Meditações: quinta-feira da 13ª semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na quinta-feira da 13ª semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: os amigos do paralítico; a verdadeira amizade é um bem em si mesmo; preparar o terreno da amizade.


“AS CIRCUNSTÂNCIAS atuais da evangelização tornam ainda mais necessário, se é possível, dar prioridade ao relacionamento pessoal, este aspecto que está no centro do modo de fazer apostolado que São Josemaria encontrou nos relatos evangélicos”[1], observa o prelado do Opus Dei. São Mateus oferece-nos justamente um relato de autêntica amizade. Um grupo de amigos de um paralítico, movidos pelo amor que lhe têm e pela sua grande fé, empenham-se em levá-lo a Jesus, para que o cure. O Mestre comove-se com esse gesto, E não vai curar só o seu corpo: “Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados!” (Mt 9, 2).

São Marcos, no seu Evangelho, conta-nos também que havia tanta gente no lugar onde Jesus se encontrava, que não conseguiam aproximar-se d’Ele. Mas esta circunstância não os deteve. Com determinação e audácia, decidiram subir até ao telhado da casa e desceram a cama com o paralítico, fazendo uma abertura no teto, em frente do lugar onde Jesus estava. Podemos imaginar a surpresa da multidão. Assistiram estupefatos à queda de materiais do telhado e à descida da cama. Nem todos terão olhado com bons olhos esta manobra, especialmente os donos da casa ou as pessoas que tinham conseguido entrar graças a uma longa espera. Mas a amizade era mais forte. Atuam com a segurança e com a liberdade de um amor que os leva a agir pensando no bem desse amigo, embora não do modo que todos esperavam.

O paralítico também demonstra uma grande capacidade de amizade, ao deixar-se ajudar e ao colocar-se nas mãos dos seus amigos. Tinha de confiar muito neles para se prestar a semelhante manobra. Jesus fica impressionado com a força dessa amizade e a audácia da sua fé. Por isso, ao contrário de outras vezes em que Jesus pede a fé daquele que vai ser curado, aqui põe acento na dos amigos. Esta cura revela até que ponto a verdadeira amizade é fonte de bênçãos divinas: “A amizade é um dos sentimentos humanos mais nobres e elevados que a Graça divina purifica e transfigura”[2].


A GRAÇA pode potenciar muito a amizade abrindo a relação entre amigos ao âmbito da fé, da esperança e da caridade. Estas três virtudes manifestam-se na cena que estamos considerando. “A ação de Cristo é uma resposta direta à fé daquelas pessoas, à esperança que n’Ele depositam, ao amor que manifestam uns aos outros”[3]. Jesus curou ontem e continua a curar hoje. Mas a graça de Cristo “não cura simplesmente a paralisia, cura tudo, perdoa os pecados, renova a vida do paralítico e dos seus amigos. Faz nascer de novo (…) Imaginemos como esta amizade e a fé de todos os presentes naquela casa, cresceram graças ao gesto de Jesus”[4].

“Para que este nosso mundo caminhe por um trilho cristão – o único que vale a pena –, temos de viver uma leal amizade com os homens, baseada numa prévia leal amizade com Deus”[5], diz São Josemaria. A amizade profunda com Cristo habitualmente manifesta-se com naturalidade, sem nos darmos conta, mediante a alegria e um desejo de servir que se exprime em mil pequenos gestos. “Este modo de transmitir o Evangelho tem uma particular eficácia, também por responder a uma realidade antropológica importante: o diálogo interpessoal no qual se procura transmitir ao outro o dom recebido. Este diálogo apostólico surge com naturalidade quando existe amizade sincera. Não se trata de uma instrumentalização da amizade, mas de tornar os amigos participantes do grande dom da fé e da amizade com Cristo”[6].

Porque pode suceder o contrário, e quando algo tão valioso como a amizade com um filho ou uma filha de Deus é rebaixado a meio para conseguir uma meta pessoal, por mais elevada que seja, deixa sempre um sabor amargo. Jesus admirava a verdadeira amizade porque Ele próprio a experimentou e continua a experimentá-la. Por isso, uma característica da amizade é a gratuidade: somos amigos, não para conseguir alguma coisa, mas simplesmente por estimar a esta pessoa; cada um é feliz com a existência do outro e não quer nada mais que o seu bem.


A AMIZADE é sempre um presente. Não é algo que se possa programar ou calcular, mas pode ser fomentada. “Se uma pessoa manifesta nobremente os seus sentimentos e é leal, se sabe sacrificar-se pelos outros, no final sucede aquilo que escrevia São João da Cruz: onde não há amor, põe amor e colherás amor. Também poderíamos dizer: onde não há amizade, põe os sentimentos nobres da amizade e colherás amizade”[7]. Também podemos crescer em disposições que nos tornam pessoas amáveis e fiáveis; com a nossa atitude podemos preparar o terreno para criar uma relação autêntica com os nossos amigos. “Ganhar mais afabilidade, alegria, paciência, otimismo, delicadeza e todas as virtudes que tornam a convivência amável é importante para que as pessoas possam se sentir acolhidas e felizes: uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos, uma língua afável profere saudações (Eclo 6,5). A luta para melhorar o próprio caráter é condição necessária para que surjam mais facilmente relações de amizade”[8].

A filosofia clássica considera que não é possível ser feliz sem amigos e São Tomás comenta também que sem amigos não se pode alcançar a plenitude da felicidade. Um amigo é um dos maiores tesouros que podemos ter, mas é um tesouro que exige cuidado. Podemos pensar como teriam sido bons amigos os que acompanhavam o paralítico do relato evangélico. Com certeza não terá sido sempre fácil e confortável, mas afinal valeu a pena porque os aproximou de Cristo. Não basta simplesmente compartilhar momentos em comum, mas é preciso unir-se ao outro: o que preocupa ou alegra um amigo é importante, porque também é meu. Podemos recorrer a Santa Maria para que nos ajude a ter um coração que, como o Seu, se torne um só com o dos nossos amigos.


[1] Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 14/02/2017, n. 9.

[2] Bento XVI, Audiência, 15/09/2010.

[3] Francisco, Audiência, 5/08/2020.

[4] Ibid.

[5] São Josemaria, Forja, n. 943.

[6] Fernando Ocáriz, Amar con obras: a Dios y a los demás, “Amor a los demás y apostolado”.

[7] B. Álvaro del Portillo, Tertúlia, 11/09/1979.

[8] Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 1/09/2019, n. 9.