Ao longo dos anos, testemunhei como Domitila tem sido a voz dos não nascidos, tornando-se uma verdadeira ativista pró-vida na comunidade de Kibera. Foi convidada para passar palavra em vários palcos, eventos e conferências. É simples, calma, humilde, mas poderosa ao transmitir o seu testemunho de como o acompanhamento real pode mudar a vida dessas mulheres africanas.
Maisha é uma fundação chilena que procura ser uma plataforma de acompanhamento para mulheres grávidas, mães e jovens em contextos vulneráveis. A formação de Maisha não foi tarefa fácil. A logística de montar uma organização fora do país, com recursos escassos e tanta necessidade, foi um dos maiores desafios. Acho que, sem a graça de Deus, teria sido impossível alcançar. Nossa Senhora tem sido muito generosa connosco, respondendo aos nossos inúmeros pedidos, seja para encontrar uma casa para as mulheres, doadores para financiar os projetos ou voluntárias dispostas a trabalhar noutro continente sem nenhuma outra recompensa fora da alegria de poder ajudar esta comunidade.
Do meu tempo em Nairobi, lembro-me com gosto das Missas na Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe. Rezei insistentemente a Maria para não nos deixar sozinhas nesta tarefa que, aos olhos humanos, parecia impossível de realizar aos 23 anos. E assim foi, ela nunca nos deixou sozinhas. Sempre estava lá quando precisávamos dela, guiando-nos, abrindo portas para levar a fundação para a frente e colocando no nosso caminho as pessoas que tornaram esse trabalho possível.
Como não nos emocionarmos com essas mulheres? Talvez Nossa Senhora se tenha condoído com o medo e a incerteza de receber a notícia de uma gravidez, que muitas das mulheres acolhidas por esse projeto vivenciaram. E é através do "não temas", do acolhimento e do carinho dado, que as histórias dessas mulheres se tornaram um "sim". Um "sim" esperançoso à maternidade que transforma a história de cada uma para um bem maior: a chegada de uma nova vida.

Em muitas ocasiões, Domitila e eu debatemos que a fundação não é apenas um trabalho profissional para nós, mas também um trabalho apostólico, algo que para ela é muito claro. Preocupa-se em pedir donativos não apenas para atender às necessidades básicas do local, mas também para financiar o transporte das mães para a Missa aos domingos, para organizar os batizados dos recém-nascidos ou para dar catequese a algumas delas. Apercebemo-nos de que, embora a necessidade material seja óbvia, a necessidade espiritual nunca pode ser posta de lado. Domitila é uma mulher que entendeu profundamente o significado de fazer apostolado e que nunca perde uma oportunidade de falar de Deus a quem se cruzar no seu caminho. Que dom ter a capacidade de transmitir a fé de uma forma tão simples, mas clara, de ver oportunidades de aproximar as pessoas de Deus em circunstâncias que nunca se imaginaria! Domitila inspirou muitas mulheres que já foram ajudadas a querer replicar esse acompanhamento a outras. Além do impacto geral alcançado com cada programa, o que mais nos marcou foram os testemunhos pessoais das mães que passaram pelo centro. Compartilho alguns deles: “Apesar de toda a luta e stress, Deus não me abandonou. O meu parto correu bem ontem à noite. Obrigada pelos seus conselhos, Domitila, foi como uma mãe para mim. Que Deus a abençoe muitíssimo”.
“Agradeço especialmente às voluntárias, às mães e a Domitila pelos seus conselhos, orientação e apoio ao longo do ano. Sem eles, eu não seria quem sou hoje. Por tudo o que fizeram por mim, que Deus abençoe o trabalho das vossas mãos. A melhor sensação do mundo é saber que finalmente deram um passo na direção certa. Um passo para o futuro onde é possível tudo o que nunca pensaste que fosse”. MM
“Aproveito esta oportunidade para agradecer a Deus por nos ter levado tão longe. Quero expressar sinceramente a minha gratidão pelo apoio e assistência extremamente generosos que me deram a mim e à minha família. A todas as voluntárias, por me darem muito afeto, cuidado e preocupação. Desde o dia em que me tornei parte da família Maisha, senti-me muito bem-vinda. Não consigo agradecer suficientemente. Significam muito para mim. Às minhas parteiras mzungus (europeias/americanas), que vieram quando eu mais precisava delas. Atarah e eu ficamos em dívida com elas. Agora que me vou embora, noto muita diferença em mim desde o dia em que aqui cheguei, vim como Grace e agora vou embora como Mama de Atarah. Ganhei muitas competências, por exemplo, costura e o melhor de tudo é que posso preparar a minha refeição chilena favorita para a minha família (Charquicán). É muito triste ir embora, mas ao mesmo tempo estou feliz por estar de volta a casa. Já passou algum tempo. Estou feliz por tê-las como parte da minha vida. Nunca esquecerei o vosso apoio e gentileza. O meu mais profundo OBRIGADO”.
“Desejo que a minha bebé se torne ótima pessoa no futuro. Desejo que conclua os sonhos que eu posso não ter alcançado. Espero que a nossa família seja unida e que vivamos juntos em paz e amor. Realmente admiro a fundadora da Fundação Maisha, Domitila Ayot. Ajudou verdadeiramente muitas raparigas que vivem em bairros de lata, dando-lhes a oportunidade de ver a bondade e o valor que têm. Um dia quero ser como ela. Quero mesmo realizar todos os meus sonhos, apesar de todos os desafios ao meu redor. Acredito em mim mesma. Quero trabalhar no duro para alcançá-los, não será benéfico apenas para mim, mas também para minha família e muitas outras pessoas que ajudarei no futuro”. VO
“Fizeram-me sentir em casa. Todas foram muito amorosas e atenciosas. As voluntárias de Maisha cuidaram muito bem de nós. Sem esquecer a Domitila, que foi a melhor mãe, mentora, modelo e avó. Fizeram-me sentir amada, cuidada e protegida. Gosto delas e sentirei muito a sua falta”. MO
Nunca deixaremos de nos surpreender com a forma como o acompanhamento pode fazer tanta diferença. Com a ajuda de Nossa Senhora, continuaremos a acolher cada mãe que bate à nossa porta a pedir ajuda.