Meditações: 8 de setembro, Natividade de Nossa Senhora

Reflexão para meditar no dia 8 de setembro, Festa da Natividade de Nossa Senhora. Os temas propostos são: alegria pelo nascimento de Maria; a obra-prima da criação; Deus é fiel e não falta às suas promessas.


“CELEBREMOS com alegria o nascimento da Virgem Maria, por ela nos veio o Sol da Justiça, Cristo nosso Deus”[1]. Com estas palavras começa a celebração eucarística desta festa. Assim como a aurora anuncia, a cada amanhecer, a chegada de um novo dia, também o nascimento da Mãe de Deus é “a aurora da salvação”[2]. Com o nascimento de Maria, a redenção é já iminente. Geração após geração, os piedosos israelitas esperaram a chegada da Mãe do Messias; eles esperaram, como Miqueias profetizou, “o tempo em que uma mãe der à luz” (Mq 5, 2).

“Talvez seja possível entender melhor o que o nascimento da Virgem representa para a humanidade se considerarmos a condição de um prisioneiro. Os dias do prisioneiro são longos, intermináveis.... Conta os minutos da última noite que transcorre na cadeia. Então, finalmente, as portas abrem-se: a tão esperada hora da liberdade chegou! Esses intermináveis ​​minutos, contados um a um, lembram-nos as páginas do Evangelho da genealogia de Jesus. Uns nomes sucedem-se a outros com monotonia (...). Até que soa, finalmente, a hora desejada por Deus: é a plenitude dos tempos, o início da luz, a aurora da salvação: "Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo" (Mt 1, 16)”[3].

Esta festa mariana é um convite à alegria. Como diz o salmista: “Exulto de alegria no Senhor” (Sl 12, 6). Ao comemorar o aniversário de Maria, um Padre da Igreja exclama: “Portanto cante e exulte toda a criação (...); juntos festejem tudo quanto está unido no mundo e acima do mundo. Pois hoje se construiu o templo criado do Criador de tudo, e pela criatura, de forma nova e bela, preparou-se nova morada para o seu Autor”[4].


MARIA NASCE para se tornar, por meio de seu fiat generoso, a Mãe do Redentor. Ela foi a peça-chave no plano que Deus traçou para resgatar a humanidade. O Senhor preparou delicadamente, século após século, os homens e mulheres da sua linhagem. Desde o primeiro momento da sua concepção, Ele a santificou admiravelmente, tornando-a “cheia de graça” (Lc 1, 28); nasce imaculada pelo privilégio divino de ser a mãe do Filho de Deus. Embora nenhum dos seus concidadãos o tenha percebido, “esta menina, ainda pequena e frágil, é a "mulher" do primeiro anúncio da futura redenção, oposta por Deus à serpente tentadora (cf. Gn 3, 15)”[5].

Por isso, como os santos repetiram através dos tempos, podemos dizer, sem medo de exageros, que esta "menina" é a obra-prima da criação, a mais bela de todas as criaturas. São João Damasceno, por exemplo, afirma que “hoje, sobre a terra, da natureza terrestre, Aquele — que em tempos separou o firmamento e as águas e o elevou ao alto — criou um céu, e este céu é divinamente muito mais esplêndido que o primeiro”[6].

A Virgem é a criatura mais amada por Deus, a porta pela qual ele entra nesta terra. No entanto, embora predestinada pela Trindade para uma missão elevada, Deus quis esperar a resposta livre de Maria. “Consideremos agora o momento sublime em que o Arcanjo São Gabriel anuncia a Santa Maria o desígnio do Altíssimo. A nossa Mãe escuta, e a seguir pergunta, para compreender melhor o que o Senhor lhe pede; depois vem a resposta firme: Fiat! – faça-se em mim segundo a tua palavra! O fruto da melhor liberdade: a de decidir-se por Deus”[7].


AO LADO DA ALEGRIA pela notícia do seu nascimento, a liturgia sublinha a providência do Senhor conosco. Ele oferece-nos o Seu cuidado ao longo da nossa história pessoal e como povo de Deus. Não nos abandona à nossa sorte. “Esta festa recorda-nos que Deus é fiel às suas promessas e que, através de Maria Santíssima, quis habitar entre nós”[8]. A genealogia de Jesus Cristo que se lê no Evangelho não é uma simples lista de nomes que, partindo de Abraão, chega até Jesus, mas tem um significado mais profundo. Nessa lista, destacam-se figuras luminosas, como os patriarcas, fiéis à voz de Deus; mas também encontramos, entre esses nomes, histórias sombrias, pessoas que se comportaram de modo mesquinho.

Deste trecho emerge mais uma vez a evidência de que, com palavras de São Josemaria, “assim como nós, os homens, escrevemos com a caneta, o Senhor escreve com a perna da mesa, para que se veja que é Ele quem escreve: isso é o incrível, isso é o maravilhoso”[9]. Para Deus não há becos sem saída. Embora sempre respeite a nossa liberdade, o Senhor “sabe encontrar, no nosso fracasso, novos caminhos para o seu amor. Deus não fracassa. Assim, esta genealogia é uma garantia da fidelidade de Deus, uma garantia de que Deus não nos deixa cair e um convite a voltar sempre a nossa vida para Ele, a caminhar sempre de novo para Cristo”[10].

Contemplar Maria é vermo-nos no modelo que o próprio Deus nos deu. Na ladainha nós a invocamos com o título de “Virgem fiel” e “Causa da nossa alegria”: podemos pedir-lhe no dia do seu aniversário que nos ajude a ser felizes sendo fiéis todos os dias aos planos de Deus, sempre novos.


[1] Antífona de entrada.

[2] Oração depois da comunhão.

[3] Joseph Ratzinger, El Rostro de Dios, Ed. Sígueme, Salamanca, 1983.

[4] Santo André de Creta, Sermão 1, p. 97, n. 806-810.

[5] São João Paulo II, Homilia, 8/09/1980.

[6] São João Damasceno, Homilia sobre a Natividade de Maria, p. 96, 661 s.

[7] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 25.

[8] Francisco, Audiência geral, 8/09/2021.

[9] São Josemaria, Meditação, 2/10/1962.

[10] Bento XVI, Homilia, 8/09/2007.