Em novembro de 2024 o Papa Francisco propôs que no dia 9 de novembro de cada ano, festa da Dedicação da Basílica de São João Latrão, se recordassem os testemunhos de santidade das diversas igrejas particulares[1]. Não se trata de uma nova celebração litúrgica, mas de uma recordação dos exemplos de vida cristã que nos acompanharam. O dia escolhido, ao ser a Basílica de São João Latrão a sede do Bispo de Roma e portanto a “Mãe e Cabeça de todas as igrejas da Cidade e do Mundo”, dá uma tonalidade universal a esta recordação.
Dizia o Papa Francisco na carta que então escreveu: «Cada um pode reconhecer, em muitas pessoas que encontrou ao longo do caminho, testemunhas das virtudes cristãs, especialmente da fé, da esperança e da caridade: cônjuges que viveram fielmente o seu amor, abrindo-se à vida; homens e mulheres que, nas suas várias ocupações de trabalho, sustentaram as suas famílias e cooperaram na difusão do Reino de Deus; adolescentes e jovens que seguiram Jesus com entusiasmo; pastores que, mediante o seu ministério, infundiram os dons da graça sobre o santo povo de Deus; religiosos e religiosas que, vivendo os conselhos evangélicos, foram imagens vivas de Cristo esposo. Não podemos esquecer os pobres, os doentes, os sofredores que, na sua fragilidade, encontraram apoio no Mestre divino. Trata-se daquela santidade “diária” e “da porta ao lado” de que sempre foi rica a Igreja espalhada pelo mundo.
Somos chamados a deixar-nos estimular por estes modelos de santidade, entre os quais sobressaem, em primeiro lugar, os mártires que derramaram o seu sangue por Cristo e aqueles que foram beatificados e canonizados para ser exemplos de vida cristã e nossos intercessores. Pensemos depois nos Veneráveis, homens e mulheres cujo exercício heroico da virtude foi reconhecido; naqueles que, em circunstâncias singulares, fizeram da sua vida uma oferenda de amor ao Senhor e aos irmãos; bem como nos Servos de Deus cujas Causas de beatificação e canonização estão em curso. Estes processos mostram como o testemunho de santidade está presente também no nosso tempo, no qual brilham como estrelas as grandes testemunhas da fé (cf. Fl 2,15), que marcaram a experiência das Igrejas particulares e, ao mesmo tempo, fecundaram a história. Todos eles são nossos amigos, nossos companheiros de caminho, que nos ajudam a realizar plenamente a nossa vocação batismal, mostrando-nos o rosto mais belo da Igreja, que é santa e mãe dos Santos» (Francisco, Carta, 09/11/2024).
Quando a fama de santidade de pessoas que viveram entre nós é significativa e se manifesta numa convicção generalizada, pode iniciar-se o processo de canonização: a partir desse momento, essas pessoas são chamadas “servos de Deus”.
Quando neste processo o Dicastério para as Causas dos Santos, da Santa Sé, chega à declaração das virtudes heroicas, o servo de Deus passa a ser designado por “venerável”.
Com o reconhecimento de um milagre obtido por intercessão do venerável, fica aberta a possibilidade da beatificação, e com o reconhecimento de outro milagre, a canonização.
Recordar os Santos, Beatos, Veneráveis e servos de Deus relacionados com Portugal
Em Portugal, ao longo dos anos, foram muitos os exemplos de santidade que, de um modo ou de outro, marcaram a nossa história.
Faz-nos bem recordar as suas vidas. É um estímulo a que agora também nós saibamos enfrentar os desafios do nosso tempo e, com um testemunho muitas vezes escondido mas real, dêmos um contributo para que a verdade de Cristo e do Evangelho continue a fecundar a sociedade e a cultura.
Santos
São 118 os santos que viveram em território que corresponde a Portugal ou tiveram alguma relação próxima.
Desde os primórdios do cristianismo, encontramos Santos Lusitanos, como
- São Pedro de Rates, primeiro Bispo de Braga, martirizado no ano 60
- São Vicente, martirizado em Valência no ano 304
- São Martinho de Dume (518-579), o Apóstolo dos Suevos, 12º Arcebispo de Braga;
Santos Portucalenses, como
- São Geraldo († 1108), Arcebispo de Braga
Santos propriamente portugueses:
- o primeiro foi São Teotónio (1082–1162), fundador do Mosteiro de Santa Cruz
- Santo António de Lisboa (1191–1231), Doutor da Igreja e místico
- Rainha Santa Isabel (1271–1336), Rainha de Portugal
- São Nuno de Santa Maria (1360–1431), o Santo Condestável
- Santa Beatriz da Silva (1424–1492), Fundadora da Ordem da Imaculada Conceição
- São João de Deus (1495–1550), Fundador da Ordem Hospitaleira
- São Francisco Xavier (1506–1552), missionário jesuíta, Apóstolo do Oriente
- São Bartolomeu dos Mártires (1514–1590), Arcebispo Primaz de Braga
- São João de Brito (1647–1693), Mártir da Índia
- São José Vaz (1651–1711), Apóstolo do Ceilão
- e já no século XX São Francisco Marto (1908-1919) e Santa Jacinta Marto (1910-1920), Pastorinhos de Fátima.
Beatos
Há 62 beatos que nasceram ou viveram em Portugal, desde a fundação da nacionalidade. Desses destacamos:
- Beato Gonçalo de Amarante (1187–1262), presbítero e religioso (OP)
- Beata Joana Princesa (1452–1490), Princesa de Portugal
- Beata Teresa de Portugal (1176–1250), Rainha de Leão, Infanta de Portugal
- Beata Sancha de Portugal (1180–1229), Infanta de Portugal, monja cisterciense
- Beata Mafalda de Portugal (1195–1256), Infanta de Portugal, Abadessa do Mosteiro de Arouca
- Beato Gonçalo de Lagos (1360–1442), frade agostinho
- Beato Inácio de Azevedo e companheiros († 1570), missionários jesuítas, Mártires do Brasil
- Beato João Baptista Machado e companheiros († 1617), Mártires do Japão
- Beata Maria do Divino Coração (1863–1899), Mensageira do Sagrado Coração de Jesus
- Beata Alexandrina de Balazar (1904–1955), virgem e mística
- Beata Rita Amada de Jesus (1848–1913), Fundadora do Instituto das Irmãs de Jesus Maria José
- Beato Carlos de Áustria (1887–1922), Imperador da Áustria, promotor da Paz e defensor da Doutrina Social da Igreja
- Beata Maria Clara do Menino Jesus (1843–1899), fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição
- Beato Mário Félix e Beato Manuel Fernández-Herba Pereira († 1936), Mártires da Guerra Civil Espanhola
Fiéis com causa de canonização
Entre os muitos fiéis portugueses com causa de canonização em curso, destacamos:
Veneráveis
- Venerável Irmã Lúcia (1907–2005), vidente das Aparições de Fátima
- Venerável D. João de Oliveira Matos (1879–1962), Bispo Auxiliar da Guarda
- Venerável D. António Barroso (1854–1918), missionário, Bispo do Porto
- Venerável Madre Luiza Andaluz (1877–1973), fundadora da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima
- Venerável Mons. Joaquim Alves Brás (1899–1966), fundador da Obra de Santa Zita e do Instituto Secular das Cooperadoras da Família
- Venerável Padre Américo (1887–1956), fundador da Casa do Gaiato
- Venerável Madre Teresa de Saldanha (1837-1916), fundadora da Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena
- Venerável Mons. Albino Alves da Cunha e Silva (1882–1973), natural do Minho, desenvolveu um trabalho social no Brasil
- Venerável Pe. Manuel Formigão (1883-1958), conhecido como o apóstolo de Fátima
- Venerável Sílvia Cardoso (1882-1950), leiga
Servos de Deus
- D. Manuel Mendes da Conceição Santos (1876–1955), Arcebispo de Évora
- Pe. Gregório Verdonk (1904-1980), padre das Missões Paroquiais do Patriarcado de Lisboa
- Padre Cruz (1959-1948)
- Guilherme Braga da Cruz (1916-1977), Reitor da Universidade de Coimbra
- Irmã Maria Rita de Jesus (1885-1965), religiosa da Congregação das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora
- Madre Maria do Lado (1605-1632), da Ordem das Clarissas
- Maria da Conceição de Pimentel Teixeira - Sãozinha de Alenquer (1923-1940), leiga
Pode consultar-se uma lista dos santos portugueses.
Em relação ao Patriarcado de Lisboa pode consultar-se Caminhos de santidade.
Recordar os Santos, Beatos, Veneráveis e servos de Deus do Opus Dei
A missão da Prelatura do Opus Dei é a promoção, entre fiéis cristãos de toda a condição, de uma vida coerente com a fé nas circunstâncias comuns da existência e principalmente através da santificação do trabalho. A difusão da mensagem do chamamento universal à santidade na vida corrente faz-se em primeira instância pelo empenho dos fiéis do Opus Dei em viver pessoalmente essa mensagem, dentro das limitações e erros pessoais.
Ao longo dos seus quase cem anos de existência, houve muitos homens e mulheres, leigos e sacerdotes, que com simplicidade deixaram um rasto de bem, deram um exemplo da santidade “da porta ao lado”. Dos que se destacaram mais, as pessoas que os conheceram promoveram o processo de canonização.
Ao ser o Opus Dei “uma pequena parte da Igreja”, também queremos, em união com toda a Igreja, recordar esses testemunhos de santidade que surgiram no âmbito do Opus Dei.
Santos
- São Josemaria Escrivá (1902-1975), sacerdote e fundador do Opus Dei.
- Beato Álvaro del Portillo (1914-1994), sacerdote e bispo, colaborador de São Josemaria e primeiro sucessor à frente do Opus Dei.
- Beata Guadalupe Ortiz de Landázuri (1916-1975), uma das primeiras mulheres do Opus Dei, doutorada em Química, começou o trabalho apostólico do Opus Dei no México.
Fiéis do Opus Dei com causa de canonização em curso
Veneráveis
- Venerável Ernesto Cofiño (1899-1991), médico pediatra e pai de família numerosa na Guatemala.
- Venerável Montse Grases (1941-1959), jovem Espanhola que enfrentou com heroicidade uma dolorosa doença que lhe causou a morte.
- Venerável Isidoro Zorzano (1902-1943), engenheiro de grande prestígio e um dos primeiros fiéis do Opus Dei, que ajudou com heroicidade São Josemaria e outros fiéis da Obra durante a Guerra Civil Espanhola.
Servos de Deus
- Pe. José Luis Múzquiz (1912-1983), sacerdote, colaborou na expansão do Opus Dei em vários países, principalmente nos Estados Unidos da América
- Dora del Hoyo (1914-2004), primeira numerária auxiliar do Opus Dei
- Toni Zweifel (1938-1989), engenheiro suíço
- Tomás e Paquita Alvira, casal de supranumerários do Opus Dei, transmitiram aos filhos e a muitas outras pessoas um exemplo de vida cristã
- Pe. José María Hernández Garnica (1913-1972), sacerdote, colaborou na expansão do Opus Dei em vários países da Europa
- Eduardo e Laurita Ortiz de Landázuri, casal de supranumerários do Opus Dei, formaram uma família alegre e numerosa.
- Encarnita Ortega, ajudou São Josemaria a estender o Opus dei entre as mulheres
- D. Juan Ignacio Larrea Holguin (1927-2006), Bispo do Equador, primeiro equatoriano a entrar para o Opus Dei
- D. Adolfo Rodríguez Vidal (1920-2003), Bispo, começou o trabalho apostólico do Opus Dei no Chile
- Marcelo Câmara (1979-2008), jurista brasileiro
- Pedro Ballester (1996-2018), estudante britânico
[1] cf. https://www.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2024/documents/20241109-lettera-chiese-particolari.html

