Creio em Deus Pai, Todo-poderoso?

A nossa profissão de fé começa por Deus Pai, mas quem nos disse que Deus é Pai? De que modo revela Deus que Ele é amor? Que significa que Deus é Todo-poderoso? Por que é que Deus é Pai e Todo-poderoso? Por que existe o mal? Por que o permite Deus? Se Deus é Pai, é também "meu" Pai?

Quem nos disse que Deus é Pai? De que modo revela Deus que Ele é amor? Que significa que Deus é Todo-Poderoso? Por que é que Deus é Pai e Todo-Poderoso? Por que existe o mal? Por que o permite Deus? Se Deus é Pai, é também "meu" Pai? Se sou filho de Deus como posso relacionar-me com Ele? Esta relação não tira ao homem a sua liberdade? Podemos confiar em Deus?

1. Quem nos disse que Deus é Pai?

Jesus revelou que Deus é "Pai" num sentido inaudito: não o é somente enquanto Criador, mas é eternamente Pai em relação a seu Filho único, que só é eternamente Filho em relação a seu Pai: "Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece O Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11,27). (Catecismo da Igreja Católica, cc. 240)

Podemos invocar a Deus como "Pai", porque Ele nos foi revelado por seu Filho feito homem e porque seu Espírito no-lo faz conhecer. Aquilo que o homem não pode conceber nem as potências angélicas podem entrever, isto é, a relação pessoal do Filho com o Pai, eis que o Espírito do Filho nos faz participar nela (nessa relação pessoal), nós, que cremos que Jesus é o Cristo e (cremos) que somos nascidos de Deus. (Catecismo da Igreja Católica, cc. 2780)

Contemplar o mistério:

Quando recitamos o Credo, professamos crer em Deus Pai, Todo-Poderoso; em seu Filho Jesus Cristo, que morreu e foi ressuscitado; no Espírito Santo, Senhor e fonte da vida. Confessamos que a Igreja, una, santa, católica e apostólica, é o Corpo de Cristo, animado pelo Espírito Santo. Alegramo-nos ante a remissão dos pecados e a esperança da ressurreição futura. Mas essas verdades penetram até o fundo do coração, ou ficam talvez nos lábios? (É Cristo que passa, 129)

Foi-se e envia-nos o Espírito Santo, que governa e santifica a nossa alma. Ao atuar em nós, o Paráclito confirma o que Cristo nos anunciava: que somos filhos de Deus e que não recebemos o espírito de escravidão, para continuarmos agindo por temor, mas o espírito de adoção de filhos, em virtude do qual clamamos: “Abba”, Pai! (É Cristo que passa, 118)

2. De que modo revela Deus que Ele é amor?

O amor de Deus por Israel é comparado ao amor de um pai por seu filho. Este amor é mais forte que o amor de uma mãe por seus filhos. Deus ama seu Povo mais do que um esposo ama sua bem-amada. «Deus é Amor» (1 Jo 4, 8, 16), que se dá completa e gratuitamente; que "amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único" (Jo 3, 16). Ao enviar, na plenitude dos tempos, seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela seu segredo mais íntimo: Ele mesmo é eternamente intercâmbio de amor. (Catecismo da Igreja Católica, cc. 218-221)

“Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. ” (1 Jo 4, 7-10)

Contemplar o mistério:

Como é possível perceber tudo isso, reparar que Deus nos ama, e não enlouquecer também de amor? É necessário deixar que essas verdades da nossa fé calem na alma, até mudarem toda a nossa vida. Deus nos ama: o Onipotente, o Todo-Poderoso, o que fez os céus e a terra! (É Cristo que passa, 144)

3. Que significa que Deus é Todopoderoso?

Deus revelou-se como «o Forte, o Valente» (Sl 24, 8), Aquele para quem «nada é impossível» (Lc 1, 37). A Sua onipotência é universal, misteriosa e manifesta-se na criação do mundo do nada e do homem por amor, mas sobre tudo na Encarnação e na Ressurreição do Seu Filho, no dom da adoção filial e no perdão dos pecados. Por isso a Igreja, na sua oração se dirige a «Deus Todo-Poderoso e eterno» («Omnipotens sempiterne Deus...»). (Catecismo da Igreja Católica, cc. 268-278)

Contemplar o mistério:

Parece que o mundo desaba sobre a tua cabeça. É tua volta, não se vislumbra uma saída. Impossível, desta vez, superar as dificuldades.

Mas tornaste a esquecer que Deus é teu Pai? Onipotente, infinitamente sábio, misericordioso. Ele não te pode enviar nada de mau. Isso que te preocupa, é bom para ti, ainda que agora teus olhos de carne estejam cegos.(Via Sacra, IX estação, 4)

4. Por que é que Deus é Pai e Todo-Poderoso?

Deus é o Pai Todo-Poderoso. Sua paternidade e seu poder iluminam-se mutuamente. Com efeito, ele mostra sua onipotência paternal pela maneira como cuida de nossas necessidades, pela adoção filial que nos outorga ("Serei para vós um pai, e sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso": 2Cor 6,18), e finalmente por sua misericórdia infinita, pois mostra seu poder no mais alto grau, perdoando livremente os pecados

(Catecismo da Igreja Católica, cc. 270)

Pai "Nosso" refere-se a Deus. De nossa parte, este adje­tivo não exprime uma posse, mas uma relação inteiramente nova com Deus.

(Catecismo da Igreja Católica, cc. 2786)

Contemplar o mistério:

Nosso Pai-Deus, quando acudimos a Ele com arrependimento, da nossa miséria tira riqueza; da nossa debilidade, fortaleza. O que não nos há de preparar então, se não o abandonamos, se frequentamos a sua companhia todos os dias, se lhe dirigimos palavras de carinho confirmadas com as nossas ações, se lhe pedimos tudo, confiados na sua onipotência e na sua misericórdia? Se prepara uma festa para o filho que o traiu, só por tê-lo recuperado, o que não nos outorgará a nós, se sempre procuramos ficar a seu lado?

(Amigos de Deus, 309)

5. Se Deus é Todo-Poderoso e providente por que é que então existe o mal? Por que o permite Deus?

Assim, com o passar do tempo, pode-se descobrir que Deus, em sua providência todo-poderosa, pode extrair um bem das consequências de um mal, mesmo moral, causado por suas criaturas: "Não fostes vós, diz José a seus irmãos, que me enviastes para cá, foi Deus;- o mal que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem a fim de -salvar a vida de um povo numeroso" (Gn 45,8; 50,20) Do maior mal moral jamais cometido, a saber, a rejeição e homicídio do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância de sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa Redenção. Com isso, porém, o mal não se converte em um bem.

(Catecismo da Igreja Católica, cc. 312)

Contemplar o mistério:

A dor tem um lugar nos planos de Deus. Esta é a realidade, ainda que nos custe entendê-la. O próprio Jesus Cristo, como homem, teve dificuldade em suportá-la: Pai, se é possível, afasta de mim este cálice; não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua. Nesta tensão entre o suplício e a aceitação da vontade do Pai, Jesus vai para a morte serenamente, perdoando aos que o crucificam.

Mas precisamente essa aceitação sobrenatural da dor representa, ao mesmo tempo, a maior conquista. Morrendo na Cruz, Jesus venceu a morte: da morte, Deus tira a vida. A atitude de um filho de Deus não é a de quem se resigna à sua trágica desventura; é antes a satisfação de quem saboreia antecipadamente a vitória. Em nome desse amor vitorioso de Cristo, os cristãos devem lançar-se por todos os caminhos da terra, para serem semeadores de paz e de alegria, com a sua palavra e com as suas obras. Temos de lutar - é uma luta de paz - contra o mal, contra a injustiça, contra o pecado, para proclamar assim que a atual condição humana não é a definitiva, que o amor de Deus, manifestado no Coração de Cristo, alcançará o glorioso triunfo espiritual dos homens.

(É Cristo que passa, 168)

6. Se Deus é Pai, é também "meu" Pai?

O amor de Deus por Israel é comparado ao amor de um pai por seu filho. Este amor é mais forte que o amor de uma mãe por seus filhos(23). Deus ama seu Povo mais do que um esposo ama sua bem-amada; este amor se sobrepor até às piores infidelidades; ir até a mais preciosa doação: "Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único" (Jo 3,16).

(Catecismo da Igreja Católica, cc. 219)

A consciência que temos de nossa situação de escravos nos faria desaparecer debaixo da terra, nossa condição terrestre se reduziria a pó, se a autoridade de nosso Pai e o Espírito de seu Filho não nos levassem a clamar: "Abba, Pai!" (Rm 8,15)... Quando ousaria a fraqueza de um mortal chamar a Deus seu Pai, senão apenas quan­do o íntimo do homem é animado pela Força do alto? ( Catecismo da Igreja Católica, cc. 2777)

Portanto, irmãos, somos devedores, mas não à carne, para vivermos de acordo com a carne. É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis. De facto, todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus. Vós não recebestes um Espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adotivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai! Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para também com Ele sermos glorificados.(Rom 8, 12-17)

Contemplar o mistério:

Então foi Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele. E eis uma voz do Céu, que dizia: Este é o meu Filho, o amado, no qual pus as minhas complacências (Mt 3, 13.17).

Este dom gratuito da adoção exige da nossa parte uma conversão continua e uma vida nova.[...] No Batismo o Nosso Pai, Deus, tomou posse das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito Santo.

Nosso Senhor pôs-te na alma um selo indelével, por meio do Batismo: és filho de Deus.

Criança, não ardes em desejos de fazer com que todos O amem?

(Santo Rosário, 1º mistério Luminoso)

A filiação divina é uma verdade feliz, um mistério consolador. A filiação divina empapa toda a nossa vida espiritual, porque nos ensina a procurar, conhecer e amar o nosso Pai do Céu, e assim cumula de esperança a nossa luta interior e nos dá a simplicidade confiante dos filhos pequenos. Mais ainda: precisamente porque somos filhos de Deus, esta realidade leva-nos também a contemplar com amor e com admiração todas as coisas que saíram das mãos de Deus Pai Criador. E deste modo somos contemplativos no meio do mundo, amando o mundo.

(É Cristo que passa, 65)

7. Se sou filho de Deus, como posso relacionar-me com Ele?

Podemos adorar o Pai porque Ele nos fez renascer para sua Vida, adotando-nos como filhos em seu Filho único: pelo Batismo, Ele nos incorpora no Corpo de seu Cristo e, pela Unção de seu Espírito, que se derrama da Cabeça para os membros, faz de nós "cristos" (isto é, "ungidos").

Deus, que nos predestinou à adoção de filhos, tomou-nos conformes ao Corpo glorioso de Cristo. Doravante, portanto, como participan­tes do Cristo, vós sois com justa razão chamados "cristos. O homem novo, renascido e restituído a seu Deus pela graça, diz, antes de mais nada, "Pai!", porque se tornou filho. (Catecismo da Igreja Católica, cc. 2782)

Este dom gratuito da adoção exige de nossa parte uma conversão contínua e uma vida nova. Rezar a nosso Pai deve desenvolver em nós, duas disposições fundamentais:

O desejo e a vontade de assemelhar-se a Ele. Criados à sua imagem, é por graça que a semelhança nos é dada e a ela devemos responder.

Quando chamamos a Deus de "nosso Pai", precisamos lembrar-nos de que devemos comportar-nos como filhos de Deus.

Não podeis chamar de vosso Pai ao Deus de toda bondade, se conservais um coração cruel e desumano; pois nesse caso já não tendes mais em vós a marca da bondade do Pai celeste.

(...) Nosso Pai: este nome suscita em nós, ao mesmo tempo, o amor, a afeição na oração,(...) e também a esperança de alcançar o que vamos pedir... Com efeito, o que poderia Ele recusar ao pedido de seus olhos, quando já antes lhes permitiu ser seus filhos.

(Catecismo da Igreja Católica, cc. 2784-2785)

Contemplar o mistério:

Um filho de Deus trata o Senhor como Pai. Não como quem presta um obséquio servil, nem com uma reverência protocolar, de mera cortesia, mas com plena sinceridade e confiança. Deus não se escandaliza dos homens. Deus não se cansa com as nossas infidelidades. Nosso Pai do Céu perdoa qualquer ofensa quando o filho volta de novo para Ele, quando se arrepende e pede perdão. Nosso Senhor é de tal modo Pai, que prevê os nossos desejos de sermos perdoados e a eles se antecipa, abrindo-nos os braços com a sua graça.

( É Cristo que passa, 64)

Descansa na filiação divina. Deus é um Pai - o teu Pai! - cheio de ternura, de infinito amor.

Chama-Lhe Pai muitas vezes, e diz-Lhe - a sós - que O amas, que O amas muitíssimo!: que sentes o orgulho e a força de ser seu filho.

(Forja, 331)

(...)Vejamos como é surpreendente a resposta: os discípulos convivem com Cristo e, no meio das suas conversas, o Senhor indica-lhes como devem rezar; revela-lhes o grande segredo da misericórdia divina: que somos filhos de Deus e que podemos entreter-nos confiadamente com Ele, como um filho conversa com seu pai.

(Amigos de Deus, 145)

8. Esta relação não tira ao homem a sua liberdade? Pode-se confiar em Deus?

Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e o domínio de seus atos. "Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão" (Eclo 15,14), para que pudesse ele mesmo procurar seu Criador e, aderindo livremente a Ele, chegar à plena e feliz perfeição:

O homem é dotado de razão e por isso é semelhante a Deus: foi criado livre e senhor de seus atos. (Catecismo da Igreja Católica, cc. 1730)

Por sua gloriosa cruz, Cristo obteve a salvação de todos os homens. Resgatou-os do pecado que os mantinha na escravidão. "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1). Nele comungamos da "verdade que nos torna livres. O Espírito Santo nos foi dado e, como ensina o apóstolo, "onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2 Cor 3,17). Desde agora participamos da "liberdade da glória dos filhos de Deus.(Catecismo da Igreja Católica, cc. 1741)

Contemplar o mistério:

As palavras não conseguem acompanhar o coração, que se emociona perante a bondade de Deus. Diz-nos: Tu és meu filho. Não um estranho, não um servo benevolamente tratado, não um amigo, que já seria muito. Filho! Concede-nos livre trânsito para vivermos com Ele a piedade de filhos e também - atrevo-me a afirmar - a desvergonha de filhos de um Pai que é incapaz de lhes negar seja o que for.

(É Cristo que passa, 185)

Fomenta, na tua alma e no teu coração - na tua inteligência e no teu querer -, o espírito de confiança e de abandono na amorosa Vontade do Pai celestial... - Daí nasce a paz interior por que anseias.

(Sulco, 850)

Contemplar com as palavras do Papa Bento XVI:

Caros amigos, também nós na oração temos que ser capazes de apresentar a Deus as nossas dificuldades, o sofrimento de certas situações, de determinados dias, o compromisso quotidiano de O seguir, de ser cristãos, e também o peso do mal que vemos em nós e ao nosso redor, para que Ele nos infunda esperança, nos faça sentir a sua proximidade, nos conceda um pouco de luz no caminho da vida.

Jesus continua a sua prece: «Abbá! Pai! Tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres» (Mc 14, 36). Esta invocação contém três passagens reveladoras. No início temos a duplicação do termo com que Jesus se dirige a Deus: «Abbá! Pai!» (Mc 14, 36a). Sabemos bem que a palavra aramaica Abbá era utilizada pelo filho para se dirigir ao pai, e portanto exprime a relação de Jesus com Deus Pai, uma relação de ternura, de confiança e de abandono. Na parte central da invocação há o segundo elemento: a consciência da onipotência do Pai — «tudo te é possível» — que introduz um pedido no qual, mais uma vez, aparece o drama da vontade humana de Jesus perante a morte e o mal: «Afasta de mim este cálice!». Mas há uma terceira expressão da prece de Jesus, que é decisiva, na qual a vontade humana adere plenamente à vontade divina. Com efeito, Jesus conclui dizendo com vigor: «Contudo, não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres» (Mc 14, 36c). (Bento XVI, Quarta-feira, 1° de Fevereiro de 2012)