Sexta-feira Santa de 2018: homilia do Prelado

Mons. Ocáriz disse na sua pregação que “a Crucifixão nos revela que onde parece haver só fraqueza, Deus manifesta o seu poder sem limites”.

Homilia de Sexta-feira Santa. Santa Maria da Paz, 30 de março de 2018

Liturgia da Palavra: Is 52, 13-15; 53, 1-12; Sal 31; Heb 4, 14-16; 5, 7-9; Jo 18, 1-40; 19, 1-42

A liturgia de Sexta-feira Santa situa-nos diretamente face ao grande mistério cristão da Cruz e do Crucificado

No Evangelho contemplámos o Senhor detido, no jardim das oliveiras, por essa coorte chefiada por Judas; vimos como foi conduzido diante do sumo sacerdote Caifás e como, depois de ser interrogado, recebe uma bofetada injusta de um dos servos. Mais tarde, na presença de Pilatos, o povo gritou: «Crucifica-O, crucifica-O!» (Jo 19, 6); e imediatamente Jesus é açoitado e coroado de espinhos. Podemos perguntar-nos: Porquê tudo isto? O Evangelho continua: Jesus carrega com o madeiro diante das pessoas queamava; é despojado das suas vestes e, aparentemente, também da sua dignidade; e no momento da Crucifixão, o Senhor dirige estas palavras a Deus Pai, recolhidas por S. Mateus: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mt 27, 46). Perguntamo-nos novamente: porquê a Cruz?

Embora só consigamos entendê-lo em parte, a Crucifixão revela-nos que onde parece haver só fraqueza, Deus manifesta o seu poder sem limites; onde vemos fracasso, derrota, incompreensão e ódio, precisamente aí, Jesus revela-nos o grande poder de Deus: o poder de transformar a Cruz em expressão de Amor. Esta lógica da fé aprecia-se na passagem da primeira para a segunda leitura. Enquanto que Isaías nos apresenta esse rosto «sem aspeto agradável, desprezado e repelido pelos homens» (Is 53, 2-3), a Epístola aos Hebreus proclama que aí encontramos «o trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia» (Heb 4, 16).

A CRUCIFIXÃO REVELA-NOS QUE ONDE PARECE HAVER SÓ FRAQUEZA, DEUS MANIFESTA O SEU PODER SEM LIMITES

Foi esta a experiência de um dos condenados que estavam ao lado de Cristo no Gólgota. O “bom ladrão” experimenta no seu maior fracasso e debilidade como a Cruz de Jesus se torna lugar poderoso em que se sabe perdoado e amado: «Hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). Na Cruz, ouvimos pronunciar a palavra Paraíso.

De instrumento de tortura, de violência e de desprezo, a Cruz transforma-se em meio de salvação, em símbolo de esperança, pois converteu-se em manifestação do amor gratuito e misericordioso de Deus, que para nós se torna presente – de modo eminentemente eficaz – nos sacramentos. Não deixemos de recorrer à misericórdia divina na Confissão; não nos poupemos a esforços para participar frequentemente na Eucaristia. Nos sacramentos veremos também, como refere S. Josemaria, como Cristo "se entrega à morte com a plena liberdade do Amor". Olhar para o Crucificado é contemplar a nossa esperança.

O Papa Francisco disse aos jovens: «não deixem que lhes roubem a esperança!». Por isso, faço o convite de experimentar o poder transformador do Amor de Deus, que na Cruz abraça o débil e o enche de esperança. Fazer nosso o símbolo da Cruz significa converter-nos, onde quer que estejamos, em sinal concreto do amor de Deus. Nas famílias, nas amizades e na futura profissão, todos podem ser sinal concreto de esperança.

A Igreja dirige hoje a sua atenção para o Lignum Crucis, a árvore da Cruz. Na liturgia, rezamos: «Adoramos, Senhor, a Vossa Cruz,louvamos e bendizemos a Vossa ressurreição gloriosa: pela Cruz, veio a alegria ao mundo inteiro». A adoração da Santa Cruz é um gesto de fé e proclamação da vitória de Jesus. É também um gesto de esperança, que provém da experiência do poder transformador do amor de Deus.

Acabamos, pedindo a Nossa Senhora que nos ajude também a permanecer perto da Cruz, pois aí nos é revelada a origem da esperança que, como cristãos, desejamos oferecer aos nossos contemporâneos.