"Totus tuus!"

O mês de maio começou com a beatificação de João Paulo II, que se abandonava na Virgem com estas palavras "Totus tuus ego sum!" (sou todo teu). Publicam-se algumas palavras do novo Beato sobre a Mãe de Deus.

Maria, a Mãe, está em contacto com a verdade do seu Filho unicamente na fé e pela fé. É, portanto, bem-aventurada, porque «acreditou» e acredita cada dia no meio de todas as provas e contrariedades, no período da infância de Jesus e depois durante os anos da Sua vida oculta em Nazaré. (Redemptoris Mater, 17)

Antes de ninguém, o próprio Deus, o eterno Pai, entregou-se à Virgem de Nazaré, dando-lhe o Seu próprio Filho no mistério da Encarnação (RM, 39)

Maria aceitou a escolha para Mãe do Filho de Deus, guiada pelo amor esponsal, que «consagra» totalmente uma pessoa humana a Deus. Em virtude deste amor, Maria desejava estar sempre, e em tudo, «entregue a Deus», vivendo a virgindade. As palavras «eis aqui a escrava do Senhor» expressam o facto de que, desde o princípio, ela acolheu e entendeu a própria maternidade como doação total de si, da sua pessoa, ao serviço dos desígnios salvíficos do Altíssimo. (RM, 39)

A maternidade de Maria, que se converte em herança do homem, é um dom; um dom que o próprio Cristo faz pessoalmente a cada homem. O Redentor confia Maria a João, na medida em que confia João a Maria. Aos pés da Cruz começa aquela entrega especial do homem à Mãe de Cristo, que na história da Igreja se exerceu e expressou posteriormente de modos diversos. (RM, 45)

A figura de Maria de Nazaré projeta luz sobre a mulher, enquanto tal, pelo próprio facto de que Deus, no sublime acontecimento da Encarnação do Filho, Se entregou ao ministério livre e ativo de uma mulher. Portanto, pode afirmar-se que a mulher, ao olhar para Maria, encontra nela o segredo para viver dignamente a sua feminilidade e para levar a cabo a sua verdadeira promoção. À luz de Maria, a Igreja lê no rosto da mulher os reflexos de uma beleza, que é espelho dos mais elevados sentimentos de que o coração humano é capaz: a oblação total do amor, a força que sabe resistir às maiores dores, a fidelidade sem limites, a laboriosidade infatigável e a capacidade de conjugar a intuição penetrante com a palavra de apoio e de estímulo. (RM, 46)

O Rosário ainda que se distinga pelo seu caráter mariano, é uma oração centrada na cristologia. Na sobriedade das suas partes, concentra em si a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é como que um compêndio.[2] Nele ressoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora no seu seio virginal (Rosarium Virginis Marie, 1).

[O Rosário] teve um lugar importante na minha vida espiritual desde tenra idade. Acompanhou-me nos momentos de alegria e nos de tribulação. A ele confiei tantas preocupações e nele sempre encontrei consolo. (...) Recitar o Rosário, com efeito, é na realidade contemplar com Maria o rosto de Cristo. (RVM, 2-3).

A contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável. O rosto do Filho pertence-lhe de um modo especial. Foi no seu ventre que se formou, tomando também d’Ela uma semelhança humana que evoca uma intimidade espiritual certamente ainda maior. Ninguém se dedicou com a assiduidade de Maria à contemplação do rosto de Cristo. (RVM, 10)

Cristo é o Mestre por excelência, o revelador e a revelação. Não se trata apenas de compreender as coisas que Ele ensinou, mas de 'O compreender a Ele'. Mas nisto, que mestra mais perita que Maria? Se no âmbito divino o Espírito é o Mestre interior que nos leva à plena verdade de Cristo (cf. Jo 14, 26; 15, 26; 16, 13), entre as criaturas ninguém melhor do que Ela conhece Cristo, ninguém como a Sua Mãe nos pode introduzir num conhecimento profundo do Seu mistério (RVM, 14).

A história do Rosário mostra como esta oração foi utilizada especialmente pelos Dominicanos, num momento difícil para a Igreja por causa da difusão da heresia. Hoje estamos perante novos desafios. Por que não voltar a tomar na mão as contas do Rosário com a fé dos que nos precederam? O Rosário conserva toda a sua força e continua a ser um recurso importante na bagagem pastoral de todo o bom evangelizador (RVM, 17).

«A plenitude dos tempos» manifesta a dignidade extraordinária da «mulher». (...) A «mulher» é a representante e arquétipo de todo o género humano, quer dizer, representa a humanidade que é própria de todos os seres humanos, sejam homens ou mulheres. Por outro lado, o acontecimento de Nazaré põe em evidência um modo de união com o Deus vivo, que é próprio apenas da «mulher», de Maria, isto é, a união entre mãe e filho. Com efeito, a Virgem de Nazaré converte-se na Mãe de Deus (Mulieris dignitatem, 4).

Cristo está sempre consciente de ser o «Servo do Senhor», segundo a profecia de Isaías (cf. 42, 1; 49, 3. 6; 52, 13), na qual se encerra o conteúdo essencial da Sua missão messiânica: a consciência de ser o Redentor do mundo. Maria, desde o primeiro momento da sua maternidade divina, da sua união com o Filho que «o Pai enviou ao mundo, para que o mundo se salve por Ele» (cf. Jo 3, 17), insere-se no serviço messiânico de Cristo(20). Este serviço constitui precisamente o próprio fundamento daquele Reino, no qual «servir» (...) quer dizer «reinar».(21) Cristo, «Servo do Senhor», manifestará a todos os homens a dignidade real do serviço, com o qual se relaciona diretamente a vocação de cada homem (MD, 5).

 

«Fez em mim maravilhas»: esta é a descoberta de toda a riqueza, do dom pessoal da feminilidade, de toda a eterna originalidade da «mulher» do modo que Deus a quis, como pessoa em si mesma e que ao mesmo tempo se pode realizar em plenitude «por meio da entrega sincera de si». (MD, 11)