“A santidade de algumas pessoas pode mudar o mundo”

Fadi Sarraf nasceu na Síria e trabalhou como engenheiro no Canadá, e foi ordenado no dia 22 de maio. Fala sobre as suas esperanças e expectativas na nova vida como sacerdote.

Como é ser ordenado no meio de uma pandemia?

A pandemia acrescentou um toque especial à ordenação em diferentes perspectivas. A ordenação diaconal, aqui em Roma no mês de novembro passado, foi celebrada sem que nenhum convidado pudesse assistir à cerimônia. Isso tornou-a especial, porque pudemos estar unidos ao sofrimento de muitas pessoas que estão separadas dos seus entes queridos, que não os podem ver, às vezes apesar de estarem na mesma cidade. Por isso, apesar de ter sido difícil para nós não termos as nossas famílias presentes, foi uma forma de nos unirmos a todo o sofrimento que estava acontecendo no mundo.

Ao mesmo tempo, a pandemia mostra como Deus é importante na vida de tantas pessoas. Muitas estão passando por momentos difíceis e a sua fé permite-lhes encontrar um sentido para este sofrimento, transformando-o numa oportunidade para servir os outros. Existem tantos bons exemplos de pessoas que se sacrificam, como médicos, enfermeiros, pessoas que trabalham em supermercados, farmácias, pessoal de limpeza, tantas pessoas que se excedem no seu dever de serviço para ajudar os outros, para tornar a vida deles mais agradável.

De certo modo, este é o trabalho de um sacerdote. Servir os outros é o principal objetivo do sacerdote, aproximar as pessoas de Deus, ajudá-las a descobrir o amor de Deus em sua vida diária. Desta forma, a pandemia acentua a importância do serviço e também a necessidade que as pessoas têm de encontrar o amor, de encontrar Deus nas suas vidas.

É muito especial ser ordenado durante a pandemia porque muitas pessoas ao nosso redor precisam ouvir uma mensagem de esperança. Uma parte do trabalho de um sacerdote é transmitir a esperança que temos: descobrir que Deus nos ama, se preocupa conosco, nos acompanha em todos os momentos da nossa vida. E tudo vai melhorar porque Deus nos ama. “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”, como afirma São Paulo (Rm, 8,28). É muito emocionante para um sacerdote recordar às pessoas essa mensagem de esperança que Cristo trouxe.

Tem alguns objetivos específicos?

Desde que anunciei que ia ser ordenado sacerdote, muitas pessoas têm escrito pedindo orações, e também oferecendo-me as suas. Eu até guardo uma lista dos pedidos para não esquecer ninguém. O meu principal objetivo é tentar que mais pessoas no mundo descubram o amor de Deus por elas, e que todos nós que seremos ordenados juntos, sejamos precisamente esse instrumento do amor de Deus, uma ponte entre o homem e Deus, para ajudar as pessoas a descobrir a paz e o amor nas suas vidas.

Sofro muito ao observar a situação na Síria e o drama dos refugiados em todo o mundo. A situação na Índia, com tantas pessoas sofrendo e morrendo de COVID, está muito presente nas minhas orações. Um grande objetivo meu é que as pessoas descubram a paz do amor de Cristo nos seus corações e que muitas possam encontrar os seus entes queridos nestes tempos. Também tenho grandes esperanças e sonhos de que muitos canadenses se aproximem de Deus e descubram a beleza do espírito do Opus Dei, encontrar Deus na sua vida diária.

Teve oportunidade de cumprimentar o Papa pessoalmente? O Prelado disse-lhe alguma coisa que gostasse de partilhar?

Devido à COVID, não consegui cumprimentar o Papa pessoalmente, espero ter oportunidade antes de ir embora, apesar de não ser fácil, mas fui várias vezes ao Ângelus de domingo e audiências, e assim consegui estar perto dele.

Tive uma bonita conversa com o Prelado do Opus Dei há duas semanas que me disse muitas coisas maravilhosas, mas as duas que me impressionaram mais são mensagens muito simples. Por um lado, disse-me para não esquecer que a santidade de poucas pessoas pode mudar o mundo, repetindo as palavras de São Josemaria, que “estas crises mundiais são crises de santos”. Recordou-me que os nossos esforços por amar mais a Deus, ter mais intimidade com Ele, podem mudar o mundo. Disse, meio de brincadeira, que se as coisas não estão piores no mundo, é porque muitas pessoas rezam. Sem oração, o mundo estaria em pior estado. E, relacionado com isso, lembrou o poder da Eucaristia, que cada Eucaristia tem uma dimensão que transcende o espaço e o tempo, que chega a qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, a qualquer pessoa que tenha existido, porque está unida ao sacrifício de Cristo na Cruz. Por isso, animou-me a aprofundar o sentido e a importância da Eucaristia e como tal a celebrar a Eucaristia o melhor que puder. E este é o meu trabalho mais importante, celebrar a Eucaristia e ajudar as pessoas a reconciliarem-se com Deus através do sacramento da Confissão.

Algumas palavras finais?

Eu já mencionei algumas das características do sacerdote, mas gostaria de acrescentar a atitude de abertura. O sacerdote está para ajudar todos, não apenas católicos, não apenas cristãos. Este é o exemplo que vemos de Nosso Senhor no Evangelho. Apesar de a Sua missão principal ser dirigida aos judeus, Ele estava aberto a todos, e a mensagem do sacerdote, a mensagem cristã, não é só para uns poucos, mas para todos. O sacerdote deve acolher todas as pessoas e fazer com que qualquer pessoa com quem entre em contato possa descobrir o amor de Deus e a forma como pode corresponder a esse amor.

Finalmente, gostaria de agradecer a todas as pessoas que me ajudaram ao longo destes anos de tantas formas: amigos, família e todos os que estão rezando por mim. Isso é realmente animador e dá-me muito consolo e força saber que tantas pessoas rezam por mim e me acompanham no meu caminho. Também sou muito agradecido por todo o apoio que recebi nestes anos, mas em especial nestes últimos meses.


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