«Todos querem ajudar, mas não sabem por onde começar»

Nos bairros próximos da Strathmore University (Nairobi, Quénia), muitos jovens necessitavam de apoio académico e oportunidades para crescer. Em 2012, um grupo de colaboradores da universidade, inspirados por São Josemaria, lançou o “Macheo”, um programa que mais tarde daria origem ao “Mawio” e ao “Sulwe”, iniciativas similares dirigidas a outros grupos em diferentes zonas.

Em 2012, vários professores e membros do pessoal não docente da Universidade de Strathmore deram-se conta de que, embora quisessem ajudar e ter um impacto mais profundo no mundo à sua volta, não sabiam por onde começar, nem a nível pessoal nem institucional. Essa inquietação suscitou novas perguntas: «Qual é o nosso ponto forte? Que é que sabemos fazer bem? Como podemos colocar as nossas capacidades ao serviço das pessoas neste nosso ambiente mais próximo?».

Algumas respostas foram imediatas: como universidade, era evidente que o seu ponto forte era a educação. Outras surgiram após algum tempo de busca. Por exemplo, a inspiração para transformar e elevar os outros, através da educação, veio de uma história publicada na Internet sobre uma iniciativa promovida do outro lado do mundo: “Centros de Excelência Midtown-Metro” (Midtown-Metro Achievement Centers).

Midtown-Metro, então com quase 50 anos de percurso, nasceu em 1965 em Chicago (Estados Unidos), graças a alguns fiéis e cooperadores do Opus Dei que queriam ajudar jovens em risco que moravam em bairros urbanos problemáticos. Midtown começou como um programa de verão de desporto e formação para doze rapazes, que depois se expandiu com um projeto paralelo para raparigas (Metro). Com o tempo, cresceu até se tornar um programa extracurricular e de férias que atende mais de mil rapazes e raparigas todos os anos.

O nascimento de Macheo

Aquele pequeno grupo de Strathmore deu então início ao que ficaria conhecido como “Macheo”, um programa de fim de semana e férias dirigido a estudantes do ensino secundário de três núcleos de povoamento informais próximos da universidade. O foco é académico: os estudantes vão a Strathmore aos sábados e durante as férias escolares para receber aulas de reforço em matemática e línguas, formação em competências práticas para a vida e acompanhamento pessoal por parte de professores e alunos universitários.

«Alguns jovens nunca tinham tido alguém que estivesse constantemente disponível para eles».

Conversamos com Michael, que trabalha há mais de 10 anos em “Macheo”, e partilha connosco histórias de alunos que, apesar de virem de ambientes muito difíceis, conseguiram romper com más influências, passar nos exames nacionais do ensino secundário e ingressar em instituições de ensino superior, e que atualmente têm empregos estáveis com os quais ajudam a motivar os seus irmãos e amigos.

Disse-nos que, obviamente, nem todos os casos parecem histórias de sucesso. Mas os daqueles que crescem humanamente, graças a “Macheo”, fazem com que todo o esforço valha a pena. A explicação está na constância: dedicar tempo, acompanhar, incentivar os alunos. Muitos nunca tinham tido alguém que estivesse a seu lado de forma estável, que os reconhecesse e se comprometesse com o seu desenvolvimento.

Nos seus 13 anos de existência, “Macheo” recebeu alguns prémios internacionais, mas Michael garante que os verdadeiros “galardões” são as pessoas transformadas pelo programa, que hoje fazem o bem nos seus próprios ambientes e comunidades.

“Mawio” é um programa para alunos do ensino básico no bairro de Westlands, Nairobi.

De Macheo a Mawio... e de Mawio a Sulwe

Macheo” inspirou outros projetos em diferentes locais e para diferentes grupos. Em 2024, a Strathmore School pôs em marcha “Mawio” (“amanhecer” em suaili, sinónimo de macheo) para alunos de contextos vulneráveis em Westlands, zona da sua dependência administrativa. Este programa dos sábados, dirigido a alunos mais jovens, visa melhorar o seu desempenho académico e criar uma rede de apoio também para as suas famílias.

E em 2025, a Regis Runda Academy, 15 km a nordeste de Strathmore School, iniciou “Sulwe” (“estrelas” em dholuo). Ali, um pequeno grupo de professores da Regis fez as mesmas perguntas que os de Strathmore e descobriu que a sua localização era a resposta.

«O colégio está estrategicamente localizado junto ao bairro de Githogoro – explica-nos Clifford Oluoch, diretor da Regis –, com quase 15 escolas para acompanhar e várias instituições privadas e internacionais com muito potencial para cooperar». Assim, decidiram construir pontes entre os colégios privados e as escolas dos bairros.

Assim que o programa começou, todos aderiram. «Todos querem ajudar – diz Clifford –, mas não sabem por onde começar. Os professores da Regis emocionam-se ao ver que algo está a ser feito... E os pais sentem que a escola pode fazer ainda mais».

O acolhimento favorável da comunidade permitiu que o programa seja totalmente gratuito: professores e alunos oferecem-se como voluntários, e a alimentação e o transporte estão totalmente cobertos.

Crescer dando

Algumas das suas melhores experiências, comenta Clifford, foram as visitas a casa de alunos da Regis, onde viu a gratidão dos pais cujos filhos participam como voluntários no Sulwe.

Michael concorda. Além dos professores e tutores, “Macheo” conta com estudantes universitários que disponibilizam o seu tempo para dar aulas e acompanhar os jovens. «É impressionante – diz ele – ver como o programa desperta neles uma consciência nova e um sentido de responsabilidade: reconhecem que, com 20 ou 21 anos, já têm algo valioso a oferecer ao mundo e, mais concretamente, a outras pessoas próximas».