Meditações: Solenidade de todos os santos

Reflexão para meditar no dia de Todos os Santos. Os temas propostos são: Viver as bem-aventuranças que Jesus pregou; Santidade é deixar Deus trabalhar; Apoiamo-nos uns nos outros através da comunhão dos santos.

- Viver as bem-aventuranças que Jesus pregou

- Santidade é deixar Deus trabalhar

- Apoiamo-nos uns nos outros através da comunhão dos santos


“É ASSIM A GERAÇÃO dos que o procuram, e do Deus de Israel buscam a face” (Sal 24,6). Assim reza toda a Igreja no Salmo da Missa desta Solenidade de Todos os Santos. E assim queremos passar esse dia de festa: buscando a face de Deus. “Os Santos e os Bem-aventurados são as testemunhas mais influentes da esperança cristã, porque a viveram plenamente na sua existência, entre alegrias e sofrimentos, praticando as bem-aventuranças que Jesus pregou e que hoje ressoam na Liturgia”. As bem-aventuranças evangélicas são, de fato, o caminho da santidade[1].

No entanto, à primeira vista, se nos lembramos das palavras de Jesus sobre os bem-aventurados, esse panorama pode não parecer muito encorajador. O que nos propõe é aquilo que rejeitamos instintivamente: sofrimentos, perseguições, lutas, lágrimas ... São Josemaria, porém, salientava que essas virtudes são as que Jesus abençoou “naquele Sermão da Montanha, que tornam os santos verdadeiramente felizes, santos, beati! ... Todas as virtudes que Jesus nos ensinou com a sua própria vida, desejo-as para todos os meus filhos e para mim”[2]. Desta forma, entende-se que “a santidade, a plenitude da vida cristã não consiste em realizar empreendimentos extraordinários, mas em unir-se a Cristo, em viver os seus mistérios, em fazer nossas as suas atitudes, pensamentos e comportamentos. A medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida a partir da Sua”[3]. Precisamos, portanto, recuperar a liberdade que procede de compreender que podemos fazer tudo a partir do amor de Jesus Cristo.

Hoje, todos os santos nos impulsionam a “que enveredemos pelo caminho das bem-aventuranças. Não se trata de fazer coisas extraordinárias, mas de seguir todos os dias este caminho que nos conduz ao céu, nos leva à nossa família, nos guia para casa. Por conseguinte, hoje divisamos o nosso futuro e festejamos aquilo para que nascemos: nascemos para nunca mais morrer, nascemos para gozar da felicidade de Deus! O Senhor encoraja-nos e diz a quem empreende o caminho das Bem-aventuranças: ‘Alegrai-vos e exultai, pois grande é a vossa recompensa no céu’ (Mt 5, 12)”[4].


“QUEM SUBIRÁ até o monte do Senhor, quem ficará em sua santa habitação? Quem tem mãos puras e inocente coração” (Sal 24,3-4). Sabemos que esta inocência não consiste em nunca cometer pecados ou faltas, nem em estar isento de erros. Esta pureza refere-se, sobretudo, ao coração de quem se deixa amar por Deus e não deposita sua esperança em outros ídolos: segurança, controle, independência, prazeres, posses ... “A santidade é o contato profundo com Deus: é fazer-se amigo de Deus, deixar que o Outro trabalhe, o Único que pode fazer realmente com que este mundo seja bom e feliz”[5].

Estamos convencidos de que, quando Deus nos pede algo, na verdade está nos oferecendo a sua vida, o seu amor. É assim que São Josemaria o entendia: “A minha felicidade terrena está unida à minha salvação, à minha felicidade eterna: feliz aqui e feliz lá”[6]. Compreender este modo de agir de Deus, que se esconde onde às vezes não pensamos encontrá-Lo, é compreender que Ele nunca quer a nossa infelicidade, nem mesmo aqui na terra. “Estou cada vez mais persuadido disto – dizia também o fundador do Opus Dei: a felicidade do Céu é para os que sabem ser felizes na terra”[7].

Que alegria pensar em todos os santos do céu! Eram como nós: com os mesmos problemas e dificuldades, com as mesmas esperanças e fraquezas semelhantes. Se, como eles, deixarmos Deus agir em nossas vidas, se formos fiéis, poderemos ouvir no final de nossas vidas, da boca do Senhor, estas consoladoras palavras: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo”(Mt 25,34). Às vezes, podemos imaginar que poucos fazem parte desse Reino. No entanto, uma das leituras de hoje nos lembra uma das visões que São João teve. Surgiu “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão” (Ap 7,9). Nesta multidão incontável a Igreja celebra os homens e mulheres, de todas as idades e condições, que gozam de uma felicidade indescritível no céu e que na terra souberam permanecer no amor de Deus.


ESTA FESTA é particularmente bela para nós que estamos em peregrinação na terra, porque naquela multidão que sempre louva ao Senhor estão presentes muitos dos nossos irmãos, muitos amigos e parentes, pessoas comuns, dispostos a interceder por nós. Até conhecemos vários deles pessoalmente. Não estamos sozinhos no nosso caminho de santidade: encontramo-nos unidos a todos os cristãos – aos que já triunfam no céu, aos que se purificam no purgatório e aos que peregrinam na terra – por uma corrente de caridade que nos dá vida: a comunhão dos santos.

Durante a guerra que abalou a Espanha nos anos 30, São Josemaria escrevia com frequência aos seus filhos. E, numa daquelas cartas, assegurava-lhes: “Só me faltam vocês, mas se soubessem quanta companhia faço para cada um durante o dia e à noite! É minha missão: que sejam felizes depois, com Ele, e agora, na terra, dando-lhe glória”[8]. A comunhão dos santos é oração de uns pelos outros, para que a graça venha para curar as feridas ou para fortalecer aqueles que dela mais precisam. Esta experiência se repetirá muitas vezes, conforme ele mesmo narrava: “Filho, que bem viveste a Comunhão dos Santos quando me escrevias: ‘Ontem senti que o senhor pedia por mim’!”[9].

“Pensa que Deus te quer contente e que, se fazes da tua parte o que podes, serás feliz, muito feliz, felicíssimo”[10]. A Virgem Santíssima nos dará a graça de refletir a beleza do rosto de Cristo e, assim, formar o grande mosaico de santidade que Deus deseja para o nosso mundo.


[1] Francisco, Ângelus, 01/11/2020.

[2] São Josemaria, Cartas 31, nº 52.

[3] Bento XVI, Audiência geral, 13/04/2011.

[4] Francisco, Ângelus, 01/11/2018.

[5] Cardeal Ratzinger, Deixar Deus trabalhar, in https://opusdei.org/pt-br/article/deixar-deus-trabalhar/

[6] Caminho, Edição Comentada. Comentário ao ponto 217.

[7] São Josemaria, Forja, n. 1005.

[8] São Josemaria, Carta para seus filhos de Burgos, 11/08/1938.

[9] São Josemaria, Caminho, n. 546.

[10] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 141.