homens do lixo, e ele considera o facto como um favor de São Josemaria Escrivá. Isto confirma a sua fé em que Deus vela por ele e pela sua família. Sonha ver os filhos com os estudos terminados e com perspectivas melhores que a sua.

Por outro lado, Dolores quer casar-se com Jimmy e esperam ter em breve os papéis em ordem para a cerimônia. Têm confiança de que Jimmy poderá arranjar um trabalho permanente dentro em breve. Também sonha com os filhos e o colégio terminado.

Mian Wright Añover

Meldy Pelejo