Aprender a tratar a Deus na Missa

São Josemaria recebeu o sacramento da ordem no dia 28 de março de 1925. Se já desde antes o centro da sua vida era a eucaristia, a partir deste momento o foi de modo especial. Por ocasião desta data oferecemos um estudo sobre a Santa Missa com base nos seus ensinamentos.

Oferecemos a tradução de um estudo publicado no boletim Romana, com reflexões sobre a liturgia da Santa Missa a partir de alguns dos escritos de São Josemaria.


“A Trindade enamorou-se do homem, elevado à ordem da graça e feito à sua imagem e semelhança (Gn 1,26), redimiu-o do pecado – do pecado de Adão que recaiu sobre toda sua descendência, e dos pecados pessoais de cada um – e deseja vivamente morar em nossa alma: Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e viremos a ele e nele faremos nossa morada (Jo 14,23)”[1]. Estas palavras de uma homilia de São Josemaria, da Quinta Feira Santa de 1960, refletem a sua profunda compreensão do mistério eucarístico como um exagero de amor da Trindade, que deseja aproximar-se dos homens.

Cada um de nós é chamado a ser morada de Deus. Este sonho pode tornar-se realidade, se nos transformamos em Cristo, se vivemos a sua vida[2] e nos tornarmos uma só coisa com ele. Esta identificação realiza-se de modo singular graças à Eucaristia[3]. Na vida e nos ensinamentos de São Josemaria notamos uma percepção da força transformadora da Eucaristia, da transcendência da Santa Missa para a existência cristã, como se reflete mais adiante na mesma homilia: “Talvez nos tenhamos perguntado algumas vezes como podemos corresponder a tanto amor de Deus; talvez nesses momentos tenhamos desejado ver claramente exposto um programa de vida cristã. A solução é fácil e está ao alcance de todos os fiéis: participar amorosamente da Santa Missa, aprender na Missa a ganhar intimidade com Deus, porque neste Sacrifício se encerra tudo o que o Senhor quer de nós”[4].

“Aprender na Missa a tratar a Deus”. Assim se expressa a convicção de que os ritos litúrgicos através dos quais se desenvolve a celebração eucarística têm um valor pedagógico para os fiéis[5]. É lógico considerar isso assim, porque “é na Missa que fica manifesto de modo diáfano que a resposta à entrega de Deus deve ser a de um amor total, com todo o coração, com todas as forças, até dar a vida”[6]. Neste artigo, propomos destacar a aguda consciência que São Josemaria tinha da força transformadora da Santa Missa para os fiéis comuns. São muitos os seus ensinamentos sobre isso e frequentes em seus escritos. Decidimos, por isso, neste trabalho, focar a atenção especialmente na homilia “A Eucaristia, mistério de fé e de amor[7] na qual, seguindo as diferentes partes da celebração eucarística São Josemaria propõe consequências para a vida espiritual dos cristãos.

1. O valor mistagógico do rito

O Fundador do Opus Dei sugere um modo concreto de assistir às lições da escola de vida que é a Eucaristia: “Desejaria recordar agora o desenrolar das cerimônias litúrgicas, que tantas vezes temos observado. Seguindo-as passo a passo, é bem possível que o Senhor nos faça descobrir em que aspectos devemos melhorar, que vícios extirpar, como deve ser o nosso relacionamento fraterno com todos os homens”[8].

    Podemos afirmar que São Josemaria dispõe-se de certa forma a falar aos fiéis sobre a Missa, não de um modo discursivo, mas mistagógico, a partir dos ritos[9]. E é lógico que seja assim, pois a extensa e profunda realidade dos efeitos espirituais da Santa Missa não deve transcorrer de modo autônomo e independente dos textos e ritos que escalonam a celebração[10].

    A atenção ao sentido dos ritos esteve presente com frequência no Magistério da Igreja durante o século XX. Pio XII diz a esse respeito: “Não têm, pois, noção exata da sagrada liturgia aqueles que a consideram como parte somente externa e sensível do culto divino ou como cerimonial decorativo; nem se enganam menos aqueles que a consideram como mero conjunto de leis e preceitos com que a hierarquia eclesiástica ordena a realização dos ritos”[11]. Pelo contrário, como recorda a doutrina conciliar da Constituição Sacrosanctum Concilium, na liturgia, “obra através da qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens santificados, Cristo associa sempre consigo sua amadíssima esposa a Igreja, que invoca seu Senhor e por ele tributa culto ao Pai Eterno. A liturgia é, pois, considerada, com razão, o exercício do sacerdócio de Jesus Cristo. Neste exercício, os sinais sensíveis significam e realizam, cada um a seu modo, a santificação do homem, e assim o Corpo místico de Jesus Cristo, quer dizer, a Cabeça e seus membros, exerce o culto público integro”[12]. Nesta mesma linha, São Josemaria ressaltou, desde os começos de sua pregação, o potencial santificador do mistério do culto cristão[13].

    A liturgia é, por conseguinte, “o lugar privilegiado do encontro dos cristãos com Deus e com quem ele enviou, Jesus Cristo”[14]. Um encontro que “se expressa como um diálogo através de ações e palavras”[15], sob os sinais visíveis que a sagrada liturgia utiliza e que são escolhidos por Cristo ou pela Igreja, significando realidades divinas invisíveis[16].

    Assim, pois, as palavras e os gestos da liturgia têm uma importância particular que requer a participação interior dos fiéis, como se depreende do n. 543 de Caminho “viste-me celebrar a Santa Missa sobre um altar desnudo – mesa e ara – sem retábulo. O Crucifixo, grande. Os castiçais, maciços, com tochas de cera escalonadas: mais altas junto da Cruz. Frontal da cor do dia. Casula ampla. O cálice, severo de linhas, de copa larga e rico. Ausente a luz elétrica, cuja falta não notamos. – E te custou sair do oratório: estava-se bem ali. Vês como leva a Deus, como aproxima de Deus o rigor da liturgia?”[17]. E Arocena comenta: “O texto reflete a sensibilidade mistagógica do autor: os signos dos mistérios de Cristo levam a ele. Vivida com autenticidade, a celebração constitui a mediação e ao mesmo tempo, a catequese mais eloquente do seu mistério”[18].

    2. A Missa, encontro filial de amor

    Esta epígrafe pressupõe duas considerações fundamentais. Por um lado, que a Santa Missa, como todo encontro, é uma questão entre duas pessoas: Cristo realmente presente e nós, participantes da celebração que, cristificados pela efusão do Espírito Santo nos reconhecemos filhos de Deus, filhos no Filho com direito e com o dever de apresentar-nos e oferecer-nos com Cristo ao Pai. Trata-se de um encontro especial: um encontro de enamorados. Por isso, São Josemaria descrevia a Santa Missa como uma “corrente trinitária de amor”[19], à qual o cristão procura agregar-se com “um amor filial empapado de espírito sacerdotal”[20].

    Na Eucaristia, com efeito, “está contido verdadeira, real e substancialmente o corpo e o sangue, juntamente com a alma e a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e, portanto, o Cristo inteiro”[21]. Por isso “a fé nos pede que estejamos diante da Eucaristia com a consciência de estarmos diante do próprio Cristo. De maneira exata, a sua presença dá às outras dimensões – de banquete, de memória da Páscoa, de antecipação escatológica – um significado que ultrapassa em muito um mero simbolismo. A Eucaristia é mistério de presença, por meio do qual se realiza de modo absoluto a promessa de Jesus de permanecer conosco até o fim do mundo”[22].

    Toda esta maravilha manifesta a proximidade, a preocupação, o amor de Deus pelos homens. São Josemaria, recorda Dom Javier Echevarría, “ensinou-nos a assumir a fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia com plenitude, de modo que o Senhor entre na nossa vida verdadeiramente, e nós na sua, que o olhemos e o contemplemos — com os olhos da fé — como a uma pessoa realmente presente: que nos vê, que nos ouve, que nos espera, que nos fala, que se aproxima e nos busca, que se imola por nós na Santa Missa”[23].

    Na Eucaristia, o Senhor nos mostra, verdadeiramente, um amor que chega “até o extremo” (Jo 13,1), um amor que não conhece medida[24]. Por isso, o santo do ordinário compreendia-a como uma loucura de amor, e fazia inclusive uma comparação audaz: “Nenhum enamorado diz que não tem tempo para estar com o ser querido ou que tem pressa. Nossos pais não tinham problemas de tempo para estar sempre juntos, porque estavam enamorados”[25]. E continuava aconselhando: “Não se importem de usar os exemplos do amor humano, nobre e limpo, para as coisas de Deus. Se amamos o Senhor com este coração de carne – não temos outro – não haverá pressa para terminar o encontro amoroso com ele”[26].

    3. Ir ao encontro de amor

    Se a Eucaristia é um encontro de amor, então a preparação interior é um aspecto importante. Inclusive também a exterior, como indica o fundador do Opus Dei relembrando cenas da infância: “Lembro-me do modo como as pessoas se preparavam para comungar: havia esmero em preparar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de perfume... Eram delicadezas próprias de pessoas enamoradas, de almas finas e retas, que sabiam pagar o Amor com amor”[27]. Em Forja, esta preparação externa converte-se em uma imagem do que acontece no âmbito espiritual: “Temos de receber o Senhor na Eucaristia, como aos grandes da terra, melhor: com adornos, luzes, roupas novas... – E se me perguntares que limpeza, que adornos e que luzes hás de ter, responder-te-ei: limpeza nos teus sentidos, um por um; adorno nas tuas potências, uma por uma; luz em toda tua alma”[28].

    Ao iniciar a Santa Missa, a consciência de achar-se na presença da Trindade suscitava em São Josemaria um amor e admiração que o levavam a penetrar com intensidade na liturgia. Cada detalhe ganhava um significado particular para ele. Dirigia-se ao altar com alegria, “porque Deus está presente. É a alegria que, unida ao reconhecimento e ao amor, se manifesta no beijo que se dá à mesa do altar, símbolo de Cristo e memória dos santos: um espaço pequeno e santificado, porque nessa ara se confecciona o Sacramento da infinita eficácia”[29]. Por isso ele confessava: “Beijo o altar com paixão. Penso que ali se renova o Sacrifício do Calvário; e ali o Pai, o Filho e o Espírito Santo derramam-se sobre a humanidade... Enchei-vos de desejos de amor, de reparação e de sacrifício. Ele concedeu-nos o seu amor, e amor com amor se paga. Ninguém me venha dizer que Deus está longe: está bem metido dentro de cada um de nós”[30].

    Diante desse encontro com a grandeza e a bondade infinita de Deus, que acontece na liturgia, São João Paulo II dizia, “a atitude apropriada não pode ser senão uma atitude impregnada de reverência e sentido de estupor, que brota de saber-se na presença da majestade de Deus”[31]. Estamos diante de Deus, chamados a ser seus filhos, convocados à sua presença enquanto esperamos ser transformados no Filho por obra do Espírito Santo. Não é lógico experimentar o desejo de examinar a própria vida, pedir o dom da conversão contínua?

    A recitação do Confiteor,prossegue o fundador do Opus Dei “coloca-nos perante a nossa indignidade; não é a recordação abstrata da culpa, mas a presença, bem concreta, dos nossos pecados e das nossas faltas. Por isso repetimos: Kyrie eleison, Christe eleison, Senhor, tende piedade de nós; Cristo tende piedade de nós. Se o perdão de que necessitamos estivesse em função dos nossos méritos, nasceria agora na nossa alma uma amarga tristeza. Mas, graças à bondade divina, o perdão vem-nos da misericórdia de Deus, a quem já louvamos – Glória! – porque só Vós sois o Santo, só Vós o Senhor, só Vós o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai”[32].

    4. Iniciar um diálogo de amor

    A oração coleta termina com as palavras que São Josemaria gostava tanto de repetir pois lhe recordavam que a Trindade inteira atua no santo Sacrifício do Altar: Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho – dirigimo-nos ao Pai – na unidade do Espírito. A seguir começa a Liturgia da Palavra na qual nos encontramos diante de um verdadeiro discurso que espera e requer uma resposta. Este momento da celebração tem, com efeito, um caráter de proclamação e de diálogo: Deus que fala a seu povo o qual responde e torna sua esta palavra divina por meio do silêncio, do canto; adere a ela professando sua fé na professio fidei, e cheio de confiança recorre ao Senhor com suas petições[33].

    “Impressionava muito – recorda Dom Javier, testemunha de tantas celebrações eucarísticas do fundador – o tom em que lia os textos litúrgicos, com a nitidez própria de quem os pronuncia ao mesmo tempo com os lábios e com o coração. Compenetrava-se de tal forma com esses textos, concretamente nas leituras, que – se assistiam outras pessoas – não se continha e, quando acabava de ler o Evangelho, exteriorizava os seus sentimentos numa homilia”[34]. Vivia, pois, realmente, as considerações que fazia sobre esta parte da Santa Missa: “Ouvimos agora a Palavra da Escritura, a Epístola e o Evangelho, luzes do Paráclito, que fala com voz humana para que a nossa inteligência saiba e contemple, para que a vontade se robusteça e a ação se cumpra”[35]. Este cumprimento da ação nada mais é do que “a dimensão performativa da Palavra celebrada: a liturgia realiza a atualização perfeita dos textos bíblicos, e o que a Palavra anuncia é realizado pelo sacramento”[36].

    “A primeira exigência para uma boa celebração – ensina Bento XVI – é que o sacerdote entre realmente neste diálogo. Anunciando a Palavra, sente-se ele mesmo em diálogo com Deus. É ouvinte da Palavra e anunciador da Palavra, no sentido de que se torna instrumento do Senhor e procura compreender esta Palavra de Deus que depois se deve transmitir ao povo. É um diálogo com Deus, porque os textos da Santa Missa não são textos teatrais ou algo semelhante, mas são orações, graças às quais, juntamente com a assembleia, falo com Deus”[37].

    Cabe afirmar que esta ruminatioé conatural à compreensão que São Josemaria tem dos textos litúrgicos, e em especial da Palavra de Deus proclamada na Liturgia da Palavra, que se converte em oração e se projeta na vida. “Não é estranho, pois, que as suas homilias e escritos tragam abundantes comentários à lex orandi, cuja vivacidade corresponde à profundidade bíblica e litúrgica da sua experiência celebrativa. Em algumas passagens, seu estilo evoca a mistagogia dos Padres da Igreja”[38].

    5. Encontro de amor entre Cristo e sua Igreja

    “Somos um só povo que confessa uma só fé, um Credo; um povo congregado na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”[39]. Estas palavras levam-nos a dar mais um passo. A identificação com os sentimentos de Cristo implica uma progressiva transformação nele por meio da oração, mas como aprender a rezar? A resposta é clara: rezando com outros. Em realidade não cabe separar Deus Pai do seu Povo: “cada vez que clamamos e dizemos: Abbá! Pai!, é a Igreja, toda a comunhão dos homens em oração, que sustenta a nossa invocação, e a nossa invocação é a invocação da Igreja”[40]. Só Jesus pode dizer ‘meu Pai’. Todos nós nos dirigimos a Deus como Pai, sempre em comunhão com aquele nós que Jesus inaugurou, tornando possível pelo Batismo que sejamos filhos no Filho.

    A própria liturgia nos mostra de modo palpável esta realidade. Quando o sacerdote se afasta do ambão ou da sede, para situar-se no altar – centro da liturgia eucarística[41] – todos se preparam de um modo mais imediato para a oração comum que sacerdote e povo dirigem ao Pai, por Cristo no Espírito Santo[42]. Neste momento da celebração, o sacerdote fala ao povo unicamente nos diálogos a partir do altar[43], pois a ação sacrificial que ocorre na liturgia eucarística não se dirige principalmente à comunidade. Sacerdote e povo não oram um diante do outro, mas diante do único Senhor. De fato, todos, o sacerdote – como representante de toda a Igreja – e os fiéis, estão, espiritual e interiormente, versus Deum per Iesum Christum. Entendemos assim melhor a exclamação da Igreja antiga: “Conversi ad Dominum”[44].

    A posição da cruz no centro do altar indica, concretamente, a centralidade do crucifixo na celebração eucarística e a orientação precisa que toda a assembleia é chamada a manter durante a liturgia eucarística: não nos olhamos uns aos outros, mas olhamos aquele que nasceu, morreu e ressuscitou por nós, o Salvador. Situa-se neste marco a disposição que São Josemaria já descrevia nos inícios de 1935: “A Santa Cruz e a ara – totalmente isolada a mesa do altar – ocupem o lugar principal”[45]. É a Cristo, de quem provém toda a salvação, o sol que surge, que todos devemos dirigir o olhar, e de quem havemos de receber o dom da graça[46]. Como destaca com simplicidade o Papa Francisco: “sobre a mesa há uma cruz, que indica que sobre este altar oferece-se o sacrifício de Cristo: Ele é o alimento espiritual que lá se recebe, sob o signo do pão e do vinho”[47].

    Na medida em que compreendermos esta estrutura, em que assimilarmos as palavras da liturgia, entraremos em consonância interior e estaremos com a Igreja em colóquio com Deus. Na celebração dos sacramentos o sacerdote fala com Cristo e através dele com o Deus trino, e reza assim com e pelos outros. Como insiste São Josemaria:“Levar os homens à glória eterna no amor de Deus: essa é a nossa aspiração fundamental ao celebrar a Missa, como foi a de Cristo ao entregar sua vida no Calvário”[48].

    Podemos afirmar, sem temer equívocos, que o cristão, pela comunhão dos santos, nunca está sozinho, isso fica evidente de modo contínuo na liturgia. “Orate, fratres – reza o sacerdote – porque esse sacrifício é meu e vosso, de toda a Santa Igreja. Orai, irmãos, mesmo que sejam poucos os que se encontram reunidos, mesmo que esteja materialmente presente um só cristão, ou apenas o celebrante, porque qualquer Missa é o holocausto universal, o resgate de todas as tribos e línguas e povos e nações (cfr. Ap V, 9)”[49]. Na Oração eucarística, esta universalidade adquire a sua verdadeira amplitude: “A terra e o céu se unem para entoar com os Anjos do Senhor: Sanctus,Sanctus, Sanctus... Eu aplaudo e louvo com os Anjos. Não me é díficil, porque sei que me encontro rodeado por eles quando celebro a Santa Missa. Estão adorando a Trindade. Como sei também que, de algum modo, intervém a Santíssima Virgem, pela sua íntima união com a Santíssima Trindade e porque é Mãe de Cristo, da sua Carne e do seu Sangue, Mãe de Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem”[50].

    Entendemos assim que o cristão não pode rezar a Deus de modo autêntico se viver espiritualmente isolado dos outros, sem abrir-se aos outros. “A fé cristã não é nunca mera relação subjetiva ou pessoal – privada com Cristo e sua palavra, mas é inteiramente concreta e eclesial”[51]. Por isso nenhum cristão ora sozinho: o Espírito Santo o acompanha sempre. Sua oração é sempre em dupla e em grupo: ressoa sempre nela a invocação da Igreja na epiclese contínua a seu Senhor. Por isso “viver a Santa Missa é permanecer em oração contínua, é convencer-se de que representa para cada um de nós um encontro pessoal com Deus, em que adoramos, louvamos, pedimos, damos graças, reparamos os nossos pecados, nos purificamos e nos sentimos uma só coisa em Cristo com todos os cristãos”[52].

    Este sentido da unidade informa toda a vida de cada fiel: “Devemos, pois, ser esforçados na nossa vida interior e no desenvolvimento das virtudes cristãs, mas pensando no bem de toda a Igreja”[53]. A oração eucarística é um exemplo eloquente desta abertura do coração para com as intenções da Esposa de Cristo presente em toda a terra: “Assim se entra no Canon, com a confiança filial que nos leva a chamar clementíssimo ao nosso Pai-Deus. Pedimos-lhe pela Igreja e por todos na Igreja: pelo Papa, pela nossa família, pelos amigos e companheiros. E o católico, que tem coração universal, pede pelo mundo inteiro, porque nada pode ficar à margem do seu zelo vibrante”[54].

    Ao longo da oração eucarística voltamos, em diversos momentos, à petição, e às vezes recorremos aos santos, pedindo sua intercessão. “E para que a oração seja acolhida, evocamos e entramos em comunicação com a gloriosa sempre Virgem Maria e com um punhado de homens que foram os primeiros a seguir Cristo e por Ele morreram”[55]. E com a intercessão, a petição: “Mais pedidos, porque nós, homens, estamos quase sempre inclinados a pedir: agora pelos nossos irmãos defuntos e por nós mesmos. Aqui evocamos também todas as nossas infidelidades, as nossas misérias. A carga é grande, mas Ele quer levá-la por nós e conosco”[56].

    Aproxima-se o instante da Consagração. Renova-se agora “a infinita loucura divina ditada pelo Amor”[57]. Estamos no vértice da oração eucarística, como indica a Instrução Geral do Missal Romano: “mediante as palavras e gestos de Cristo, realiza-se o sacrifício que o próprio Cristo instituiu na última Ceia, quando ofereceu o seu Corpo e Sangue sob as espécies do pão e do vinho e os deu a comer e a beber aos Apóstolos, ao mesmo tempo que lhes confiou o mandato de perpetuar este mistério”[58].

    O sacerdote junta as mãos e pronuncia com clareza as palavras do Senhor tal e como a natureza das mesmas o requer[59]. Especialmente neste momento da celebração, o sacerdote atua in persona Christi, o que “o que quer dizer "em nome", ou então "nas vezes" de Cristo. "In persona": isto é, na especifica e sacramental identificação com o "Sumo e Eterno Sacerdote", que é o Autor e o principal Sujeito deste seu próprio Sacrifício, no que não pode, na verdade, ser substituído por ninguém”[60]. Trata-se para São Josemaria de uma realidade diáfana: “Sou, de um lado, um fiel como os outros; mas sobretudo sou Cristo no Altar! Renovo incruentamente o divino sacrifício do Calvário e consagro in persona Christi, representando realmente a Jesus Cristo, porque lhe empresto meu corpo e minha voz e minhas mãos, meu pobre coração, tantas vezes manchado, que quero que ele purifique”[61].

    “Termina o Canon com outra invocação à Santíssima Trindade: Per Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso... , por Cristo, com Cristo e em Cristo, nosso Amor, a Vós, ó Pai Todo-Poderoso, seja dada toda a honra e toda a glória, agora e para sempre na unidade do Espírito Santo”[62]. Recordamos outra vez que estamos dentro da corrente trinitária de amor de Deus pelos homens que é a Eucaristia. O cânon conclui dirigindo à Trindade uma oração de louvor, “a forma de oração que reconhece o mais imediatamente possível que Deus é Deus! Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz, por aquilo que Ele É. Participa da bem-aventurança dos corações puros que o amam na fé antes de o verem na Glória”[63]. Se bem que seja certo que toda a celebração eucarística é uma grande ação de graças dirigida à Santíssima Trindade, a doxologia final da oração eucarística resume e concentra a totalidade deste louvor.

    Por sua vez, o gesto de elevar a patena e o cálice pretende apresentar ao Pai, para oferecê-la, a grande Vítima imolada: Cristo, a expressão suprema da honra e da glória devidas a Deus. A fórmula da doxologia final mostra, de fato, que toda oração de louvor “só é possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua intercessão, de sorte que o sacrifício de louvor ao Pai é oferecido por Cristo e com ele para ser aceito nele[64].

    São Josemaria afirmava nesta mesma linha: “No Santo Sacrifício do Altar, o sacerdote toma o Corpo do nosso Deus e o Cálice com o seu Sangue, e levanta-os sobre todas as coisas da terra, dizendo: ‘Per Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso’, pelo meu Amor, com o meu Amor, no meu Amor! – Une-te a este gesto. Mais: incorpora essa realidade na tua vida”[65]. As últimas palavras – “incorpora esta realidade na tua vida” – animam-nos a tornar efetivo este gesto ao longo da jornada[66], porque “corresponder a tanto amor requer que haja da nossa parte uma entrega total do corpo e da alma”[67].

    6. A comunhão: quando o encontro se torna adoração e união

    Parte essencial da Missa é a Comunhão. São Josemaria recomenda-a frequentemente em sua pregação[68]. Já em 1931, ao indicar a praxe que deveriam seguir os que se incorporassem ao Opus Dei, escreveu que “receberão normalmente a Sagrada Comunhão dentro da Missa, porque esse é o sentir da liturgia”[69]. São ainda da mesma época as seguintes palavras: “a comunhão dentro da Missa é a regra, não a exceção. Intra Missam e com hóstias consagradas na Missa. ‘O que Deus uniu, o homem não o separe’. O sacrifício unido ao Sacramento. Por que separá-los sem uma causa razoável?”[70]

    A finalidade do rito de comunhão é que os fiéis, devidamente preparados, recebam o Pão do céu e o Cálice da salvação, o Corpo e o Sangue de Cristo que se entregou para a vida do mundo[71]. Proporcioná-lo é o objetivo dos três momentos de preparação imediata: o Pai Nosso, o gesto de paz e a ação simbólica da fração do pão.

    São Josemaria refere-se ao Pai Nosso, dizendo: Jesus é o Caminho, o Medianeiro: n’Ele, tudo; fora d’Ele, nada. Em Cristo e ensinados por Ele, atrevemo-nos a chamar Pai Nosso ao Todo Poderoso: Aquele que fez o céu e a terra é esse Pai entranhável que espera que voltemos para Ele continuamente, cada um como um novo e constante filho pródigo”[72]. Estas palavras introduzem-nos diretamente na realidade da Comunhão que aumenta nossa união com Cristo, une-nos a ele separando-nos do pecado e constrói a Igreja[73]. Unir-nos a Cristo e por Ele a todos os irmãos; filiação em Cristo e fraternidade: sentimentos presentes ao longo de toda a celebração eucarística.

    Senhor, eu não sou digno deque entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo, esta oração antes da comunhão é sinal de contrição, de uma dor de amor que adora, que lança a luz sobre o que acontece nesse momento: “Não é que na Eucaristia nós simplesmente recebemos uma coisa qualquer. Ela é o encontro e a unificação de pessoas; porém a pessoa que vem ao nosso encontro e deseja unir-se a nós é o Filho de Deus. Tal unificação somente pode realizar-se segundo o modo de adoração. Receber a Eucaristia significa adorar Aquele que recebemos. Precisamente assim e somente assim nos tornamos um só com Ele”[74]. O fundador do Opus Dei propõe, por isso, uma comparação expressiva: “Quando na terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes, música, trajes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não deveremos preparar-nos? Já nos ocorreu pensar como nos comportaríamos, se só pudéssemos comungar uma vez na vida?”[75].

    A Santa Missa termina: “Com Cristo na alma, termina a Santa Missa. A benção do Pai, do Filho e do Espírito Santo acompanha-nos durante todo o dia, na nossa tarefa simples e normal de santificar todas as nobres atividades humanas”[76]. Aranda glosa esta consideração assim: “Com simplicidade e espontaneamente, vem repetidas vezes à mente e à pena do autor a formulação de sua doutrina fundamental, fruto dos dons fundacionais impressos por Deus em sua alma: a chamada de todos os fiéis cristãos à santidade em seu próprio estado e circunstâncias de vida, e em particular a vocação – missão dos fiéis leigos de santificar todas as nobres atividades humanas. Qualifica-a de tarefa simples e normal, já que não sai dos caminhos da vida profissional e social comum, mas deve se desenvolver no interior dos deveres e obrigações de cada um”[77].

    A Santa Missa projeta-se de alguma forma, em toda a vida dos fiéis. “Muito unidos a Jesus na Eucaristia, conseguiremos uma contínua presença de Deus, em meio às ocupações normais próprias da situação de cada um neste peregrinar terreno, procurando o Senhor em todos os momentos e em todas as coisas”[78]. Esta coerência cristã que as celebrações litúrgicas requerem foi recordada pelo Papa Francisco: “Celebrar o verdadeiro culto espiritual quer dizer entregar-se a si mesmo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (cfr. Rm 12, 1). Uma liturgia separada do culto espiritual correria o risco de esvaziar-se, de perder sua originalidade cristã e cair em um sentido sagrado genérico, quase mágico, e em um esteticismo vazio. Sendo ação de Cristo, a liturgia impulsiona a partir de dentro a revestir-se dos mesmos sentimentos de Cristo, e neste dinamismo toda a realidade se transfigura”[79].

    Este breve percurso que fizemos da liturgia da Santa Missa guiados por São Josemaria ajuda-nos a compreender porque ele afirmava: “Assistindo à Santa Missa, aprendemos a privar com cada uma das Pessoas divinas”[80]. Na celebração, os fiéis podem se dirigir ao Pai, em Cristo pela ação do Espírito Santo: neste diálogo com as Pessoas divinas, sua vida cristã cresce. Um diálogo ao qual convida cada gesto e palavra própria do rito, e que ganham assim um significado especial. Vemo-nos estimulados a zelar por eles com atenção, com anseio de seguir este caminho de amor. "Não ama a Cristo quem não ama a Santa Missa, quem não se esforça por vivê-la com serenidade e sossego, com devoção e carinho. O Amor converte os enamorados em pessoas de sensibilidade fina e delicada; leva-os a descobrir, para que se esmerem em vivê-los, pormenores às vezes insignificantes, mas que trazem a marca de um coração apaixonado”[81]


    [1] São Josemaria, É Cristo que passa. n. 84.

    [2] Cfr Gl 2,20.

    [3] A respeito do modo como São Josemaria compreendia esta identificação através da Eucaristia, cfr. Ángel García Ibáñez, “Eucaristia” em José Luis Illanez (coord.), Diccionario de San Josemaria Escrivá de Balaguer, Ed. Monte Carmelo, Burgos, 2013, p. 463

    [4] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 88

    [5] Percebe-se neste aspecto uma sintonia de fundo entre o pensamento de São Josemaria e o ensinamento de Bento XVI: “Aprendemos também o que significa celebrar a Eucaristia de maneira adequada: trata-se de um encontro com o Senhor, que por nós se despoja da sua glória divina, se deixa humilhar até à morte de Cruz e assim se entrega a si mesmo a todos, a cada um de nós. É muito importante para o sacerdote a Eucaristia cotidiana, na qual se expõe sempre de novo a este mistério; coloca-se sempre de novo nas mãos de Deus, experimentando ao mesmo tempo a alegria de saber que Ele está presente, me acolhe, me anima, me carrega sempre de novo e me dá a mão, entregando-se a si mesmo a mim. A Eucaristia deve tornar-se para nós uma escola de vida, onde aprendemos a doar a nossa própria vida”. Bento XVI, Homilia em uma ordenação sacerdotal, 7/05/2006.

    [6] Ernst Burkhart – Javier López, Vida cotidiana y santidad en la enseñanza de san Josemaria. Estudio de teología espiritual, Rialp, Madri, 2010, vol. I, p. 555.

    [7] Como já foi dito, esta homilia foi publicada no livro É Cristo que passa; compreende os nn. 83-94. Sobre a história da redação desta homilia pode-se consultar as pp. 485-490 da Edición crítico-histórica elaborada por Antonio Aranda (vid. Nota 1).

    [8] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 88

    [9] Cfr. São Josemaria, Caminho. Edição comentada por Pedro Rodríguez, Quadrante, São Paulo, 2014, n. 529, página 580.

    [10] Cfr. José Antonio Abad, “Liturgia y vida espiritual”, em José Luis Llanes (Coord), Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer, p. 757.

    [11] Pio XII, Carta encíclica Mediator Dei.

    [12] Concílio Vaticano II, Const. Sacrosanctum concilium, n. 7. A mesma ideia foi anotada no Catecismo da Igreja Católica, nn. 1070, 1089. É interessante notar que o texto latino diz: “Merito igitur Liturgia habetur veluti Iesu Christi sacerdotalis muneris exercitatio, in qua per signa sensibilia significatur et modo singulis proprio efficitur...”Entendemos que o antecedente de qua é exercitatio e assim fica claro que as ações litúrgicas constituem exercício do sacerdócio de Cristo por meio de sinais sensíveis.

    [13] Cfr. Félix María Arocena, “Liturgia: visión general”, em José Luis Llanes (coord.) Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer, p. 747.

    [14] São João Paulo II, Carta Apost. Vicesimus quintus annus, 4/12/1988, n. 7.

    [15] Catecismo da Igreja Católica, n. 1153.

    [16] Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Sacrosanctum concilium, n. 33.

    [17] São Josemaria, Caminho, n. 543.

    [18] Felíx María Arocena, “Liturgia: Visión general”, em José Luis Llanes (coord.), Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer, p. 749

    [19] Cfr. São Josemaria, É Cristo que passa, n. 85.

    [20] Ernst Burkhart – Javier López. Vida cotidiana y santidad en la enseñanza de san Josemaria, vol. I, p. 556.

    [21] Concilio de Trento, Decr. De SS. Eucharistia, cân. 1: DH, 1651; Cfr. cap. 3: DH, 1641.

    [22] São João Paulo II, Carta Apost. Mane nobiscum Domine, 7/10/2004, n. 16.

    [23] Javier Echevarría, Carta 6/10/2004, n. 5.

    [24] Cfr. São João Paulo II, Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, 17/09/2003, n. 11.

    [25] São Josemaria, Anotações de uma reunião familiar, 6/01/1972.

    [26] São Josemaria, “Sacerdote para a eternidade”, em Amar a Igreja..

    [27] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 91.

    [28] São Josemaria, Forja, n. 834.

    [29] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 88.

    [30] Javier Echevarría, Recordações sobre Mons. Escrivá, Editora Quadrante, São Paulo, 2001.

    [31] São João Paulo II, Discurso à Plenária da Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos sacramentos, 21/09/2001.

    [32] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 88.

    [33] Cfr. Missal Romano, “Instrução Geral do Missal Romano”, n. 55. Daqui em diante IGMR.

    [34] Javier Echevarria, Recordações sobre Mons. Escrivá, Editora Quadrante, São Paulo, 2001.

    [35] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 89.

    [36] Félix María Arocena, “Liturgia: visão geral”, em José Luis Llanes (coord, Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer, p 753.

    [37] Bento XVI, Discurso no encontro com os sacerdotes da diocese de Albano, 31/08/2006.

    [38] Félix María Arocena, “Liturgia: visión general”, em José Luis Llanes, (coord), Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer, p. 748.

    [39] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 89ª.

    [40] Bento XVI, Audiência geral, 23/05/2012.

    [41] Cfr. Missal Romano, IGMR, n. 73.

    [42] Cfr. Missal Romano, IGMR, n. 78.

    [43] Cfr. ”Pregare ad Orientem versus”, Notitiae. 322, vol. 29/5 (1993) 249.

    [44] “Na Igreja Antiga, havia o costume de o Bispo ou o sacerdote, após a homilia, exortar os crentes exclamando: ‘Conversi ad Dominum – agora voltai-vos para o Senhor’. Isto significava, antes de mais, que eles se viravam para o Oriente – na direção de onde nasce o sol como sinal de Cristo que volta, saindo ao seu encontro na celebração da Eucaristia. Nos lugares onde isso, por qualquer razão, não era possível fazer-se, os crentes voltavam-se para a imagem de Cristo na ábside ou para a cruz, a fim de se orientarem interiormente para o Senhor. Com efeito, em última análise era deste fato interior que se tratava: da conversio, de voltar a nossa alma para Jesus Cristo e, n’Ele, para o Deus vivo, para a luz verdadeira”. Bento XVI, Homilia na Vigília pascal, 22/03/2008.

    [45] São Josemaria, Instrucción, 9-I-1935, n. 254, em AGP, série A. 3, 90-1-1; citado em Félix María Rocena, “Liturgia: visión general”, em José Luis Llanes (coord.), Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer, p. 750.

    [46] Bento XVI insistiu neste ponto. Em 2002, o então Cardeal Joseph Ratzinger afirmava que “a representação do sacerdote se realiza no ato sacramental, no qual com respeito e estremecimento pode-se falar e atuar em nome de Cristo, mas isto não quer dizer que devamos olhar para o sacerdote, como se ele fosse em sua figura física um ícone de Cristo. Ele deve tentar tornar-se tal por sua vida, e precisamente para isso, ele, junto com os fiéis, olhe para Cristo para poder imitá-lo. O traslado da representação de Cristo para a forma física do sacerdote, que Padre Farnés e outros nos oferecem, leva à falsa divinização do sacerdote, da qual deveríamos livrar-nos o quanto antes. Não, é cada vez mais insuportável para mim ver como se deixa a cruz a um lado para que se possa ver o sacerdote. O caráter essencial da Igreja como uma procissão, como um caminhar orante rumo ao Senhor, fica assim obscurecido de modo inadequado”. Joseph Ratzinger, “resposta do cardeal Joseph Ratzinger a Père Farnés”, Phase 252 (2002) – 511-512.

    [47] Francisco,Audiência geral, 5-II-2014.

    [48] São Josemaria, “Sacerdote para a eternidade”, em Amar a Igreja, 80.

    [49] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 89.

    [50] Ibid. Em outro momento, faz uma consideração similar, envolvendo inclusive toda a criação neste movimento de louvor: “quando celebro a Santa Missa só com quem me ajuda, também está lá o povo. Sinto junto de mim todos os católicos, todos os crentes e também os que não creem. Estão presentes todas as criaturas de Deus – a terra e o céu e o mar e os animais e as plantas – a Criação inteira dando glória ao Senhor. E especialmente, direi com palavras do Concílio Vaticano II, unimo-nos em sumo grau ao culto da Igreja celestial, comunicando e venerando sobretudo a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, de São José, dos santos Apóstolos e Mártires e de todos os santos”. São Josemaria “Sacerdote para a eternidade”, em Amar à Igreja, p. 75.

    [51] Joseph Ratzinger, Convocados en el camino de la fe, Ed. Cristiandad, Madri, 2004, p. 172.

    [52] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 88.

    [53] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 145.

    [54] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 90. É a oração de intercessão que, em palavras do Papa Francisco “estimula-nos particularmente à entrega evangelizadora e nos motiva a procurar o bem dos outros (...). Interceder não nos afasta da verdadeira contemplação, porque a contemplação que deixa de fora os outros é um engano”. FRANCISCO, Ex. apost. Evangelii Gaudium, 24/11/2013, n. 281.

    [55] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 90.

    [56] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 90.

    [57] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 90.

    [58] Missal Romano, IGMR, n. 79d.

    [59] O Papa Paulo VI sugeriu, em 22 de janeiro de 1968, esta rubrica sobre o modo de pronunciar as palavras do Senhor (Cfr. Annibale Bugnini, La reforma de la liturgia (1948-1975), 408, nota 15). Deste modo “sublinha-se a transcendência do momento da consagração, a expressividade e a diferença destas palavras com relação às outras, como vértice que são de toda a oração eucarística e, inclusive, de toda a celebração”. Félix María Arocena, En el corazión de la liturgia. La celebración eucarística, Palabra, Madri, 1999, p. 178.

    [60] São João Paulo II, Carta Dominicae Cenae, 24/02/1980, n. 8.

    [61] São Josemaria “Sacerdote para a eternidade”, em Amar a Igreja, p. 74.

    [62] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 90.

    [63] Catecismo da Igreja Católica, n. 2639.

    [64] Catecismo da Igreja Católica, n. 1361.

    [65] São Josemaria, Forja, n. 541.

    [66] Ernst Burkhart – Javier López, Vida cotidiana y santidad en la enseñaza de san Josemaria, vol. I, p. 557.

    [67] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 87.

    [68] Cfr. José Antonio Abad, “Liturgia y vida espiritual”, em José Luis Illanes (coord.),Diccionario de san Josemaria Escrivá de Balaguer, pp. 758-759.

    [69] São Josemaria, Apuntes íntimos, Cuaderno V, n. 496, 23/12/1931; citado em Caminho.Edição comentada por Pedro Rodríguez, comentário ao n. 536, p. 588.

    [70] Ibid, p. 587.

    [71] Cfr.Missal Romano, IGMR, n. 80.

    [72] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 91.

    [73] “Os que recebem a Eucaristia estão unidos mais intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo os une a todos os fiéis em um só corpo, a Igreja”, Catecismo da Igreja Católica, n. 1396.

    [74] Bento XVI, Discurso à Cúria romana, 22/12/2005.

    [75] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 91.

    [76] Ibid, n. 91.

    [77] São Josemaria, Es Cristo que pasa, Edición critico-histórica, comentário ao n. 91d, p. 512

    [78] São Josemaria, Carta 2/02/1945, n. 11, citada em Ernst Burkhart – Javier Lópes, Vida cotidiana y santidad en la enseñanza de san Josemaria, vol. I, pp. 565-566

    [79] Francisco, Mensagem aos participantes no Simpósio “Sacrosanctum Concilium, Gratidão e compromisso por um grande movimento eclesial”, 18/02/2014.

    [80] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 91.

    [81] Ibid, n. 92.

    Juan José Silvestre

    Manuel Silveira