Atualmente se conservam no museu Copto do Cairo, e se designam com as siglas NHC (Nag Hammadi Codices). É comum atribuir à mesma coleção outros três códices, conhecidos desde o século XVIII, que estão em Londres (Codex Askewianus, normalmente conhecido como Pistis Sophia), em Oxford (Codex Brucianus) e em Berlim (Codex Berolinensis). Estes três códices, mesmo tendo sido encontrados mais tarde, procedem da mesma região.
Os NHC foram confeccionados por volta do ano de 330 e enterrados em fins do século IV ou princípios do V. Contêm umas cinquenta obras escritas em copta – língua egípcia falada pelos cristãos do Egito e escrita com caracteres gregos – que são traduções do grego, às vezes não muito confiáveis. Quase todas as obras são de caráter herético e refletem diversas tendências gnósticas, em geral já conhecidas por terem sido combatidas pelos Padres da Igreja, especialmente Santo Irineu, Santo Hipólito de Roma e Santo Epifânio. A principal contribuição desses códices é que agora temos acesso diretamente às obras dos próprios gnósticos e pode-se comprovar que, efetivamente, os Santo Padres conheciam bem aquilo que enfrentavam.
Do ponto de vista literário, no NHC estão representados os mais diferentes gêneros: tratados teológicos e filosóficos, apocalipses, evangelhos, orações, atos dos apóstolos, cartas, etc. Às vezes os títulos não constam do original: foram postos pelos editores, dependendo do conteúdo. Quanto às obras que têm o titulo de “Evangelhos”, devemos observar que pouco se parecem aos evangelhos canônicos: em vez de uma narração da vida do Senhor, apresentam apenas as revelações secretas que presumivelmente Jesus fez aos seus discípulos. O Evangelho de Tomé, por exemplo, contém cento e quatorze discursos de Jesus, um atrás do outro, sem outro contexto narrativo além das perguntas que às vezes Lhe fazem os discípulos. Já o “Evangelho de Maria Madalena” narra a revelação que Cristo glorioso faz a ela sobre a ascensão da alma.
Do ponto de vista das doutrinas contidas, os códices contêm em geral obras gnósticas cristãs, embora em algumas, como o “Apócrifo de João” (uma das mais importantes, pois encontra-se em quatro códices), os traços cristãos pareçam secundários diante do mito gnóstico que constitui o seu núcleo. Esse interpreta os primeiros capítulos do Gênesis de modo invertido, apresentando o Deus criador (ou Demiurgo) como sendo um deus inferior e perverso que criou a matéria.
Nos códices também existem obras gnósticas não-cristãs, que recolhem uma gnose greco-pagã, desenvolvida em torno da figura de Hermes Trismegisto, considerado o grande revelador do conhecimento (Discurso do oito e do nove). Esse tipo de gnose já era parcialmente conhecido antes dos descobrimentos. No NHC VI aparece inclusive um fragmento da “República” de Platão.
BIBLIOGRAFIA
Raymond KUNTZMANN e Jean-Daniel DUBOIS, Nag Hammadi. Evangelio de Tomás. Textos gnósticos de los orígenes del cristianismo. Verbo Divino, Estella, 1998 (2ª ed.)