São Josemaria defendia um romantismo cristão que ama a liberdade dos outros

​O Vigário Geral do Opus Dei, Mariano Fazio, apresentou em Madri o seu livro "O último romântico". A obra nasceu do desejo do autor de saldar uma dívida de gratidão para com São Josemaria, dando a chave interpretativa da mensagem da santidade na vida quotidiana à luz dos novos desafios de homem e mulher do século XXI.

Fazio recordou a Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, do Papa Francisco, em que o Pontífice descreve os diferentes modos de chegar à santidade na vida cotidiana. Fotografias: Álvaro García Fuentes

“Este livro surgiu de um peso na consciência. Já tinha escrito sobre muitas coisas e pessoas, mas nunca sobre São Josemaria. E devo-lhe a minha vocação para o Opus Dei e o sacerdócio. Tinha uma dívida de gratidão”, relatou Fazio durante o colóquio com a jornalista Isabel Ramis, no auditório da Fundação Mapfre de Madri.

O último românticoapareceu há uns meses editado pela Rialp, e já está na quarta edição. No livro, Fazio sustenta que a mensagem pregada por Escrivá é absolutamente atual, e o que muda com o passar do tempo são as circunstâncias em que encarna. Assim, o significado de questões como família, trabalho ou paternidade evoluíram muitíssimo desde que o Opus Dei nasceu em Madri, a 2 de outubro de 1928. “Uma coisa são as famílias de meados do século XX e outra, as famílias de 2018”, afirmou.

A mensagem de que todos os cristãos são chamados à santidade é hoje patrimônio de toda a Igreja. Neste sentido, Fazio recordou a Exortação Apostólica Gaudete et exsultatedo Papa Francisco, em que o Pontífice descreve os diferentes modos de chegar à santidade na vida cotidiana.

“Todos dizem que somos chamados a ser santos”, considerou Fazio, embora haja muitos que aconselhem a transpor para o mundo formas que mais pertencem à vida religiosa. “Revolucionário em São Josemaria é a santidade através das circunstâncias em que cada um se encontra”, enfatizou.

Conviver com a imperfeição

São essas circunstâncias que vão mudando com o passar do tempo, as que constituem um novo desafio. No caso da santificação através do trabalho, por exemplo, Fazio recordou que esse trabalho deve estar bem feito, de modo a poder oferecê-lo a Deus, mas que na sociedade atual “as pessoas são destruídas pelo perfeccionismo”, e “é preciso saber conviver com a imperfeição”, cultivando virtudes como a paciência e sabendo que o ótimo é inimigo do bom.

No contexto atual, há também espírito de rivalidade e de competição, e jornadas de trabalho prolongadas que dificultam a adequada atenção à família. “Se São Josemaria falasse hoje da santificação do trabalho, diria ‘trabalhem menos; cheguem mais cedo em casa”, afirmou.

Se São Josemaria falasse hoje da santificação do trabalho, diria "trabalhem menos; cheguem mais cedo em casa"

Esse excesso de dedicação ao trabalho faz ainda com que hoje a figura paterna seja para muitas pessoas uma figura ausente. Fazio recordou que São Josemaria descobriu em 1931 a profundidade da filiação divina. Contudo, “hoje a paternidade está em crise: há pais impositivos, abusadores ou ausentes”, e isso influencia a percepção que um cristão pode ter sobre a filiação divina. O mesmo sucede com a família. “A família perfeita não existe; todos temos famílias com dramas e tragédias”, assegurou Fazio, para quem o que pregava São Josemaria “tem que ser posto no contexto da família atual”.

Liberdade para amar

O título do livro foi tirado de umas palavras do Fundador do Opus Dei em que se define a si mesmo como ‘o último dos românticos’, disposto a dar a vida por defender a liberdade de todas as pessoas, como estavam os liberais do século XIX. “A liberdade não é para escolher entre o Barça e o Madri. Sem ela, não podemos amar. Deus criou-nos livres para amar, e o ato próprio do amor é a entrega. Quem o viveu em plenitude, foi Cristo na Cruz. Por isso, um cristão, para saber o que é a liberdade, tem que olhar-se a si mesmo aí”.

Fazio insistiu no compromisso do cristão do século XXI de levar avante a sociedade

A liberdade entende-se com frequência só como “fazer o que nos apetece”, e isto, paradoxalmente, leva a cair na escravidão do poder, do prazer ou das riquezas. “É preciso defender a liberdade em todos os campos afogando o mal em abundância de bem”, sublinhou.

Ao responder à jornalista Isabel Ramis, Fazio instou ao compromisso do cristão do século XXI de levar avante a sociedade, fazendo com que o amor e a liberdade de Cristo reinem em todos os âmbitos. “Como mudaria o mundo se os grandes políticos, os jornalistas, os atores de cinema, os empresários, fossem católicos coerentes!”, acrescentou.

Este compromisso com a melhoria da sociedade deve levar o cristão a envolver-se na ajuda aos pobres e necessitados. “Isto faz parte do espírito do Opus Dei porque faz parte do espírito evangélico”, sublinhou Fazio. O autor animou os assistentes a ver que podiam fazer pelos mais necessitados, ainda que recordando que “os primeiros pobres estão em nossa casa”, recordando a quantidade de pessoas sós, doentes ou necessitadas de calor e de companhia que se encontram perto de nós.

Nota: O livro foi publicado em português pela Editora Quadrante - ver aqui.