Uma viagem para a história. O Papa na Turquia e no Líbano

De 27 de novembro a 2 de dezembro, o Papa Leão XIV realizou a sua primeira viagem apostólica à Turquia e ao Líbano, deixando mensagens de paz, diálogo e fraternidade.

Papa Leão XIV no Líbano

Papa Leão XIV na Turquia


Discurso às autoridades civis e religiosas (Beirute, domingo, 30 de novembro)

Durante o encontro com as autoridades em Beirute, o Papa afirmou que o Líbano é uma terra onde a paz «é um desejo e uma vocação». Destacou a resiliência de um povo capaz de se levantar mesmo após crises profundas e apelou à recuperação de uma «linguagem de esperança» que permita reconstruir a confiança e o bem comum.

Diante do sofrimento acumulado nos últimos anos, Leão XIV pediu para interrogar a própria história para descobrir a fonte de uma força que «nunca deixou o povo caído no chão». Enfatizou que a verdade progride através do encontro entre aqueles que sofreram feridas e injustiças e que a paz não pode ser reduzida a um equilíbrio frágil, mas à vontade real de conviver e trabalhar por um futuro compartilhado. Nesse contexto, destacou a vitalidade do país: «O Líbano pode orgulhar-se de uma sociedade civil vivaz, bem formada, rica em jovens capazes de expressar os sonhos e as esperanças de todo um país».

O Papa também incentivou cristãos e muçulmanos a colaborarem para que nenhum jovem seja obrigado a emigrar e destacou o papel decisivo das mulheres e das novas gerações na renovação da sociedade libanesa.

Ao concluir as suas palavras, Leão XIV evocou o amor do povo libanês pela música e pela dança, sinal de alegria e comunhão. Explicou que esta tradição revela que a paz não é apenas fruto do esforço humano, mas um dom de Deus que transforma o coração a partir de dentro. «Quem dança avança com leveza..., harmonizando os seus passos com os dos outros», afirmou, para ilustrar como o Espírito nos impele a ouvir e respeitar o outro. Convidou assim a deixar crescer esse desejo de paz que já pode renovar a convivência numa terra «que Deus ama profundamente e continua a abençoar».

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Domingo, 30: Oração na Catedral Arménia Apostólica (Istambul)

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Domingo, 30: Discurso no final da solene Divina Liturgia (Istambul)

Ao terminar a Divina Liturgia – nome da Santa Missa nas igrejas orientais –, o Papa lembrou que a fé do Credo Niceno «nos une numa comunhão real», mesmo após séculos de mal-entendidos. O Pap destacou o gesto decisivo de Paulo VI e do patriarca Atenágoras, que há sessenta anos deixaram para trás as excomunhões de 1054, abrindo um caminho de reconciliação que hoje continua a sustentar o diálogo e a aproximação entre católicos e ortodoxos.

Olhando para o presente, Leão XIV enumerou três desafios comuns: trabalhar juntos pela paz, enfrentar a crise ecológica e promover um uso responsável e acessível das novas tecnologias. Ele insistiu que “a paz é um dom de Deus” e pediu que este encontro impulsionasse novos passos de colaboração entre as Igrejas para o bem comum.

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Resumo da Missa no recinto 'Volkswagen Arena' (Istambul, sábado, 29 de novembro)

Texto da homilia da Missa.


Encontro ecuménico de oração (İznik, sexta-feira, 28 de novembro)

Durante a comemoração dos 1700 anos do Concílio de Niceia, o Papa recordou que nesse evento foi afirmada a fé no Deus que “se fez como nós para nos tornar participantes da natureza divina”, uma verdade decisiva também hoje. Assinalou que Niceia defendeu a unidade entre o humano e o divino em Cristo, fundamento que continua a orientar a vida das Igrejas.

Sublinhou que a confissão partilhada – “em um só Senhor, Jesus Cristo… da mesma natureza do Pai” – já constituiu um vínculo real entre os cristãos e apelou ao avanço no diálogo, no amor recíproco e na escuta da Palavra para superar as divisões e oferecer “um testemunho credível do Evangelho” ao mundo.

Perante um cenário global ferido pela violência, afirmou que existe uma “irmandade universal” que nenhuma fronteira pode anular e rejeitou o uso da religião para justificar conflitos. Agradeceu ao Patriarca Bartolomeu e aos líderes cristãos presentes, pedindo que esta comemoração gerasse frutos de reconciliação, unidade e paz.

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Saudação às “Pequenas Irmãs dos Pobres” (Istambul, sexta-feira, 28 de novembro)

Durante a sua visita à residência das Pequenas Irmãs dos Pobres, o Papa agradeceu a receção e destacou a fraternidade que sustenta esta missão.

Dirigindo-se aos residentes, alertou que numa sociedade dominada pela pressa e a eficiência «perdeu-se o sentido de respeito pelas pessoas idosas». Reivindicou o seu papel insubstituível, recordando que «os idosos são a sabedoria de um povo, uma riqueza para os netos, para as famílias e para toda a sociedade». Sublinhou que cuidar os mais velhos exige muita paciência, proximidade e muita oração, e elogiou aqueles que os acompanham em cada dia com dignidade e ternura.

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Discurso do Santo Padre na Catedral do Espírito Santo (Istambul, sexta-feira, 28 de novembro)

Leão XIV anima a Igreja na Turquia a descobrir a força fecunda da pequenez.

Nesta sua primeira viagem apostólica, o Papa Leão XIV visitou Istambul e dirigiu uma mensagem à pequena comunidade católica da Turquia, convidando-a a viver a “força da pequenez” e a renovar a esperança.

Na Catedral do Espírito Santo recordou as profundas raízes cristãs destas terras, desde Abraão e dos Apóstolos até aos Padres da Igreja, e destacou a importância histórica e ecuménica do Patriarcado Ecuménico.

O Papa sublinhou que, embora minoritária, a Igreja na Turquia é fecunda como semente e fermento do Reino, e convidou os seus membros a manter uma atitude espiritual de confiança, criatividade pastoral e abertura ao Espírito.

Destacou três tarefas fundamentais: o diálogo ecuménico e inter-religioso num país ponte entre culturas; a transmissão da fé num contexto onde o cristianismo é minoritário; e a atenção aos migrantes e refugiados, um desafio humanitário fundamental para a região. Pediu também uma inculturação autêntica, especialmente aos missionários, lembrando que o Evangelho se comunica assumindo a língua e os costumes do povo.

Por ocasião do aniversário do Concílio de Niceia, apresentou três desafios teológicos: redescobrir a essência da fé e a centralidade do Credo; reconhecer plenamente a divindade de Cristo diante de um “novo arianismo” que o reduz a uma figura admirável, mas não ao Deus vivo; e desenvolver a doutrina, expressando-a em categorias compreensíveis para o nosso tempo, seguindo a visão de Newman.

Por fim, evocou a figura de São João XXIII, antigo delegado apostólico na Turquia, como exemplo de proximidade, humildade e alegria missionária. Concluiu animando a comunidade a ser um pequeno rebanho corajoso, semeado como luz e fermento no meio de uma sociedade plural e necessitada de esperança.

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Encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático (Ancara, Palácio Presidencial, quinta-feira, 27 de novembro)

No seu primeiro encontro, o Papa Leão XIV destacou em Ancara o papel da Turquia como “ponte” entre culturas, religiões e continentes, sublinhando que a riqueza do país reside na sua diversidade interna e na sua vocação para o diálogo. O Pontífice pediu para promover uma “cultura do encontro” face à polarização global e à “globalização da indiferença”.

O Papa recordou a figura de São João XXIII – conhecido como o “Papa turco” – para insistir que os cristãos desejam contribuir para a unidade do país, e alertou sobre os riscos de uma evolução tecnológica que acentua as desigualdades se não for orientada para o bem comum. Defendeu também o valor central da família e reconheceu a crescente contribuição das mulheres para a vida social, profissional e política do país: «é fundamental honrar a dignidade e a liberdade de todos os filhos de Deus: homens e mulheres, compatriotas e estrangeiros, pobres e ricos. Todos somos filhos de Deus e isso tem consequências pessoais, sociais e políticas».

Num contexto internacional marcado por tensões, o Pontífice apelou para que não se cedesse à lógica da “terceira guerra mundial aos pedaços” e pediu que o país continuasse a ser um fator de estabilidade regional: «Hoje, mais do que nunca, precisamos de pessoas que promovam o diálogo e o pratiquem com firmeza e paciência». Concluiu, reafirmando que a Santa Sé deseja cooperar com todas as nações comprometidas com a paz, o desenvolvimento integral e a defesa da dignidade humana.

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Programa da viagem

O Papa Leão XIV está a realizar a sua primeira viagem apostólica à Turquia e ao Líbano. De quinta-feira, 27 a domingo, 30 de novembro visitará a Turquia, e na segunda-feira, 1 e terça, 2 de dezembro estará no Líbano. A viagem inclui paragens em Ancara, Istambul e İznik (a antiga Niceia) na Turquia, e Beirute, Annaya, Harissa e Bkerké no Líbano. O objetivo da viagem será promover o diálogo e a unidade entre os cristãos, bem como o diálogo inter-religioso numa região marcada por uma história rica e tensões atuais.

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No domingo, 23 de novembro, solenidade de Cristo Rei, o Papa publicou a Carta apostólica In unitate Fidei, como preparação para a sua viagem à Turquia e ao Líbano. Neste texto, Leão XIV faz uma chamada a renovar a profissão da fé centrada em Jesus Cristo, Filho único de Deus e verdadeiro Deus feito homem para a nossa salvação. A carta recorda a definição nicena – Cristo, «da mesma substância do Pai» – e sublinha o valor ecuménico do Credo, base comum para avançar na unidade dos cristãos.

Na Turquia, o Papa vai reunir-se com autoridades, visitar o Mausoléu de Atatürk e a Mesquita Azul em Istambul. Um ponto culminante será a celebração ecuménica em İznik, comemorando os 1700 anos do Concílio de Niceia, e a assinatura de uma Declaração Conjunta com o Patriarca Bartolomeu I.

No Líbano, o Pontífice rezará no porto de Beirute, afetado pela explosão de 2020, visitará o túmulo de São Charbel Maklouf em Annaya e reunirá com pacientes e pessoal do hospital para doentes mentais de Jal ed Dib. Terá também encontros com autoridades, clero e jovens, e presidirá uma Missa no passeio marítimo de Beirute.

A viagem, com os lemas “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” para a Turquia e “Bem-aventurados os que promovem a paz” para o Líbano, visa difundir uma mensagem de paz e diálogo numa região marcada por conflitos.

Nas últimas décadas, o Líbano recebeu duas visitas papais: João Paulo II em 1997 e Bento XVI em 2012, viagens marcadas por mensagens de paz e reconciliação. Francisco, embora tenha expressado repetidamente o seu desejo de ir, não pôde. Por sua vez, a Turquia recebeu Paulo VI em 1967, João Paulo II em 1979, Bento XVI em 2006 e Francisco em 2014, viagens centradas no diálogo inter-religioso e na convivência.

Agora, os dois países vão receber o Papa Leão XIV, na visita que decorre de 27 de novembro a 2 de dezembro de 2025.