Após as décadas do frio inverno soviético, a Igreja católica na Estónia está ressurgindo. Prova disso é a ordenação, em 10 de Setembro, de seu primeiro bispo após a Segunda Guerra Mundial, D. Philippe Jourdan.
O anterior arcebispo católico residente na Estónia foi Dom Eduard Profittlich S.J., martirizado em 1942 no campo de concentração soviético de Kirov.
Nesta entrevista concedida a Zenit, Dom Jourdan, de 45 anos, de origem francesa, confessa seus desafios e esperanças.
--Quais são os principais desafios para a Igreja católica na Estónia?
Em certa medida, tudo é um desafio para a Igreja católica e para o cristianismo em geral em um país como a Estónia. Depois de vários séculos de proibição ou limitações, a Igreja só pôde reiniciar livremente sua actividade nos anos vinte do século passado, actividade que foi rapidamente impedida pela invasão soviética. Depois de quinze anos de liberdade, mas também de uma forte influência materialista vinda do Ocidente, tão só 30% dos estonianos se consideram crentes, e uma pequena parte católica.
Mas para nós isto poderia ser também uma oportunidade. O cristianismo nos Países Bálticos sofreu sempre por ser considerado como importado e, em certa medida, imposto por uma potência ocupante, já Alemanha, Suécia ou Rússia. A situação actual não se parece em nada à da Idade Média, recorda mais à situação dos primeiros cristãos do Baixo Império Romano. Nós também somos uma pequena minoria, em meio de uma sociedade muito secularizada e apressada pela dúvida e todo tipo de medo.
Corresponde-nos mostrar que o cristianismo não se impõe com a espada e o fogo, como dizia uma certa propaganda, mas com o amor e a paz.
--Como são as relações com o restante das confissões cristãs?
A Igreja católica forma parte do Conselho das Igrejas da Estónia, do qual actualmente sou vice-presidente. Tentamos oferecer um testemunho comum de vida cristã. De fato, meu lema episcopal, inspirado nas obras de São Josemaria, «Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam», quer afirmar as paixões que temos em comum com os protestantes e os ortodoxos, a busca de Cristo, o amor por sua Mãe, assim como o desejo ainda não realizado de que sejamos um dia um só rebanho com um só pastor.
--Como foi acolhida a notícia de sua ordenação episcopal pelas autoridades do país?
Superou todas minhas expectativas. O presidente da República, seu predecessor, o primeiro-ministro e vários ministros honraram-nos com sua presença. E creio que esta presença era sumamente significativa. O principal jornal do país atreveu-se a dizer que se traduzia em uma «expectativa» do povo estoniano.
Peçamos a Deus que esta expectativa cresça e que saibamos responder a ela. O mais extraordinário foi a relação de muitas pessoas, católicas e também luteranas, ortodoxas ou sem religião, uma relação cheia de carinho e de alegria pelo fato de que finalmente há um bispo católico residente na Estónia depois de setenta anos. Esta ordenação foi um sinal de uma esperança cristã viva e entusiasta. É o que impressionou mais profundamente a sociedade estoniana.
--Como é possível testemunhar a Cristo após as décadas de doutrinamento ateu?
Antes de tudo graças ao heroísmo de sacerdotes, religiosos e leigos que mantiveram a chama da fé durante os duros anos da ocupação soviética. Penso em particular em meu predecessor, o arcebispo Eduard Profittlich S.J. falecido em 1942 nos campos soviéticos. Depois, a partir da independência, graças à abnegação e ao sacrifício de nossos sacerdotes, religiosos e leigos que, em circunstâncias difíceis tanto material como espiritualmente, voltaram a dar vida com paciência às paróquias, em sua grande maioria destruídas, retomaram o contacto com as famílias católicas, acolheram e formaram os catecúmenos, ministraram os sacramentos, etc.
Este trabalho continua actualmente apesar dos poucos meios com que contamos. Com frequência, o que colhe não é o que semeia. Mas a recompensa que esperamos é a que Deus dá. Por este motivo, vemos o futuro da Igreja católica na Estónia com uma grande esperança. Em certo sentido, é a comunidade católica mais recente na Europa.
--Há vocações?
O problema da Igreja católica em todos os países da Europa luterana é certamente o pequeno número de vocações autóctones. É também o problema da Igreja na Estónia. Ao mesmo tempo, se prestarmos atenção, começam a dar-se sinais de esperança. De nosso pequeno número de católicos saíram já três sacerdotes estonianos, dois monges, um seminarista, sem esquecer dois sacerdotes dominicanos originários da minoria de fala russa. Proporcionalmente mais que na Europa ocidental! Por vários motivos, a maioria deles se encontra nestes momentos fora da Estónia, mas podemos tirar a conclusão de que a ideia de entregar-se a Deus não é algo alheio a nossos jovens católicos.
Certamente os leitores de Zenit podem ajudar-nos pedindo ao Senhor ao menos dez seminaristas para a Estónia.