Meditações: Solenidade de Cristo Rei, 34º Domingo do Tempo Comum

Reflexão para meditar no 34º domingo do tempo comum. Os temas propostos são: Jesus é o rei do Universo e de cada um de nós; A aparente fraqueza do reinado de Cristo; O serviço é o verdadeiro poder.

- Jesus é o rei do Universo e de cada um de nós.

- A aparente fraqueza do reinado de Cristo.

- O serviço é o verdadeiro poder.


CHEGA O FIM do ano litúrgico com a solenidade de Cristo Rei. Estas semanas em que a Igreja nos propôs considerar as verdades últimas conduzem-nos a uma certeza: Jesus Cristo é o Senhor da História universal e, ao mesmo tempo, de cada história pessoal. “Seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Dan 7,14). Nada do que acontece escapa ao seu conhecimento. Nenhuma de nossas preocupações ou desejos se perderão porque Ele governa tudo.

O bem-aventurado Álvaro del Portillo escolheu como lema episcopal: Regnare Christum volumus, queremos que Cristo reine. É uma das jaculatórias que São Josemaria repetia desde muito jovem. “Cristo deve reinar, acima de tudo, na nossa alma. Mas que resposta lhe daríamos se nos perguntasse: como me deixas reinar em ti? Eu lhe responderia que, para que Ele reine em mim, necessito da sua graça abundantemente: só assim é que o último latejo do coração, o último alento, o olhar menos intenso, a palavra mais intranscendente, a sensação mais elementar, se traduzirão num hosanna ao meu Cristo Rei”[1].

“Jesus hoje pede-nos para deixarmos que Ele se torne o nosso rei. Um rei que, com a sua palavra, o seu exemplo e a sua vida imolada na cruz, nos salvou da morte, e indica – este Rei – o caminho ao homem perdido, dá luz nova à nossa existência marcada pela dúvida, pelo medo e pelas provações de todos os dias. Mas não devemos esquecer que o reino de Jesus não é deste mundo. Ele só poderá dar um sentido novo à nossa vida, às vezes posta à dura prova inclusive pelos nossos erros e pecados, se não seguirmos as lógicas do mundo e dos seus ‘reis’”.[2]


DURANTE O PROCESSO anterior à crucificação, o Evangelho nos mostra como a surpresa de Pilatos aumenta durante sua conversa com Cristo. Não se trata apenas de um réu que demonstrou uma dignidade que nunca havia encontrado, mas Jesus, com as suas palavras amáveis, cheias de mansidão, penetrou nas profundezas da sua alma. O brilho da verdade deslumbra o procurador, que não consegue ver com clareza que posição tomar. O próprio Cristo é a verdade e diante do seu olhar nenhum coração fica como antes.

O contraste na cena é eloquente: de um lado, o poder do Império Romano que dominará praticamente todo o mundo até então conhecido. Por outro lado, o verdadeiro Senhor do universo com a aparente impossibilidade de se defender. As mãos que fizeram milagres, como dar vista aos cegos ou ressuscitar os mortos, que acariciaram os enfermos e consolaram as lágrimas dos aflitos, agora estão acorrentadas. Elas podiam governar sobre legiões de anjos, transformaram o pão e o vinho em seu próprio corpo e sangue, mas agora permanecem atadas.

É um mistério que nos deslumbra: Cristo não se defende. Seu reinado é o daquele que se entrega e só assim começa a salvação. Jesus “deseja cumprir a vontade do Pai até ao fim e estabelecer o seu reino, não com as armas e a violência, mas com a aparente fragilidade do amor que dá a vida. O reino de Deus é um reino completamente diferente dos reinos terrenos”.[3] Essa “aparente fraqueza” é a que conquista a liberdade das almas. É a fragilidade do Senhor que infunde vida no mundo e nas pessoas, que sabe tirar o bem do mal, que infunde graça sem se impor.


CADA CRISTÃO é chamado a ser Cristo que passa entre os homens. Olhar para as mãos amarradas de Jesus nos impulsiona a dar-nos como Ele. Seu exemplo nos leva a amar sem condições. Quem se entrega, baixa as armas, renuncia a se defender. Assim, aprendemos a escutar sem nos impor, a valorizar o que há de bom em cada pessoa, a oferecer nosso próprio tempo e a alegria que temos dentro de nós sem esperar nada em troca.

Nesse reinado de Cristo diante de Pilatos, descobrimos que não adianta nada pretender ter razão ou que as coisas saiam do nosso jeito. Até o bem que fazemos perde peso se não somos movidos por um desejo sincero de servir, como Cristo na sua Paixão. “Serviço. Como gosto dessa palavra! Servir ao meu Rei e, por Ele, a todos os que foram redimidos pelo seu sangue. Se nós, cristãos, soubéssemos servir! Confiemos ao Senhor a nossa decisão de aprender a realizar essa tarefa de serviço, porque só servindo poderemos conhecer e amar Cristo, dá-lo a conhecer e conseguir que outros mais o amem”[4].

O arcanjo São Gabriel predisse a Maria que seu Filho reinaria para sempre. Ela acreditou antes de dá-Lo ao mundo. Mais tarde, não sem perplexidades, entenderia que tipo de realeza era a de Jesus. Pedimos à nossa Mãe que compreendamos e vivamos, sempre com maior profundidade, esse modo suave com que seu Filho reina.


[1] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 181.

[2] Francisco, Ângelus, 25/11/2018.

[3] Bento XVI, Homilia, 25/11/2012

[4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 182.