Espírito do Opus Dei

O Opus Dei está presente na Igreja para fomentar a procura da santidade no meio do mundo. Expõem-se de seguida quatro traços do seu espírito, estreitamente unidos entre si: a filiação divina, a unidade de vida, a santificação do trabalho e a piedade doutrinal.

O Opus Dei está presente na Igreja para fomentar a procura da santidade no meio do mundo, também entre os sacerdotes.

Não há distinções entre fiéis leigos e ordenados, porque, como explica São Josemaria, “na Obra não há duas espécies de sócios, os clérigos e os leigos; todos são e se sentem iguais e todos vivem o mesmo espírito: a santificação no seu próprio estado” (Temas actuais do cristianismo, n. 69).

1.3.1. Filiação divina

«A filiação divina é o fundamento do espírito do Opus Dei», afirmava São Josemaria (Cristo que passa, n. 64). O Batismo faz-nos filhos de Deus em Cristo e inaugura uma relação baseada na confiança na Providência divina, na simplicidade no diálogo com Deus e com os outros, num profundo sentido da dignidade da pessoa e da fraternidade entre os homens, num verdadeiro amor cristão ao mundo e às realidades criadas por Deus, na serenidade e no otimismo.

A formação que o Opus Dei proporciona fortalece nos fiéis cristãos um vivo sentido da sua condição de filhos de Deus, que impregna cada uma das suas ações e os ajuda a conduzirem-se de acordo com a excelsa vocação com que foram chamados (cfr. Ef 4, 1).

São Josemaria sintetizou este sentido da filiação divina como um desejo ardente e sincero, terno e profundo, ao mesmo tempo, de imitar Jesus Cristo como Seus irmãos, filhos de Deus Pai e de estar sempre na presença de Deus; filiação que leva a viver vida de fé na Providência e que facilita a entrega serena e alegre à divina Vontade.

1.3.2. Unidade de vida

“Um só Senhor, uma só fé, um só Batismo” (Ef 4, 5), diz São Paulo para descrever a realidade da vida cristã: a vida dos seguidores de Cristo é, e deve ser, uma só vida, única, unitária. Trata-se de “uma condição essencial para os que procuram santificar-se no meio das circunstâncias correntes do trabalho, das suas relações familiares e sociais” (Amigos de Deus, n. 165).

Diante da tentação de que o cristão dissocie a sua relação com Deus do seu comportamento no trabalho, na família e nas relações sociais – erro que sublinhou a Constituição Gaudium et spes (n. 43) – São Josemaria pregava com vigor: “não há, não existe, nenhuma contraposição entre servir a Deus e servir os outros; entre o exercício dos nossos deveres e direitos cívicos e os religiosos; entre o empenho por construir e melhorar a cidade temporal e a convicção de que passamos por este mundo como um caminho que nos leva à pátria celeste” (Amigos de Deus, n. 165).

A formação que se dá na Obra conduz a orientar para Deus, através do cumprimento dos próprios deveres, as estruturas da sociedade; a lutar por manter sempre “uma unidade de vida, simples e forte, em que se fundem e compenetram todas as nossas ações” (São Josemaria, cit. em A. Vázquez de Prada,El Fundador del Opus Dei, vol. II, Rialp, Madrid 2002, p. 577).

Para crescer nesta unidade de vida são necessárias a confiança no Senhor e a sinceridade de vida – com a ajuda do exame de consciência e da direção espiritual pessoal – e a confiança no Senhor. Assim é possível superar as discrepâncias entre o que Deus pede e o próprio querer e agir.

1.3.3. Santificação do trabalho

A santificação do trabalho é o gonzo da santificação no meio do mundo, segundo o espírito do Opus Dei; além disso é, como São Josemaria dizia, condição sine qua non para o apostolado. Trata-se de trabalhar muito, com perfeição humana e com perfeição cristã. É preciso, além disso, trabalhar bem porque Deus quer que nos ocupemos do mundo que Ele mesmo criou (cfr. Gn 1, 27; 2, 15), para levar tudo o criado para Ele (cfr. Jo 12, 32).

Em primeiro lugar, trata-se de trabalhar com perfeição humana, quer dizer, cuidando das coisas pequenas, com ordem, intensidade, constância, competência e espírito de serviço e de colaboração com os outros; numa palavra, com profissionalismo.

Além disso, deve procurar-se a perfeição cristã, pondo Deus em primeiro lugar, pois a vocação profissional é parte essencial da vocação divina de cada homem (cfr. Amigos de Deus, n. 60). Trabalhando por amor a Deus e com desejo de servir os seus irmãos os homens, o cristão põe em exercício as virtudes humanas e, sobretudo a caridade, de maneira que não só se santifica ele próprio, mas santifica o próprio trabalho, que passa assim a ser autêntico meio de santidade.

Fruto direto da unidade de vida e do trabalho santificado será o apostolado. “Para o cristão, o apostolado é inerente: não é algo acrescentado, justaposto, externo à sua atividade diária, à sua ocupação profissional” (Cristo que passa, n. 122).

1.3.4. Piedade doutrinal

São Josemaria ensinava que a piedade é o remédio dos remédios: uma piedade profunda, “doutrinal”, pois sem doutrina a vida de intimidade com Jesus Cristo corre o perigo de ser superficial, meramente externa e sentimental.

Doutrina e piedade não podem existir separadamente: necessita-se de doutrina para alimentar a piedade e de piedade para vivificar a doutrina. Desta maneira, o cristão imerso nas atividades temporais conta com uma bagagem suficiente para alimentar a sua vida de oração e ao mesmo tempo para responder a quem lhe peça a razão da sua esperança (cfr. 1 Pe 3, 15), nos diferentes desafios da vida social e profissional. “Ainda que estejas a cair de velho, não me percas o cuidado de te formares cada vez melhor” (Sulco, n. 538).