“Aqui você entra triste e sai feliz”

Hortensia tem uma farmácia num subúrbio de Valência (Espanha). Os moradores do bairro pertencem a grupos étnicos, culturas e religiões muito diversas, e o consumo de heroína e outras drogas é bem alto.

Quando Hortensia chegou ao bairro há anos, as suas ruas estavam entre as mais perigosas da cidade. Mas ela não se intimidou. Tinha trabalhado numa escola pública localizada na periferia de outra cidade próxima, em condições sanitárias muito deficientes e com uma população cigana abundante. “Passei a minha vida trabalhando em áreas marginalizadas”. Ao lidar com crianças e famílias ciganas percebeu que os estereótipos são injustos, e que os ciganos têm valores que todos nós podemos aprender.

Ao lidar com crianças e famílias ciganas percebeu que os estereótipos são injustos

“Todos têm algum valor para nos ensinar, pontos de vista que enriquecem a nossa perspectiva”. Admira em muitos dos seus clientes o apreço e cuidado pela unidade familiar, o respeito pelos mais velhos e a forma como se esforçam por cuidar dos idosos e dos doentes, a gratidão.

Hortensia é mãe de família e supernumerária do Opus Dei. Estudou em Guadalaviar, uma escola que é obra corporativa do Opus Dei, e embora ao terminar o colégio não desse tanto valor à formação que tinha recebido, tudo mudou quando se casou, teve duas filhas e perguntou-se onde iriam estudar: “Quero que as minhas filhas sejam felizes e cristãs”, pensou. E sem hesitação levou-as a Guadalaviar, com alguma relutância do seu marido, que agora é o principal defensor da escola.

Horten na entrada de sua farmácia

Ao refletir sobre a influência do Opus Dei em seu trabalho, Hortensia considera que o espírito da Obra lhe dá paz interior e bom humor, algo de que muitas vezes precisa para resolver situações problemáticas e inclusive perigosas. “Aqui você entra triste e sai feliz”, disse-lhe uma cliente cigana.

Também a ajuda a ser solidária com os vulneráveis, e a apreciar a importância da sobriedade nos seus gastos, ao ver a tantos que têm necessidade de tudo. “Quando somos generosos com as pessoas que precisam, somos nós que saímos ganhando”. Aprendeu que podemos viver com menos, para passarmos a vida “sóbria e temperadamente”, como São Josemaria ensinava.

o espírito da Obra lhe dá paz interior e bom humor, algo de que muitas vezes precisa para resolver situações problemáticas

Graças à formação que recebeu e ao seu trabalho, Hortensia viu reforçado o valor que já dava naturalmente à diversidade. Ela gosta de trabalhar com pessoas que pensam de forma diferente, porque “conviver apenas com pessoas que pensam igual a você é muito chato (...) todos são muito livres de pensar como quiserem: o amor e a amizade estão acima de tudo”.

Até há pouco tempo, o crime era frequente na zona da sua farmácia. Agora, a situação está melhorando, graças ao trabalho de muitos: “O que vejo é que os mais constantes são as pessoas ligadas à Igreja Católica: padres, freiras, voluntários de instituições católicas”. E pessoas que, em sua profissão, tentam contribuir para melhorar o mundo.