Meditações: sábado da 24ª semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar no sábado da 24ª semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: Jesus ensina com parábolas; acolher a palavra de Deus; o papel das circunstâncias externas.


O SENHOR percorre o território da Galileia com os discípulos e anuncia o Reino de Deus aos que se aproximam para ouvi-lo. Jesus usa parábolas na sua pregação: breves narrações que revelam de forma simples uma verdade profunda da vida espiritual. Usa exemplos cotidianos do mundo do trabalho, como a sementeira, a pesca ou o trabalho da casa. Em outras ocasiões, também usa comparações da vida social e familiar, como uma festa de casamento, a relação de um pai com os filhos ou o empreiteiro que procura trabalhadores. Inclusive narra fatos que podem parecer insólitos para muitos dos ouvintes, como alguém que encontra um tesouro ou um assalto no caminho. Todas aquelas imagens são fáceis de compreender, são muito mais do que um ensinamento teórico. “Uma imagem fascinante faz com que se sinta a mensagem como algo familiar, próximo, possível, relacionado com a própria vida. Uma imagem apropriada pode levar a saborear a mensagem que se quer transmitir, desperta um desejo e motiva à vontade na direção do Evangelho”[1].

Jesus gosta de empregar estas parábolas porque conhece bem o modo humano de ser. Conhece a força que tem um exemplo tomado do dia a dia das pessoas. Esta atitude reflete simplicidade, proximidade, desejo de se colocar no lugar do outro. O que Cristo transmite não são ideias alheias ao mundo em que vivemos, estão intimamente unidas às realidades cotidianas. Por isso, São Josemaria escrevia: “suplica ao Senhor que conceda aos seus filhos o "dom de línguas", o dom de se fazerem entender por todos. A razão pela qual desejo este "dom de línguas", podes deduzi-la das páginas do Evangelho, repletas de parábolas, de exemplos que materializam a doutrina e ilustram as coisas espirituais, sem envilecer nem degradar a palavra de Deus. Para todos - doutos e menos doutos -, é mais fácil considerar e entender a mensagem divina através dessas imagens humanas”[2]. Tudo isto, não é só procurar encontrar uma boa apresentação para o que queremos dizer, mas amar às pessoas como Cristo as amou.


NA PARÁBOLA do semeador, Jesus conta que as sementes que não caíram em terreno favorável foram comidas pelos pássaros; ou que, depois de brotar, secaram rapidamente por falta de umidade ou foram sufocadas pelos espinhos. Pelo contrário, as que caíram em terra boa deram fruto, e deram-no cem por um (cf. Lc 8, 5-8). O Senhor afirma que o semeador semeia por todo o campo, sem reparar muito na forma como a semente será acolhida: lança aos punhados, com a esperança de que chegue a germinar. A semente, em seu sentido mais profundo, é o próprio Cristo, que Deus nos entregou: “Os que ouvem com fé e se unem ao pequeno rebanho de Cristo acolheram o Reino: depois a semente, por si própria, germina e cresce até o tempo da ceifa”[3].

“A parábola do semeador é como a "mãe" de todas as parábolas, porque fala da escuta da palavra. Recorda-nos que a palavra de Deus é uma semente fecunda e eficaz em si mesma; e Deus espalha-a por todos os lados com generosidade, sem se importar com o desperdício. O coração de Deus é assim! Cada um de nós é um terreno em que cai a semente da palavra, sem excluir ninguém”[4]. Recebemos o próprio Deus. Por isso, a forma de se deixar atingir por essa semente não é, em primeiro lugar, a adequação moral a uma forma de viver, ou a aceitação intelectual de uma doutrina, mas uma resposta de amor a Deus que veio ao nosso encontro.

Em parte depende de nós que essa semente brote e dê fruto de cem por um. O Senhor oferece a felicidade a todos, mas não a exige; cada um decide acolhê-la livremente. Deus fez-nos livres e esta parábola é uma manifestação desta realidade. “A paixão pela liberdade, a sua exigência por parte de pessoas e povos, é um sinal positivo do nosso tempo. Reconhecer a liberdade de cada mulher e de cada homem significa reconhecer que são pessoas: donos e responsáveis por seus próprios atos, com a possibilidade de orientar a sua própria existência. Embora a liberdade nem sempre leve a desenvolver o melhor de cada um, nunca poderemos exagerar a sua importância, porque se não fossemos livres, não poderíamos amar”[5].


APESAR DA simplicidade da linguagem, os discípulos pedem a Jesus que explique a parábola. Então, o Mestre relata os motivos pelos quais a semente não brota no terreno, as razões pelas quais a palavra de Deus pode não criar raízes na vida dos homens: a ação do diabo, a falta de raiz no momento da provação, as riquezas e os interesses mundanos... E indica, ao mesmo tempo, que a terra boa “são aqueles que, ouvindo com um coração bom e generoso, conservam a Palavra, e dão fruto na perseverança” (Lc 8, 15).

Às vezes tendemos a culpar as circunstâncias externas, quando uma coisa não acontece como tínhamos planejado: um imprevisto complicou um plano de trabalho, uma atividade familiar ou um encontro com amigos. No entanto, São Josemaria convida-nos a viver de modo santo também essas particularidades, as dificuldades que a semente pode ter: anima-nos a não cair naquilo a que chamava a mística do oxalá: “Oxalá não me tivesse casado, oxalá não tivesse esta profissão, oxalá tivesse mais saúde, oxalá fosse jovem, oxalá fosse velho...”[6]. Deus vem ao nosso encontro no presente, aqui e agora, também onde não O esperávamos.

A parábola faz notar que as circunstâncias não têm a última palavra: as decisões livres dos homens é que são definitivas para acolher o dom divino. Com a ação da graça e o nosso esforço pessoal, somos capazes de podar pouco a pouco tudo o que sufoca a semente. Nossa Senhora, campo fecundo em que o próprio Deus encarnou, pode nos ajudar a preparar o terreno para que Jesus também brote em nosso coração.


[1] Francisco, Evangelii Gaudium, n. 157.

[2] São Josemaria, Forja, n. 895.

[3] Concílio Vaticano II, Lumen Gentium, n. 5.

[4] Francisco, Ângelus, 12/07/2020.

[5] Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 9/01/2018, n. 1.

[6] São Josemaria, Entrevistas com Mons. Escrivá, n. 116.