Meditações: 4º Domingo do Advento (Ano C)

Reflexão para meditar no quarto domingo do Advento (Ano C). Os temas propostos são: Maria soube abrir-se à ação de Deus; Deus aproxima-se do homem de um modo surpreendente; Uma resposta a nosso desejo de salvação.

- Maria soube abrir-se à ação de Deus

- Deus aproxima-se do homem de um modo surpreendente

- Uma resposta a nosso desejo de salvação


“BEM-AVENTURADA aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1, 45). Com estas palavras de Santa Isabel, dirigidas à nossa Mãe como um reconhecimento agradecido da sua fé, a Igreja nos prepara para um dos momentos mais importantes do ano: o Natal. A Virgem Maria tinha ouvido cheia de surpresa as palavras do anjo: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus” (Lc 1, 31). Mas, em vez de ficar paralisada diante do plano divino que vinha mudar o seu presente e o seu futuro, exclamou com serena convicção: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Enche-nos de admiração que palavras tão simples tenham sido a porta pela qual Deus quis entrar em nosso mundo.

“Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel” (Mq 5, 1), tinha dito o profeta Miqueias. Uma humilde mulher transforma-se em mãe de Deus; um povoado quase desconhecido passa a ser o berço do Messias. Assim atua Deus. A mesma coisa acontece conosco: uma resposta aparentemente pequena, cheia de fé, pode converter a nossa vida cotidiana em uma grande obra divina. Nos momentos mais simples do nosso dia a dia podemos dizer sim a Deus que vem: no encontro fortuito com um amigo, no, às vezes, monótono avanço do trabalho ou em um agradável serão familiar.

Talvez nestes últimos dias de Advento tenhamos dedicado uns momentos a fazer alguns retoques em nossos presépios. Trocamos de lugar uma ovelha que se tinha desgarrado e que olhava na direção oposta ao Menino ou procuramos que o musgo ressecado do campo junto do estábulo adquirisse um tom de verde mais acolhedor. São pequenos gestos e queremos que seja uma imagem da fé com a qual desejamos responder às chamadas constantes e sutis de Deus. Vem, Senhor, não demores! Necessitamos de ti e queremos preparar-nos com carinho para a tua vinda.


“Ó DEUS, Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos!” (Sl 79, 4). Estas palavras cheias de expectativa expressam um dos anseios mais profundos do salmista: contemplar o rosto de Deus. O povo de Israel sabia, no entanto, que se tratava de um desejo impossível de alcançar. De fato, acreditavam que quem visse a Deus morreria imediatamente, já que o ser humano não seria capaz de resistir à contemplação de tanta grandeza. Por isso surpreende-nos tanto – e não queremos nos acostumar – que Deus todo poderoso tenha querido mostrar o seu rosto na figura terna de uma criança. Desejaríamos nestes dias aproximar-nos de Belém com dois sentimentos que se complementam: a reverência diante do mistério e o carinho que o acolhe no calor de um lar.

“Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a” (Sl 79, 15), continua cantando o salmista. Deus foi muito mais generoso do que o coração humano poderia imaginar. Não apenas quis olhar-nos do céu com carinho e visitar-nos durante um tempo: Deus se fez um de nós e se envolveu tanto em sua vinha que chegou a dizer-nos: “Eu sou a videira; vós os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto” (Jo, 15, 5). Tudo pode ser nutrido pela seiva que Cristo nos dá em seus sacramentos, na oração, na sua companhia permanente. Ele quis viver uma vida humana, para que a nossa vida humana adquirisse uma dimensão divina.

“Jesus nasceu numa gruta em Belém, diz a Escritura, porque não havia lugar para eles na estalagem. Não me afasto da verdade teológica, se te disser que Jesus continua ainda procurando pousada em teu coração”[1]. Todos os dias temos a oportunidade de seguir esta sugestão de São Josemaria e de abrir o nosso coração a Jesus. A fé não se reduz a um conjunto de verdades, nem de normas que devemos seguir. Crer em Deus é, primeiro, acolher o seu Filho em nosso interior e compartilhar toda a nossa vida com ele. Em resumo, converter a nossa alma em Belém. Se, graças ao carinho de Maria e José e ao calor de algumas ovelhas, ele pôde se sentir à vontade na pobreza daquele estábulo... Por que não se sentiria também feliz em nossos corações, se tentarmos oferecer-lhe as nossas alegrias e as contrariedades de cada um dos nossos dias?


“CÉUS, DEIXAI cair o orvalho, nuvens, chovei o justo; abra-se a terra e brote o Salvador” (Is 45, 8). A antífona de entrada deste quarto domingo do Advento expressa com força inusitada a necessidade que sentimos de um Deus que nos salve. Muitas vezes, a nossa oração consistirá em manifestar do mais profundo do nosso coração esses anseios por Deus. Quando tocamos as nossas limitações e sentimos dor pelas nossas feridas, e também quando experimentamos alegrias em pequenos detalhes da nossa vida, queremos que tudo esteja impregnado pelo amor de Deus. Percebemos que uma vida com Ele é radicalmente diferente de uma existência encerrada em nós mesmos.

A segunda leitura da Missa de hoje explicita a causa da encarnação de Cristo: “Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10, 7). O Filho quis fazer-se homem para salvar-nos. E essa salvação só se entende pelo grande amor do Pai por nós. “De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Ao contemplar o Menino de Belém, como não ter certeza do amor que Deus sente por nós, e do seu cuidado amoroso? Em todos os acontecimentos que fazem parte da nossa existência podemos estar certos de que Deus nos fala e nos salva.

Podemos imaginar como deve ter sido difícil para a nossa Mãe ver o seu querido filho nascer na pobreza de um presépio. Mas mesmo nesse caso, tão escuro aos olhos dos homens, ela deve ter visto brilhar a luz de Deus.

“O que é verdadeiramente grande passa muitas vezes inobservado, e o silêncio calmo revela-se mais fecundo do que o agitar-se frenético que caracteriza as nossas cidades”[2]. Podemos pedir a ela que nos dê a sua sensibilidade e o seu coração cheio de fé para que também possamos descobrir a Deus em todos os detalhes da nossa vida. Deste modo, assim como São João Batista pulou de alegria no ventre de sua mãe pela presença da Virgem grávida, assim nós nos encheremos de alegria ao recordar o nascimento de Jesus.


[1] São Josemaria, Forja, n. 274.

[2] Bento XVI, Discurso, 8/12/2012.