União ao Papa e aos Bispos

Apresentamos uma tradução de um excerto do capítulo 5 do livro “Itinerários de vida cristã”, de D. Javier Echevarría.

Pelo menos desde o século terceiro, a liturgia latina da Igreja inclui nas orações da Missa uma petição explícita pelo Romano Pontífice e pelo bispo do lugar. Manifesta-se desse modo que a unidade da Igreja, expressa e realizada de maneira eminente na Eucaristia, implica necessariamente a união com o Papa e com os bispos. Cristo fundou a Igreja e quis que os fiéis se sentissem e soubessem irmãos, participantes da condição de filhos de Deus e responsáveis de uma missão comum.

Nosso Senhor dispôs ao mesmo tempo que a Igreja fosse uma comunidade estruturada, em que houvesse uma diversidade de ministérios, carismas e tarefas que contribuíssem para a edificação do conjunto. E como parte essencial dessa estrutura, estabeleceu particularmente o ministério episcopal, a realidade do colégio dos bispos, sucessores dos Apóstolos, com a sua Cabeça e sob a sua Cabeça, que é o Bispo de Roma, sucessor de S. Pedro. Esta continuidade apostólica instituída por Cristo, esta ininterrupta cadeia que de geração em geração sobe até aos primeiros Doze, dá razão da autoridade do Papa e dos bispos na Igreja. Os bispos recebem de Cristo a plenitude do sacramento da ordem.

Cada porção do Povo de Deus tem no seu bispo o fundamento visível da sua unidade e o primeiro responsável da edificação, segundo Cristo, dos fiéis, com a cooperação dos presbíteros e dos diáconos. Compete ao bispo a missão de anunciar o Evangelho em nome e representação de Cristo. O bispo é administrador da graça, sobretudo na acção eucarística, que ele mesmo realiza, ou que os presbíteros celebram em comunhão com ele. A cada bispo corresponde, além disso, governar, como vigário de Cristo, a comunidade que lhe está confiada, impulsionando – com as sua exortações, conselhos a mandatos – a vibração apostólica e o anseio de todos pela santidade.

O Bispo de Roma, o Romano Pontífice, Cabeça do Colégio Episcopal, é Pastor da Igreja universal, pai comum de todos os cristãos, rocha que garante a contínua fidelidade da Igreja à verdade do Evangelho. Como lembra o Concílio Vaticano II, o Papa, é “princípio e fundamento perpétuo e visível de unidade, tanto dos bispos como da multidão dos fiéis”.

O Papa e os outros bispos estão chamados a gastar-se pelas necessidades dos fiéis, fazendo suas as palavras de S. Paulo: «Quem desfalece sem que eu desfaleça? Quem tem um deslize, sem que eu me abrase de dor?» Encarnando os ensinamentos da parábola evangélica do Bom Pastor, actuam, não como o assalariado, o que não é pastor e ao qual não pertencem as ovelhas, que nos momentos de perigo foge e abandona o rebanho, mas como pastor verdadeiro que dá a vida pelas suas ovelhas.

Se se quisesse caracterizar com uma palavra o espírito que define o ministério eclesiástico e, de modo particular, o ministério episcopal, seria, sem dúvida alguma, a palavra serviço: serviço, em primeiro lugar, a Cristo, à sua Pessoa, à sua doutrina e aos seus sacramentos, já que na Igreja, os Pastores foram constituídos, não para falarem de si mesmos, mas para apresentarem o eco fiel da palavra de Jesus e para serem administradores, na sua grei, dos canais, através dos quais chegam a graça e a verdadeira vida, serviço também, e consequentemente, aos cristãos, aos irmãos na fé que Nosso Senhor confia aos seus cuidados.

A autoridade e o poder que os Pastores exercem na Igreja só se entende adequadamente dentro de uma lógica de obediência ao mandato recebido de Cristo. Implica, com efeito, uma capacidade e uma posição que estes ministros de Deus recebem gratuitamente como dom, como tarefa excelente e não merecida, a que está unido o mandato imperativo de a assumir e desempenhar em proveito dos outros. Isto exige dos Pastores esquecimento de si mesmos e entrega efectiva à comunidade cristã; e dos fiéis, consciência do dom que Cristo, através dos Pastores como seus ministros, presenteia ao conjunto da Igreja para lhe facilitar o caminho da santidade. É Nosso Senhor quem constitui a hierarquia eclesiástica por meio do sacramento da Ordem e quem a assiste com o envio do Espírito Santo. Escutá-la significa escutar a Cristo, que nos fala através dos seus representantes. Amá-la implica amar a Cristo, que se torna presente através desses ministros.

O último Concílio Ecuménico quis sublinhar – como lembrava antes – que, pelo Baptismo, todos os fiéis se convertem realmente, não apenas em seguidores de Cristo, mas em membros do seu Corpo místico, participantes do seu sacerdócio. Todos os baptizados, com efeito, receberam o sacerdócio comum dos fiéis, em virtude do qual estão chamados a cooperar na missão que Ele veio realizar à terra. Cada qual cumprirá esta missão do modo que lhe for próprio, de acordo som a sua vocação pessoal, mas todos devem levá-la a cabo unidos estritamente com os pastores, que receberam – pelo sacramento da Ordem – o sacerdócio ministerial.

Conhecer com profundidade o mistério da Igreja leva a aumentar o nosso amor para com Ela e a desejar servi-la como filhos cada vez mais leais. De igual modo, penetrar no desígnio divino que o ministério do Papa e dos outros bispos encerra leva necessariamente a agradecer à providência divina – ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo – os meios que dispôs para cuidar da fidelidade da nossa fé e da rectidão do nosso agir moral.

Cheios desta convicção de fé e caridade, os cristãos devem esforçar-se por manter bem fortes os vínculos de unidade da Igreja, com uma adesão viva e real ao Papa e aos outros bispos em comunhão com o Sucessor de Pedro. O afecto filial, forte e sincero, ao Romano Pontífice leva a amar e a rezar intensamente pelos bispos de todo o mundo.

Deste modo, com responsabilidade pessoal, com espontaneidade apostólica e com sentido eclesial, ganhará corpo o desejo que S. Josemaria gostava de formular assim: omnes cum Petro, ad Iesum per Mariam; todos, unidos a Pedro e à Igreja, e protegidos pela intercessão poderosa de Santa Maria, poderemos chegar – levando connosco a humanidade inteira – a Jesus, Amor dos nossos amores.

(Javier Echevarría, Itinerarios de vida cristiana, Planeta - Testimonios 2001, pag. 65-70)